Xi diz que é preciso “conquistar os corações” e “reforçar as forças patrióticas e de reunificação” de Taiwan

Dias depois da eleição do novo Presidente taiwanês, artigo do líder chinês publicado em revista do Comité Central do PCC defende oposição às “actividades separatistas pela ‘independência de Taiwan’”.

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Xi Jinping, Presidente da República Popular da China e secretário-geral do Partido Comunista Chinês EPA/XINHUA / Li Xueren
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Num artigo publicado nesta terça-feira na Qiushi, uma revista de teoria política e notícias redigida pelo Comité Central do Partido Comunista Chinês (PCC), Xi Jinping defende a necessidade de o partido “fazer um bom trabalho para conquistar os corações de Hong Kong, Macau e Taiwan”.

Sobre a ilha governada de forma autónoma desde 1949 e reivindicada por Pequim como uma província chinesa, o Presidente da República Popular da China e secretário-geral do PCC disse ainda que é preciso “desenvolver e reforçar” as “forças patrióticas e de reunificação” do território com a China continental.

“[O PCC tem de] se opor às actividades separatistas pela ‘independência de Taiwan’ e promover a sua total reunificação com a pátria”, escreveu Xi, citado pelo South China Morning Post, num artigo que recupera frases proferidas pelo próprio num discurso que fez em 2022.

Intitulado Pensamentos importantes para a implementação completa, precisa e abrangente da frente única do partido para a nova era, o artigo de Xi enfatiza 12 ideias-chave, sobre temas tão diversos como Taiwan, as regiões administrativas especiais de Hong Kong e Macau ou questões económicas, sociais, religiosas e éticas.

A publicação deste artigo acontece poucos dias depois de Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (DPP), ter sido eleito Presidente de Taiwan, com 40% dos votos, após um acto eleitoral que o PCC e parte da oposição taiwanesa descreveu como uma “escolha entre a guerra e a paz” no estreito de Taiwan.

Nunca um partido tinha conseguido vencer três eleições presidenciais consecutivas desde a democratização de Taiwan, nos anos 1990.

Catalogado pelo PCC e pela imprensa estatal chinesa como um “extremista”, um “separatista” e um “desordeiro”, Lai disse, durante a campanha eleitoral, que Taiwan “não precisa de declarar independência” porque já é um país “independente e soberano”.

O Presidente eleito, que toma posse em Maio, defende o statu quo e acredita que a sua vitória é um sinal de que a maioria da população taiwanesa continua a favorecer a autonomia da ilha, onde vivem mais de 23 milhões de pessoas.

Lai derrotou Hou Yu-ih (33%), do Kuomintang (KMT), que prometia o regresso do diálogo e da cooperação entre Pequim e Taipé. O partido nacionalista chinês conseguiu, ainda assim, eleger mais um deputado (52) que o DPP (51) no Yuan Legislativo (Parlamento).

O Governo chinês reagiu à vitória de Lai dizendo que ela “não altera a ambição partilhada dos compatriotas de ambos os lados do estreito [de Taiwan] de forjar laços mais estreitos” e assegurando que o objectivo da “reunificação nacional” permanece “consistente”.

A República da China – o nome oficial de Taiwan – foi estabelecida no exílio no território insular, em 1949, pelo então Presidente chinês Chiang Kai-shek, do KMT, depois de ter sido derrotado por Mao Tsetung e pelas forças comunistas que conquistaram a China continental e que fundaram a República Popular da China.

Durante grande parte da Guerra Fria, o Governo de Taiwan foi reconhecido pela maioria dos países da comunidade internacional como legítimo representante do poder político chinês. Actualmente, porém, apenas 12 países, localizados, sobretudo, nas Caraíbas e no Pacífico Sul, reconhecem esse estatuto.

Nauru foi o último aliado diplomático a virar as costas a Taiwan e a encetar relações com a China, aceitando, com essa decisão, anunciada na segunda-feira, o princípio de “uma só China”.

A “reunificação” entre a China continental e Taiwan é tratada por Xi Jinping e pelo PCC como um “desígnio histórico”. Em documentos oficiais ou discurso públicos, tanto o Presidente como o partido único têm insistido que Pequim nunca irá renunciar ao uso da força para a cumprir.

Desde que o DPP chegou ao poder, em 2016, com a Presidente Tsai Ing-wen, que as relações entre os dois territórios deixaram de existir, com a tensão no estreito de Taiwan a atingir níveis sem precedentes.

A China tem multiplicado o número de exercícios militares nas imediações da ilha e o Governo taiwanês tem investido em armamento, próprio ou adquirido, e em meios de guerra assimétrica, uma vez que admite como possível uma invasão chinesa da ilha na próxima década.

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