Sunak foi a Kiev dar à Ucrânia um precioso balão de oxigénio
O Reino Unido anunciou um pacote de ajuda militar de quase três mil milhões de euros ao longo do ano e assinou um pacto de segurança com a Ucrânia.
O Reino Unido comprometeu-se a apoiar a Ucrânia com um pacote de ajuda militar no valor de 2,5 mil milhões de libras (quase três mil milhões de euros) ao longo deste ano, anunciou o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, que visitou Kiev esta sexta-feira.
Numa altura crítica para a Ucrânia, o sinal dado por Londres assume uma enorme importância, tanto do ponto de vista simbólico como operacional. O pacote anunciado por Sunak representa um acréscimo de 200 milhões de libras (232 milhões de euros) face à assistência prestada pelo Reino Unido à Ucrânia na totalidade dos últimos dois anos.
A visita de Sunak a Kiev – a última tinha sido em Novembro de 2022 – é também um sinal de que os aliados ocidentais da Ucrânia não esqueceram a guerra travada em solo europeu, apesar da eclosão de novas emergências, como o conflito no Médio Oriente. O primeiro-ministro chegava à capital ucraniana pouco depois de se ter tornado público o ataque conjunto com os EUA contra posições dos rebeldes houthis no Iémen.
Depois de elogiar a determinação e a coragem dos ucranianos na forma como têm resistido à invasão russa sem soçobrarem, Sunak garantiu que “também o Reino Unido não irá soçobrar”. “Iremos estar ao lado da Ucrânia nas suas horas mais negras e nos tempos melhores que virão”, acrescentou.
“O Reino Unido é já um dos parceiros mais próximos da Ucrânia, porque reconhecemos que a sua segurança é a nossa segurança”, declarou Sunak, ao lado do Presidente Volodymyr Zelensky.
Segundo o Governo britânico, a assistência financeira a Kiev vai consistir sobretudo em mísseis de longo alcance, defesa antiaérea, munições e drones – os artigos que têm estado no topo das prioridades da Ucrânia para quebrar o impasse na linha da frente e, sobretudo, para fazer face à escassez de material.
A imprensa britânica chama a atenção para o facto de Sunak não ter apresentado qualquer compromisso de apoio financeiro ou militar além deste ano, frustrando algumas expectativas entre os dirigentes ucranianos.
Porém, Sunak e Zelensky também assinaram um pacto de segurança, que inclui um conjunto de garantias bilaterais de apoio militar, que estará em vigor até que a Ucrânia integre a NATO. Segundo o Governo britânico, trata-se do primeiro acordo deste género que a Ucrânia assina com um membro do G7.
Esta visita de Sunak e o anúncio de um reforço substancial do apoio a Kiev surgem num momento muito sensível para a Ucrânia, que tem lutado há meses contra o esquecimento de parte dos seus parceiros. Os EUA, principal fornecedor de material de guerra das forças ucranianas, está prestes a esgotar a sua capacidade para manter a linha aberta para Kiev.
Na quinta-feira, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, anunciou que a ajuda financeira à Ucrânia “parou por completo” por causa da falta de entendimento entre democratas e republicanos no Congresso para que seja aprovado um novo pacote de assistência. A Administração de Joe Biden tem em cima da mesa um envelope de 55 mil milhões de euros para apoiar a defesa da Ucrânia, mas os republicanos exigem o endurecimento das políticas migratórias e um controlo substancial da fronteira com o México.
Na conferência de imprensa com Sunak, Zelensky disse estar optimista quanto à possibilidade de haver uma solução que possa desbloquear o impasse em Washington nos próximos tempos.
A União Europeia, o outro pilar de apoio internacional da Ucrânia, não conseguiu aprovar no mês passado um pacote de 50 mil milhões de euros por causa do veto da Hungria. Entretanto, nos últimos dias, os três países bálticos anunciaram pacotes bilaterais de ajuda à Ucrânia, depois do périplo de Zelensky pela região esta semana.
Tudo isto acontece enquanto as forças ucranianas se deparam com grandes dificuldades no campo de batalha, vendo os seus esforços ameaçados tanto pela falta de material, sobretudo drones e munições, como pela escassez de militares para combater. A contra-ofensiva anunciada por Kiev no início do Verão passado não conseguiu produzir qualquer progresso assinalável e hoje a linha da frente, que se prolonga por cerca de mil quilómetros, está praticamente na mesma.
Em Kiev, Sunak fez questão de recordar aos restantes parceiros da Ucrânia o que está em causa neste conflito: “Os nossos adversários ao redor do mundo acreditam que não temos nem a paciência nem os recursos para guerras longas. Portanto, enfraquecer agora irá encorajar não apenas [o Presidente russo, Vladimir] Putin, mas os seus aliados da Coreia do Norte, do Irão e outros.”