Gabriel Attal, novo primeiro-ministro francês, alvo de homofobia e anti-semitismo
Abertamente homossexual e filho de pai judeu, o novo primeiro-ministro francês é alvo de comentários discriminatórios nas redes sociais.
Não é só a juventude de Gabriel Attal que o tem colocado sob os holofotes em França e no mundo (aos 34 anos, o novo primeiro-ministro gaulês é o mais jovem na história recente do país). Na rede social X, o antigo Twitter, o governante é alvo de comentários impróprios e discriminatórios que extravasam o campo político. O motivo? Attal é homossexual e, apesar de ser católico, é filho de pai judeu.
O gabinete do Governo francês responsável pelo combate ao racismo, anti-semitismo e ódio contra as pessoas LGBTQ+ já anunciou que irá denunciar os comentários à plataforma de monitorização de conteúdo online ilícito Pharos, sob alçada do Ministério do Interior, pelo que poderão ser desencadeados processos judiciais.
Na opinião de Yonathan Arfi, presidente do grupo de organizações judaicas francesas Crif, Attal está a ser reduzido à sua orientação sexual e apelido. Ainda no X, Arfi escreveu: “mal foi nomeado primeiro-ministro e, sem surpresas, já tem de enfrentar uma onda de comentários homofóbicos e anti-semitas nas redes sociais”.
Também a União Francesa de Estudantes Judeus exigiu sanções. Perante a inacção daquela rede social, que “se recusa a moderar o [discurso de] ódio”, a organização afirma não ser “o momento de condenar, mas de agir”.
Mas apesar das mensagens discriminatórias e de ódios vistas nos últimos dias nas redes sociais, alguns grupos de defesa dos direitos das pessoas LGBTQ+ em França vêem a nomeação de Attal para o cargo de primeiro-ministro como uma forte mensagem sobre a igualdade e a aceitação de minorias na sociedade francesa. Afinal, foi há pouco mais de uma década que cerca de 150 mil franceses protestaram contra a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Também François Fillon, chefe do Governo francês entre 2007 e 2012, chegou a votar contra a despenalização da homossexualidade, em 1982.
No passado, Attal partilhou com a televisão francesa alguns episódios de bullying de que foi alvo na escola. Já como ministro da Educação, o político chegou a fazer queixa à polícia, após receber uma carta ameaçadora decorada com uma estrela amarela e outra cor-de-rosa, em referência à sua ascendência judaica e à sua orientação sexual.
No entanto, ainda nas redes sociais, a nomeação de Attal não é acolhida de forma unânime entre indivíduos e organizações LGBTQ+ em França. “Gabriel Attal nunca foi um aliado das lutas LGBTQI+”, escreve uma página dedicada ao Pride des Banlieues (em português, “Orgulho nos Subúrbios”), a marcha anual do orgulho LGBTQ+ que decorre em Saint-Denis, na região metropolitana de Paris. “Em cada um dos seus cargos como ministro, [Attal] recebeu a Unaf, uma organização de extrema-direita que é contra o aborto, os PACS [acordo de união de facto], o casamento para todos, a pílula e a adopção por casais LGBTQI+”, pode ler-se.
Outros utilizadores relembram a “caça às abayas” promovida pelo ex-ministro da Educação, acusando-o de “islamofobia”, “repressão” e “autoritarismo”.