Mamífero marinho mais raro do mundo em risco. Só se conhecem dez vaquitas-marinhas
Densidade populacional da espécie endémica do golfo da Califórnia, no México, tem diminuído exponencialmente. Depois do nascimento de uma cria, ainda há esperança.
No início deste século, havia mais de 200 vaquitas-marinhas (Phocoena sinus) no mar de Cortez, no México. Passados 15 anos, já não chegavam à centena. Em 2017, só restavam 40, número que depressa chegaria à casa dos dez. Como confirmou o PÚBLICO junto da especialista Barbara L. Taylor, ainda é nesse número que permanece hoje.
A rapidez de um processo de extinção aumenta a necessidade de acção, mas ainda há esperança. Além de não ter havido uma diminuição expressiva nos anos mais recentes (os cálculos dos investigadores Lorenzo Rojas-Bracho e Barbara L. Taylor já apontavam, em finais de 2018, para as pouco mais de dez vaquitas-marinhas), toda a população está saudável, incluindo uma cria nascida no último ano — o mais pequeno dos mais pequenos cetáceos do mundo. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), haverá uns 18 indivíduos adultos.
As vaquitas são o mamífero marinho mais raro do mundo, segundo a WWF. O mar de Cortez é o único refúgio deste animal. Até Richard Ladkani ter filmado um destes animais durante a produção de Sea of Shadows, nunca tinha sido captada em vídeo ou retratada em fotografias próximas. Já em 2019, e em conversa com o P3, Richard Ladkani, realizador do mesmo documentário, sublinhava que “quando há bebés, isso significa que o ecossistema está saudável”. De acordo com a Comissão Baleeira Internacional (CBI), este pode ser um indicador para uma possível recuperação da espécie.
Para isso, é preciso fazer algumas mudanças. Entre as acções já empreendidas pelo Governo mexicano está o estabelecimento de uma zona de tolerância zero, na qual é proibido usar redes de emalhar (nas quais é o próprio movimento dos peixes ou crustáceos que os deixa presos). Mas a CBI defende uma proibição total, já que o maior motivo para esta extinção iminente — à qual se agrega a deterioração do habitat por causa das alterações climáticas — é o tipo de rede usada na pesca ilegal do totoaba (Totoaba macdonaldi), que também afecta as vaquitas-marinhas.
O totoaba é apelidado pelos pescadores mexicanos como “a cocaína do mar”, uma vez que a captura e o tráfico implicam crime organizado, corrupção e violência. “Como é tão valiosa, o tráfico da bexiga natatória do totoaba acaba por substituir o comércio ilegal de cocaína na área porque é muito mais fácil pescar e vender o peixe do que traficar cocaína para fora do país”, resumia em 2019 o realizador de Sea of Shadows.
A alta procura pela “cocaína do mar” deve-se precisamente à bexiga natatória do totoaba — órgão que se assemelha a um balão de ar e que permite que os peixes se movam em diferentes profundidades. A bexiga do peixe mais caro do mundo, também exclusivo do golfo da Califórnia, no México, é uma iguaria muito apreciada, principalmente pela sociedade chinesa, que lhe atribui poderes medicinais. No mercado negro, um quilo de bexigas natatórias pode chegar aos 100 mil dólares (pouco mais de 91 mil euros). Ao serem apanhadas pelas redes destinadas ao totoaba, as vaquitas morrem sufocadas.
Em média, a vaquita-marinha, uma espécie de cetáceo que pertence à família das toninhas, mede 150 centímetros de comprimento. O peso máximo está calculado em 55 quilos.
Texto editado por Claudia Carvalho Silva