Não são lojas, são barcos!

Todos já concluíram, com excepção das autoridades, que muitas destas lojas de bugigangas constituirão uma fachada para máfias que as utilizam como plataforma rotativa para imigração ilegal.

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O encerramento da loja Vida Portuguesa marca, como sintoma irreversível, uma nova dimensão no desaparecimento no quotidiano das vivências portuguesas num originalmente centro histórico, agora reduzido a mero décor híbrido.

O encerramento da Livraria Ferin e da Barbearia Campos fazem parte deste diagnóstico, mas o caso específico da primeira loja de Catarina Portas, ultrapassa estes no plano simbólico, de forma sintomaticamente grave.

Catarina Portas pertence a uma geração, como muitos outros, que tentou habitar o centro histórico de Lisboa. Mas Catarina foi mais longe.

Demonstrando uma capacidade de empreendimento criativo, associada a uma visão cultural única, características raras numa sociedade de sonâmbulos entorpecidos, ela criou um projecto determinado por uma revisitação refrescante do artesanato português, colocando-o com grande sensibilidade estética em interiores de património arquitectónico ameaçado.

Assim, de forma dialéctica, ela conseguiu, de forma única, inverter o conceito de nostalgia passiva implícito no mito da Saudade, em algo activo, dinâmico e criativo.

O PÚBLICO publicou recentemente uma entrevista com Catarina Portas.

Nela, ela exprime o seu espanto pela omnipresença na Baixa lisboeta e portuense de centenas de lojas de bugigangas asiáticas, que sobrevivem a todos sobressaltos, pagando acima de 10 mil euros de renda mensal sem uma dinâmica comercial que justifique tais investimentos.

Com relação a este mistério pronunciei-me já em Julho de 2017, com perguntas directas e um apelo aos jornalistas. Este apelo foi seguido por Bárbara Reis, moradora da Baixa e ex-directora do PÚBLICO, que em Maio de 2021 publicou um artigo no qual explicitamente perguntava: "Que negócio há atrás das lojas de bugigangas para turistas?"

Ora, todos já concluíram, com excepção das autoridades responsáveis, que muitas destas lojas constituirão uma fachada para máfias que as utilizam como plataforma rotativa para avalanches de imigração ilegal, a fim de, aproveitando-se da permissividade apática e de uma nova lei da imigração que concede a qualquer um seis meses para procurar trabalho, e através de um registo na Segurança Social, garantirem o direito a residir.

Este paradoxo, em total contraciclo com a Europa (ver as novas leis de imigração em França, Alemanha, Países Baixos, Escandinávia) transformou Portugal numa fábrica de legalizações e principal exportador de imigração ilegal para os Países de Schengen (ver também, da minha autoria, "Chega de dar razões ao Chega para ter razão" e ainda "Um apelo à revisão da nova Lei da Imigração e à reposição do SEF").

Os leitores já compreenderam. Este fenómeno, que constitui mistério apenas para aqueles que não querem ver aquilo que é evidente, forma a nossa versão dos barcos que tanto tumulto político têm provocado em Inglaterra e Itália.

Máfias organizadas ganham fortunas com os sonhos de vítimas. Também as lojas são geridas por máfias internacionais onde “são os empregados que pagam aos patrões, não são os patrões que pagam aos empregados”.

Temos eleições brevemente, seguidas de eleições europeias. O tema da imigração vai dominar as eleições europeias.

E Portugal continua alheio a tudo quanto se passa à sua volta, numa apatia submissa e sonâmbula, sempre à espera que Tudo e Todos determinem o nosso futuro!

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