Petróleo aproxima-se dos 80 dólares com instabilidade no Médio Oriente
Ataques das forças internacionais a posições dos rebeldes houthis no Iémen mantêm cotações do crude em alta, mas disrupção do abastecimento não é provável.
Os preços do barril de petróleo continuam a subir e a aproximar-se dos 80 dólares com a crescente instabilidade no Médio Oriente, mas não parece provável que haja uma disrupção do abastecimento com o subir das tensões na região.
Esta sexta-feira, os preços do Brent, que serve de referência às importações europeias, estavam a aumentar mais de dois por cento, para 79,33 dólares, enquanto a referência norte-americana, o WTI, era negociado nos 73,97 dólares, igualmente a subir acima de dois por cento. O aumento dos preços reflecte os receios de uma escalada do conflito em toda a região depois de as forças britânicas e norte-americanas terem atacado posições houthis no Iémen em resposta aos ataques dos rebeldes xiitas a várias embarcações internacionais junto ao estreito de Bab El-Mandeb, que liga o mar Vermelho ao golfo de Áden.
Esta sexta-feira sucederam-se ataques aéreos a várias posições dos houthis em cidades como Hodeidah, Saada e Dhamar e também na capital iemenita, Sanaa, encabeçados pelos Estados Unidos e Reino Unido, aliados ao Canadá, Austrália, Países Baixos e Bahrein.
O perigo de uma acção militar alargada na região e os impactos do desvio das rotas de transporte de mercadorias que antes atravessavam o mar Vermelho e desde o início dos ataques dos houthis têm passado a circundar África pelo cabo da Boa Esperança mantém pressão sobre as cotações do petróleo e outras matérias-primas.
“Esta manhã, o preço do petróleo respondeu de uma forma relativamente comedida – o Brent ainda está abaixo dos 80 dólares por barril – e os títulos de rendimento fixo estão a responder assumindo que isto pode não ser bom para o crescimento, mas que não é ainda uma preocupação”, disse à Reuters o analista chefe da Daiwa Capital Markets, Chris Scicluna.
A subida das cotações do crude já tinha sido visível na quinta-feira depois de um ataque a um petroleiro que viajava rumo à Turquia e que foi desviado para um porto iraniano por um grupo de homens armados.
Segundo a BBC, a tomada do navio foi noticiada pelos media oficiais iranianos como uma retaliação pela alegada tomada deste mesmo navio por forças norte-americanas no ano passado.
Apesar de este incidente não estar aparentemente relacionado com os ataques dos houthis (que são financiados precisamente pelo Irão) aos navios que procuram cruzar o mar Vermelho, é mais uma indicação de que os mercados petrolíferos deverão continuar a passar por momentos de instabilidade, ainda que um cenário de disrupção do abastecimento a nível mundial pareça afastado.
“Inicialmente, quando a guerra [entre Israel e o Hamas] começou, houve receios de que os maiores produtores da região, particularmente o Irão, mas também a Arábia Saudita, se envolvessem directamente”, observou a especialista em matérias-primas da Capital Economics Caroline Bain à BBC.
Por enquanto isso não aconteceu e a procura de petróleo abrandou, com o arrefecimento das economias europeia e norte-americana e o menor crescimento da China. Por outro lado, houve “um surpreendentemente forte crescimento da produção norte-americana em 2023 e em alguns países não OPEP, como o Brasil e a Guiana”, o que ajudou a desfazer os receios sobre “a disrupção do abastecimento oriundo do Médio Oriente”, disse a especialista da Capital Economics.
No entanto, Caroline Bains admite que, caso se verifique “uma escalada das tensões no Médio Oriente/mar Vermelho”, as cotações internacionais “podem subir de forma mais acentuada” nos próximos tempos.