Europa: reduzir 90% das emissões até 2040 e eliminar pegada da indústria até 2050?

Com eleições para o PE em Junho, este objectivo deverá testar o apetite político para continuar a ambiciosa agenda verde da Europa. A UE quer ainda eliminar a pegada de carbono da indústria até 2050.

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Nuvens de fumo saem de chaminés na zona industrial de Patras, na Grécia Ocidental Alexandros Maragos/GettyImages
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A Comissão Europeia vai recomendar que a UE reduza as suas emissões líquidas de gases com efeito de estufa em 90% até 2040, a partir dos níveis de 1990, para garantir que o bloco possa atingir emissões líquidas zero uma década depois, disseram à Reuters fontes ligadas a este tema. Entretanto, a União Europeia também elaborou uma versão preliminar de um plano que visa capturar e armazenar centenas de milhões de toneladas de emissões de CO2 até 2050

A União Europeia está a elaborar o seu primeiro objectivo climático para 2040, para colmatar a lacuna entre os seus objectivos actuais de reduzir as emissões líquidas em 55% até 2030 e atingir emissões líquidas nulas até 2050.

Com as eleições para o Parlamento Europeu em Junho, o novo objectivo deverá testar o apetite político para continuar a ambiciosa agenda verde da Europa – que está a enfrentar a resistência de alguns governos e indústrias preocupados com os custos, mesmo quando as alterações climáticas desencadeiam um calor mais destrutivo, inundações e incêndios florestais em toda a Europa.

A Comissão Europeia vai apresentar a sua recomendação para uma meta de redução de 90% das emissões para 2040 no dia 6 de Fevereiro, disseram as fontes à Reuters. Segundo as mesmas, a apresentação da UE irá expor os custos crescentes que as alterações climáticas estão a infligir à Europa e os benefícios que uma redução de 90% das emissões até 2040 poderá trazer – incluindo a redução da factura europeia de combustíveis fósseis importados.

Apoio à indústria

Bruxelas irá delinear as opções para ajudar cada sector a cumprir o objectivo de 2040 – com especial destaque para o apoio à competitividade das indústrias europeias, a geminação de financiamento público e privado para apoiar projectos de produção com baixas emissões de carbono e a criação de emprego, numa altura em que a Europa corre para competir com a China e os EUA, disseram as fontes.

Embora a Comissão deva recomendar o objectivo climático para 2040 no próximo mês, caberá à nova Comissão Europeia, formada após as eleições europeias, apresentar uma proposta final para transformar o objectivo em lei. A aprovação dos anteriores objectivos climáticos da UE exigiu a aprovação unânime dos 27 líderes dos países da UE.

Uma redução de 90% das emissões até 2040 estaria em conformidade com o objectivo de 90%-95% recomendado pelos conselheiros oficiais da UE em matéria de clima.

Na quinta-feira, os conselheiros instaram a UE a não travar as suas políticas climáticas, mas a considerar novas acções para atingir o objectivo de 2040 – incluindo a fixação de um preço para as emissões da agricultura após 2030.

Países como a Dinamarca, a Polónia e a Bulgária mostraram-se abertos a um objectivo de redução de 90% das emissões até 2040.

Outros mostraram-se mais cautelosos. A secretária de Estado do Ambiente da Hungria, Aniko Raisz, recusou-se a confirmar se o país apoiaria uma redução de 90% das emissões e afirmou que o objectivo para 2040 deve ser "realista".

Plano para eliminar a pegada de carbono da indústria até 2050

Enquanto isto, um documento preliminar da União Europeia aborda os seus planos para capturar e armazenar centenas de milhões de toneladas de emissões de CO2 até 2050, para garantir que as indústrias possam cumprir os objectivos da Europa em matéria de alterações climáticas.

Para atingir o objectivo de zero emissões líquidas da UE em 2050, as empresas terão de mudar para energia verde e alterar os seus métodos de produção. Para os sectores que não dispõem de tecnologias para o fazer, as suas emissões remanescentes terão de ser capturadas, para evitar que atinjam a atmosfera e alimentem o aquecimento global.

Até 2050, a UE terá de capturar até 450 milhões de toneladas de CO2 por ano, de acordo com a versão preliminar do plano da Comissão Europeia, visto pela Reuters.

"Até à mesma data, a maior parte das restantes emissões das indústrias da UE terão de ser capturadas e armazenadas, em especial nos sectores do cimento e dos produtos químicos", diz o projecto. A UE emitiu 3,6 mil milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2022, segundo dados oficiais.

A maior parte do CO2 capturado em 2050 será armazenado permanentemente no subsolo. Parte será utilizada em processos industriais como o fabrico de produtos químicos.

De acordo com o projecto, 100 milhões de toneladas de CO2 capturado até 2050 seriam capturados no sector da energia, a partir de centrais eléctricas que utilizam combustíveis fósseis emissores de CO2 ou fontes "biogénicas" como os resíduos orgânicos.

Chris Davies, director do grupo de campanha CCS Europe, afirmou que a falta de apoio político fez com que a UE tivesse de recuperar o atraso para poder expandir rapidamente a tecnologia. A UE não tem projectos de armazenamento de CO2 em funcionamento. "A maioria dos governos simplesmente fez o possível para colocar esta questão numa posição 'demasiado difícil'", disse Davies, um antigo legislador da UE.

A Comissão recusou-se a comentar esta versão preliminar do documento, que foi inicialmente divulgado pela Bloomberg News. O plano refere que a construção de infra-estruturas de captura e armazenamento de carbono nesta década exigirá fundos comunitários e nacionais.