Rio

“A pedra espera ainda dar flor”, dizia Raul Brandão no Húmus. Esta porosidade deve ser um direito universal das coisas.

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O Tejo seco: barragem de Cedillo, Espanha Nuno Ferreira Santos
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Os rios já não atravessam fronteiras como as aves migratórias. Chegam à fronteira secos, o caudal do Tejo e do Douro minguado, levado por canais para regar paisagens de monocultura intensiva, estancado por barragens que guardam a água antes que mude a jurisdição. Como se a água passar a fronteira fosse uma ilegalidade, uma traição à pátria, coisa clandestina, de contrabando ou fuga política. Nenhuma pessoa nos seus plenos direitos civis passa hoje por isso. Mas um rio sim, a sua água como uma refugiada, onde for apanhada a ser explorada até à última gota, sem liberdade de movimentos. Por isto, vemos rios a sofrer a violência de morrer na fronteira e, em seguida, a ter de renascer, afluente a afluente, e recomeçar a meio do caminho do seu curso.

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