O manto de gelo da Gronelândia perdeu 5091 quilómetros quadrados entre 1985 e 2022, de acordo com um estudo publicado na revista Nature na quarta-feira. Trata-se da primeira estimativa completa de perda dessa área gelada nessa escala. Esta superfície gelada que se perdeu ao longo das décadas corresponde ao dobro da área correspondente ao Luxemburgo.
Este decréscimo da área total do manto de gelo corresponde à perda de 1034 giga toneladas de gelo à medida que os glaciares "emagreciam" por meio da libertação de pedaços de gelo das extremidades.
O estudo é também o primeiro a estimar de forma precisa quanto gelo a Gronelândia perdeu devido especificamente ao recuo glacial. O artigo sugere ainda que as estimativas anteriores de alterações no balanço de massa da camada de gelo da Gronelândia - ou seja, a relação entre a quantidade de neve e gelo que são acumulados todos os anos e a quantidade que é perdida - subestimaram essas perdas em até 20%, retirando importância ao "emagrecimento" dos glaciares.
O estudo recorreu a ferramentas de inteligência artificial e a mais de 200.000 imagens de satélite e para analisar as mudanças na posição dos glaciares ao longo do tempo.
"Na Gronelândia, vemos que nos limites [dos glaciares] há áreas onde tudo está simplesmente a recuar e desmoronar", avisa o co-autor do estudo Alex Gardner, cientista Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA, a agência espacial norte-americana. “Os métodos anteriores não eram tão bons para medir essa mudança na camada de gelo. Mas a mudança é enorme", acrescenta o investigador.
O manto de gelo da Groenlândia é um dos dois mantos de gelo que ainda existem no mundo, sendo que o outro está no continente Antárctico. Composto por centenas de geleiras, cobre cerca de 80% da massa terrestre da Groenlândia. Se totalmente derretido, o manto de gelo da Gronelândia aumentaria o nível global médio do mar em cerca de 7,4 metros.
Com as alterações climáticas a aquecer o Árctico quatro vezes mais rapidamente do que o resto do mundo, os cientistas dizem que é inevitável que o derretimento da camada de gelo da Gronelândia aumente o nível do mar em pelo menos 27 centímetros devido ao aquecimento que já ocorreu.
A nova estimativa da perda de gelo devido ao recuo glacial teria pouco impacto nos níveis globais do mar, disseram os cientistas, mas um grande impacto na circulação oceânica. Essa quantidade adicional de água doce no oceano salgado poderia fortalecer as correntes costeiras em torno da Gronelândia e ajudar a enfraquecer a Circulação Meridional do Atlântico, que move a água de Norte a Sul e traz calor à Europa.