Novas imagens revelam as rupturas no solo dos sismos da Turquia em 2023

Investigação científica apresenta o “mapa mais pormenorizados de sempre de um grande terramoto continental” e imagens da ruptura à superfície da crosta do sismo de 6 de Fevereiro de 2023 na Turquia.

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Deformação superficial da crosta terrestre provocada pelos sismos na Turquia de 6 de Fevereiro de 2023,Deformação superficial da crosta terrestre provocada pelos sismos na Turquia de 6 de Fevereiro de 2023 Jiannan Meng,
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Deformação superficial da crosta terrestre provocada pelos sismos na Turquia de 6 de Fevereiro de 2023,Deformação superficial da crosta terrestre provocada pelos sismos na Turquia de 6 de Fevereiro de 2023 Jiannan Meng
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Imagem obtida de drone da ruptura superficial na localidade de Cigli, tirada 16 dias após os sismos Jiannan Meng
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Imagem obtida de drone da ruptura superficial da crosta terrestre tirada 30 dias após os sismos Jiannan Meng
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Várias imagens da ruptura na crosta terrestre causada pelos dois sismos de 6 de Fevereiro de 2023, no Leste da Turquia, acabam de ser divulgadas por uma equipa internacional de geólogos, trazendo mais informações sobre o movimento pormenorizado das placas tectónicas. Numa investigação publicada esta quinta-feira na revista Science, a equipa apresenta o que considera ser o “mapa mais pormenorizado de sempre de um grande terramoto continental”, destaca um comunicado da Universidade de Geociências da China.

A equipa de geólogos viajou para o Leste do território turco um dia depois dos sismos de magnitude 7,8 e 7,6 graus, que abalaram o Sul da Turquia e o Norte da Síria. O trabalho no terreno permitiu aos cientistas da Universidade de Geociências da China, dos Serviços Geológicos dos Estados Unidos e da Universidade Técnica do Médio Oriente apresentar agora novas informações sobre o que aconteceu na crosta terrestre a 6 de Fevereiro na Turquia.

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Ruptura superficial da crosta terrestre nos sismos de 6 de Fevereiro de 2023 Jiannan Meng

“Este foi um evento sísmico complexo. Foi um evento duplo no qual duas falhas próximas romperam com um intervalo de nove horas, gerando primeiro um sismo com uma magnitude de 7,8 e depois um segundo sismo com magnitude 7,8”, começa por explicar ao PÚBLICO o geólogo João Duarte, da Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa. “Este evento sísmico duplo é o maior ocorrido em crusta continental desde que há registos”, destaca ainda o geólogo português, que não esteve envolvido neste trabalho.

“Dois sismos seguidos são muito perigosos, pois o primeiro sismo danifica as construções (fragilizando-as) e, assim, o segundo sismo tem o potencial para causar grande destruição”, comenta ainda João Duarte.

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Ruptura superficial da crosta terrestre provocada pelos sismos de 6 de Fevereiro de 2023 Jiannan Meng

Com o epicentro nas proximidades das cidades turcas de Nurdağı e de Gaziantep, perto da fronteira com a Síria, os sismos foram também sentidos nos territórios do Líbano, Chipre e Israel. Na Turquia e na Síria, a vasta onda de destruição causou mais de 50 mil mortes e 100 mil feridos, juntamente com um prejuízo económico superior a 100 mil milhões de dólares (92 mil milhões de euros), lê-se no artigo na revista Science.

A análise da deformação da superfície terrestre de ambos os sismos permitiu assim aos geólogos rastrear em pormenor a sequência da ruptura da crosta terrestre, num local em que existe uma tripla junção de placas – entre as placas da Anatólia, Arábia e África.

Os novos dados mostram que a sequência da ruptura começou lentamente na fronteira das placas entre a África e a Arábia. Depois, quando a ruptura da crosta terrestre atingiu a fronteira de placas da Arábia com a Anatólia, foi como “se uma bala tivesse atingido uma bomba” e activou todo o sistema de falhas do Leste da Anatólia, explica-se no comunicado. O resultado foi uma destruição de grandes dimensões.

“Este trabalho combina dados de GPS, imagens de radar e ópticas – obtidas por satélite antes e depois dos sismos – e registos de estações sísmicas, de modo a construir um modelo de alta resolução espacial e temporal da forma como estas duas falhas se moveram e dos seus efeitos, por exemplo em termos de vibração do solo”, explica ainda João Duarte sobre o trabalho publicado na Science.

Ao modelo de alta resolução espacial e temporal, acrescentam-se ainda as fotografias de drone na localidade Çiğli, na zona da cidade turca de Esmirna, tiradas pelos cientistas, por exemplo, 16 dias após ambos os terramotos. Nas imagens, é possível verificar as rupturas expostas no solo terrestre e o impacto dos sismos nas infra-estruturas e na paisagem agrária turca.

“O que se vê é a ruptura superficial da falha que se moveu em profundidade. Estas falhas podem ter centenas de quilómetros de extensão e dezenas de quilómetros de profundidade e, geralmente, um lado move-se em relação ao outro alguns metros. Neste caso, deslocamento à superfície alcançou cerca de cinco metros”, esclarece o geólogo português.

A raridade das imagens do sismo da Turquia

“Estas imagens são sempre impressionantes e ainda são relativamente raras. A raridade das imagens deve-se, em parte, ao facto da maioria dos grandes sismos ocorrer no fundo do mar e também porque apenas recentemente qualquer pessoa consegue ter acesso a boas câmaras de telemóvel ou drones. Apenas na última década foi possível ter dezenas ou centenas de boas imagens de um determinado sismo”, informa João Duarte. “Como estes grandes sismos em terra são relativamente raros, estas imagens ainda nos impressionam sempre que as vemos.”

As imagens da crosta rompida pelo sismo, destaca ainda João Duarte, servem ainda para ajudar a compreender as causas e os efeitos dos sismos. “Os sismos resultam do movimento brusco – que podem durar entre alguns segundos a poucos minutos – ao longo de falhas tectónicas após um período longo (de anos ou séculos), durante o qual se vão acumulando tensões, sem que haja movimento”, explica. Há assim um padrão cíclico nos sismos: “Tendem a repetir-se no tempo, em intervalos mais ou menos regulares.”

Embora haja um padrão cíclico, é muito difícil dizer com exactidão quando acontecerá o próximo sismo. “A maior parte das falhas têm geometrias complexas – com curvas bruscas e zonas ramificadas –, o que torna a regularidade meramente estatística. Ou seja, conseguimos dizer apenas aproximadamente de quanto em quanto tempo é provável ocorrer um sismo e até conseguimos estimar a magnitude esperada. Mas é muito difícil dizer exactamente quando o próximo sismo vai ocorrer. A previsão é geralmente dada sob a forma de uma probabilidade.”

As lições tiradas de sismos grandes como os da Turquia a 6 de Fevereiro de 2023 são, por isso, importantes para os cientistas. “Este tipo de trabalhos pode ajudar a tentar melhorar estas previsões, assim como ajudar a compreender o risco sísmico da região em causa e de outras zonas do globo equivalentes. Estes estudos são também vitais para ajudar os engenheiros a desenhar edifícios mais robustos e sismo-resistentes”, remata o geólogo português.

Texto editado por Teresa Firmino

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