António Costa diz que Portugal deve “reforçar” sector de construção civil e de obras públicas

No lançamento do concurso para a construção da primeira linha de alta velocidade, primeiro-ministro defende participação de empresas portuguesas.

Foto
"Apesar de politicamente incorrecta, a verdade é que são precisas empresas nacionais fortes", afirmou o primeiro-ministro LUSA/ESTELA SILVA
Ouça este artigo
00:00
05:48

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O primeiro-ministro advertiu hoje que, apesar de ser "politicamente incorrecto", Portugal precisa de continuar a reforçar as empresas nacionais de construção civil e de obras públicas, sustentando que nenhum país se moderniza sem este sector.

Esta posição foi transmitida por António Costa na cerimónia de lançamento do concurso para a construção da primeira linha de alta velocidade ferroviária entre Lisboa e o Porto, que decorreu na sede das Infra-estruturas de Portugal, no Pragal, em Almada, distrito de Setúbal.

Quando o líder do executivo abordou este tema referente às empresas de obras públicas e de construção civil, um membro do seu Governo, mais concretamente um dos secretários de Estado presentes na sessão, procurou interrompê-lo, fazendo um sinal de advertência.

António Costa reagiu imediatamente: "Senhor secretário de Estado não me faça sinais".

"Sei que é politicamente incorrecto dizer, mas agora também cheguei a uma fase da vida em que posso dizer coisas politicamente incorrectas", declarou.

O primeiro-ministro começou por defender que o país tem empresas actualmente em condições de poderem concorrer e ganhar concursos para a construção de linhas de alta velocidade em Portugal.

"Não há nenhum país que se modernize sem um forte sector de construção civil e de obras públicas. É fundamental continuar a reforçar as nossas empresas de construção civil e de obras públicas: Aquelas que sobreviveram à tragédia da crise, aquelas que se têm vindo a afirmar e precisam de ganhar músculo para continuar a crescer", salientou.

António Costa, neste ponto, fez questão de referir que, nos concursos internacionais que serão abertos, as empresas nacionais não terão privilégios de candidatura.

"É evidente que vivemos na União Europeia, o mercado é aberto, concorrencial e todos têm idênticas possibilidades de vencer, pelo menos é assim em Portugal, embora não seja assim em todos os países, mesmo em alguns dos que nos estão mais próximos", declarou, numa alusão indirecta a Espanha.

"Apesar de politicamente incorrecta, a verdade é que são precisas empresas nacionais fortes para o desenvolvimento económico do país Portugal", acrescentou.

O "grande impulso" de Pedro Nuno Santos

O primeiro-ministro considerou que o ex-ministro das Infra-estruturas Pedro Nuno Santos deu um "grande impulso" à ferrovia e contou que em 1995, no primeiro Governo de António Guterres, sonhou ser secretário de Estado dessa área.

António Costa falava no final da cerimónia de lançamento do concurso para a construção do primeiro troço da Linha de Alta Velocidade (LAV) entre Lisboa e Porto e, numa intervenção mais longa do que o habitual, elogiou o sinal de maturidade democrática dado pelo parlamento ao aprovar na passada quarta-feira, apenas com a abstenção do Chega, este concurso para o avanço da ferrovia de alta velocidade, o que permitirá a Portugal, até ao final deste mês, candidatar-se a fundos europeus na ordem dos 729 milhões de euros.

Na parte final do seu discurso, o primeiro-ministro contou um episódio que se desconhecia da sua longa carreira política. Disse que em 1995, na formação do Governo de António Guterres, quis ser secretário de Estado dos Transportes, mas acabou como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares.

"Por linhas muito tortas", em consequência da Operação Influencer e da demissão de João Galamba das funções de ministro das Infra-estruturas em Novembro passado, acabou agora, com o seu executivo em gestão, a tutelar a pasta das Infra-estruturas.

Em relação ao actual líder do PS, o primeiro-ministro defendeu que, "de facto, foi o grande impulsionador da construção do Plano Ferroviário Nacional e da visão da ferrovia como potencial grande cluster da economia nacional".

"João Galamba prosseguiu esse trabalho e conduziu-o até ao dia em que eu, com muita honra e humildade, assumi estas funções de ministro das Infra-estruturas - um sonho que tive modestamente em 1995 para ser só secretário de Estado. Mas alguém deve escrever direito por linhas tortas -- muitas tortas, tenho de reconhecer - e a verdade é que, não tendo conseguido ser secretário de Estado dos Transportes em 1995, lá acabei por ser ministro das Infra-estruturas", referiu, provocando risos na plateia.

Em relação a Pedro Marques, antecessor de Pedro Nuno Santos nas Infra-estruturas, António Costa advogou que o atual eurodeputado do PS exerceu as funções nessa pasta, entre 2015 e 2019, "no momento mais difícil, em que mais do que falar era necessário estar em silêncio".

"Mais do que poder lançar grandes obras era necessário repor o tema da ferrovia no centro dos acontecimentos", completou.

Concursos "a tempo e horas"

Tendo a ouvi-lo os ministros das Finanças, Fernando Medina, e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, o líder do executivo protagonizou outro momento de humor na cerimónia quando se preparava para carregar, simbolicamente, na tecla do browser "submeter", abrindo formalmente o concurso para o lançamento da construção da primeira linha nacional de TGV.

"Se alguém tem alguma coisa a dizer que o diga agora", declarou, provocando algumas gargalhadas na assistência.

No seu discurso, António Costa procurou realçar "o longo caminho" político percorrido até se chegar ao consenso para o lançamento do concurso, dizendo que o seu Governo, que se encontra em gestão, tem assim "plena legitimidade" para avançar com este processo.

Esse consenso político alcançado na passada quarta-feira, de acordo com António Costa, é "um sinal inequívoco de maturidade democrática", porque foi alcançado num momento em que a Assembleia da República está prestes a ser dissolvida e antes de eleições legislativas antecipadas.

Fez, depois, uma referência aos atrasos verificados no processo do TGV em Portugal, sustentando a tese de que, em Portugal, "muitas vezes é preciso parar, ficar em silêncio, para descontaminar o debate político e se chegar depois ao consenso pretendido".

"O silêncio revelou-se produtivo", concluiu.

Ainda segundo António Costa, a resolução aprovada pela Assembleia da República vai ainda mais longe do que legitimar que o Governo português avance na construção do primeiro troço de alta velocidade da futura linha entre o Porto e Lisboa.

"A resolução recomenda ao futuro Governo que lance os próximos concursos de alta velocidade ferroviária a tempo e horas", acrescentou.