Justiça italiana recusa extradição de padre acusado de crimes durante ditadura argentina
Franco Reverberi, de 86 anos, é acusado de estar ligado ao assassínio de um activista e de ter participado em torturas. Justiça italiana recusa extradição devido à idade e condição de saúde do padre.
O Ministério da Justiça italiano recusou a extradição para a Argentina de um padre acusado de crimes contra a humanidade nos anos 1970 e 1980, durante a ditadura militar argentina. A informação foi avançada por uma fonte com conhecimento directo sobre o assunto, nesta sexta-feira.
O padre Franco Reverberi, de 86 anos, é acusado de ligações ao alegado assassínio do activista político de 20 anos, Jose Guillermo Beron, em 1976. É também acusado de, alegadamente, ter participado em torturas feitas pela junta liderada por Rafael Videla.
Reverberi, que tem nacionalidade argentina e italiana, sempre negou todas as acusações.
O Supremo Tribunal de Recurso italiano aprovou a sua extradição em Outubro, mas cabia ao ministro da Justiça Carlo Nordio aprovar ou recusar a decisão.
Uma fonte disse à Reuters que o ministro tinha vetado a extradição devido à idade avançada de Reverberi e o seu estado de saúde.
Em Agosto, segundo a Associated Press, citada pela ABC News, Nordio tinha aprovado a extradição. Porém, alegadamente, o ministro desconhecia o recurso do padre contra o pedido de extradição da Argentina.
Ao The Guardian, o advogado que representa a Argentina no caso condenou a decisão. "A nossa última esperança é que Reverberi seja julgado na Itália", afirma Arturo Salerni.
Enquanto esperava a decisão, Reverberi tinha de se apresentar diariamente numa estação de polícia na pequena cidade de Sorbolo, na região de Emília-Romanha, onde nasceu, escreve a ABC News. O padre ainda celebrava, pontualmente, missas nesta região.
O padre emigrou da Itália para a Argentina quando tinha apenas sete anos. Foi capelão militar na Argentina, durante a ditadura, e tinha regressado à sua terra natal, perto de Parma, no Norte de Itália, em 2011, quando começaram os julgamentos contra personalidades pró-regime na Argentina.
Durante a ditadura militar, que durou de 1976 a 1983, cerca de 30 mil opositores de esquerda “desapareceram” na Argentina. Segundo grupos de defesa dos direitos humanos, estes terão sido raptados e assassinados.
Segundo o Guardian, prisioneiras grávidas chegaram a ser mantidas vivas apenas até darem à luz. Os bebés – que deverão ter sido cerca de 500 – eram posteriormente dados a casais ligados ao Exército.