Cavaco recorre à ironia para comparar dois anos do seu Governo com oito do PS
Trata-se do primeiro de dois textos publicados pelo ex-Presidente da República no Observador. Segunda parte será divulgada na terça-feira e será dedicada ao pecado da “arrogância política”.
O antigo primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva assina esta quarta-feira um texto no Observador, no qual compara, com ironia, os seus dois últimos anos de Governo nos anos de 1990 com os últimos oito do executivo socialista.
Trata-se do primeiro de dois textos publicados pelo também ex-Presidente da República no Observador. A segunda parte do artigo será divulgada na próxima terça-feira e será dedicada ao pecado da "arrogância política".
"Com a falta de humildade e a vaidade que me são atribuídas digo que estou absolutamente convencido de que, nessa década, por acção dos meus governos, o desenvolvimento de Portugal, em todas as suas dimensões, deu um salto em frente que muito surpreendeu a União Europeia e que, depois, em nenhuma outra década foi alcançado resultado semelhante", começa por dizer.
No texto, Cavaco Silva lembra o programa de erradicação das barracas das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, a conclusão do troço do IP4, para completar ligação entre Amarante e Bragança, a construção da Ponte de Freixo (no Porto) e da Ponte Vasco da Gama (Lisboa), o lançamento do concurso internacional para a introdução do comboio na Ponte 25 de Abril e, entre outros, a promoção para a criação da Portugal Telecom.
"O que fica escrito é suficiente para demonstrar que é compreensível que afamados analistas e cronistas políticos pensem que era natural que os ministros do governo sentissem alguma fadiga física, tal a dimensão da obra realizada nos últimos dois anos da minha década de primeiro-ministro, quando comparada com a dos oito anos do actual poder socialista", observa.
Cavaco Silva afirma ainda que os "afamados analistas e cronistas políticos" que dizem que o seu Governo estava "cansado e arrogante" queriam "certamente exprimir a ideia de que tinha sido de tal dimensão a obra realizada nesse período final que era natural" que os membros do seu Governo "sentissem alguma fadiga física".
"A minha satisfação por esta obra é tanto maior, quanto ela foi realizada num tempo em que o Governo enfrentou uma forte oposição política, uma legítima, outra menos legítima", salienta.
O antigo governante recordou também "a arrogância política e a vaidade" com que, em 26 de Abril de 1995, no final da cerimónia de inauguração da fábrica de automóveis da Autoeuropa, conduziu "um veículo nela produzido, dando uma volta à pista de ensaios".
"Faltavam seis meses para cessar as funções de primeiro-ministro", indicou, questionando "quando é que chega o outro projecto do tipo Autoeuropa de que o poder socialista tem falado".