A Sociedade da Neve: um mau filme americano feito por europeus

Eles sobrevivem, o cinema não. A Sociedade da Neve, do espanhol J.A. Bayona, está disponível na Netflix.

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O filme A Sociedade da Neve está disponível na Netflix
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A história contada por A Sociedade da Neve é uma história específica e particular, e razoavelmente famosa sobretudo a partir do momento em que Hollywood a contou (em Estamos Vivos, um filme de Frank Marshall, de 1993): a saga dos sobreviventes do voo que, no princípio dos anos 1970, transportava uma equipa uruguaia de râguebi até ao Chile e se despenhou durante a travessia dos Andes.

Se a história é específica, o espanhol J.A. Bayona consegue, contudo, transformá-la numa coisa completamente genérica, parecendo compenetrado em fazer de A Sociedade da Neve uma compilação, um best of (ou um worst of, conforme a perspectiva) dos lugares-comuns dos “dramas de sobrevivência” (incluindo, possivelmente, os que vêm da moda dos reality shows desse género: não esquecer que se trata de um filme para a Netflix, e não é impensável que parte do seu sucesso venha do modo como aproveita também esse terreno). Nem faltam as epifanias, como a da personagem que, no pino da desgraça e do sofrimento, descobre “o amor” que não sabia que tinha “dentro de si”, e lá vem a solene combinação da música (um horror, a que se soma a maneira igualmente horrorosa com que Bayona a usa) e de belas imagens de paisagens geladas trazer um espírito new age ao filme.

Esta “filosofia” positiva, que também compila toda a auto-ajuda de pacotilha que por aí anda, infecta o filme todo, na verdade: aqueles infelizes andaram a comer a carne dos companheiros mortos para sobreviverem, mas no fim descobriram coisas “dentro de si”, cresceram, tornaram-se melhores pessoas, e isto é a “mensagem” de A Sociedade da Neve, martelada quase tintim por tintim (a voz-off) e filmada por Bayona assim mesmo, de maneira acrítica, como um filme de um bom vendedor que conhece bem a mercadoria que está a vender, e a quem a está a vender (e quem não se pela por uma boa lição de “perseverança” e “superação”?).

É uma produção hispano-americana de orçamento puxado (60 milhões de dólares), e partilha inteiramente aquele espírito de alguns cineastas europeus (ainda está em exibição Dogman de um destes campeões, Luc Besson) que parecem apostados em provar que, com o orçamento certo, são tão bons como os americanos a fazer maus filmes americanos. No amontoado de lugares-comuns narrativos, na galeria de tiques e efeitos (da música aos planos de drone), de onde, coisa extraordinária, ressalta a proeza de o filme não conseguir construir uma única personagem entre as várias que a priori eram possíveis, A Sociedade da Neve é só mais um exercício, aparentemente muito bem-sucedido, desse superior desígnio.

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