Rashid al-Hadad tornou-se viral no TikTok. O houthi de 19 anos gravou um vídeo a aproximar-se da embarcação Galaxy Leader, capturada pelos houthis iemenitas em Novembro.
Mesmo que o vídeo tenha ganhado visibilidade devido à aparência de Rashid, entretanto baptizado “hot pirate” (pirata atraente, em português), há quem se tenha interessado em conhecer melhor não só a história de Rashid, mas também a dos piratas houthis iemenitas. Ainda que não haja certezas se ele é de facto um pirata.
Voltemos ao início. Em Novembro último, os houthis capturaram um navio no mar Vermelho, alegando que este era israelita, e avisando que o mesmo iria acontecer aos restantes navios ligados a Israel que por ali passassem, provocando um embargo enquanto o país continuasse a atacar Gaza.
Esta embarcação em particular, a Galaxy Leader, que tinha como destino a Índia e conta com 25 membros da tripulação, pertence à empresa japonesa Nippon Yusen e à Ray Shipping, parcialmente detida pelo israelita Rami Ungar.
Os ataques a navios internacionais, alguns com recurso a mísseis e drones, começaram a ter impacto no comércio marítimo e levaram empresas a optar por rotas mais longas: quem quisesse evitar os houthis, em vez de usar o Canal de Suez teria de descer ao Cabo da Boa Esperança, o que demora quase dez dias mais e encarece as matérias-primas, os produtos transportados e aumenta o preço do petróleo.
Foi neste contexto que os Estados Unidos e o Reino Unido começaram a bombardear posições dos houthis no Iémen.
Enquanto isso, o Galaxy Leader continua ancorado e a servir de ponto turístico. Os iemenitas sobem a bordo do navio, agora com a bandeira do Iemén hasteada (e a de Israel e dos Estados Unidos a servir de tapete), para conhecer o navio capturado.
Foi assim que Rashid se tornou famoso. Publicou um vídeo num pequeno barco que se dirigia ao Galaxy Leader, que rapidamente começou a ser partilhado: “Os piratas iemenitas a publicarem casualmente no TikTok, enquanto todo o núcleo imperialista ocidental tem um colapso por causa do bloqueio aos seus navios é a coisa mais engraçada de 2024”, escreve uma página de apoio a Rashid.
Mas se a Internet começou por ficar obcecada pela aparência de Rashid e nas parecenças que alguns encontraram entre Rashid e Timothée Chalamet (baptizaram-no entretanto Tim-Houthi Chalamet), Rashid já pediu para esquecerem a questão da beleza e se concentrarem no mais importante: o fim do ataque a Gaza.
Esta terça-feira foi convidado para uma live do streamer Hasan Piker, e com ajuda de um intérprete, o houthi fez questão de sublinhar, por várias vezes, que as suas motivações se prendiam unicamente com o apoio à Palestina.
Não disse em nenhum momento pertencer às forças armadas do Iémen, disse apenas que era um “iemenita que está solidário com a Palestina”, ainda que um vídeo publicado no Instagram possa indicar alguma ligação aos militares.
Reiterou que “a intercepção dos barcos” serve para causar transtorno nas embarcações que os EUA têm interesse, até que haja um cessar-fogo em Gaza. “Estamos solidários com a Palestina”, repetiu várias vezes, sublinhando também que só irá “descansar” quando a Palestina for livre.
Questionado por Hasan sobre como se sentia em relação aos bombardeamentos americanos, Rashid disse estar habituado e não ter medo. “As pessoas no Iémen estão orgulhosas por estarmos a enfrentar os EUA”, atirou.
Sobre o Galaxy Leader e as capturas de barcos, referiu apenas que o fazia por “gostar de aventuras”. Garantiu que conseguiram conquistar a tripulação, que agora "detesta a América" e que dançou com o comandante chinês.
“Como é que os teus pais reagiram a isto tudo?”, perguntou o streamer. “Normal, não houve grande reacção”, desvalorizou Rashid, que, ao longo da conversa de uma hora, foi sempre respondendo de forma curta e descontraída. A mensagem preponderante foi “estamos com a Palestina”.
Esta quarta-feira à noite, o exército norte-americano confirmou ter levado a cabo mais um ataque contra posições dos houthis no Iémen, o quarto bombardeamento contra o grupo desde a passada sexta-feira. O bombardeamento aconteceu no seguimento de um ataque ao navio graneleiro norte-americano Genco Picardy.
"As forças navais não hesitarão em atingir todas as fontes de ameaça no mar Vermelho e no mar Arábico, ao abrigo do legítimo direito à defesa do Iémen e para continuar o apoio ao povo palestiniano oprimido", justificou o porta-voz dos houthis, Yahya Sarea, em comunicado.