Rio
“A pedra espera ainda dar flor”, dizia Raul Brandão no Húmus. Esta porosidade deve ser um direito universal das coisas.
Os rios já não atravessam fronteiras como as aves migratórias. Chegam à fronteira secos, o caudal do Tejo e do Douro minguado, levado por canais para regar paisagens de monocultura intensiva, estancado por barragens que guardam a água antes que mude a jurisdição. Como se a água passar a fronteira fosse uma ilegalidade, uma traição à pátria, coisa clandestina, de contrabando ou fuga política. Nenhuma pessoa nos seus plenos direitos civis passa hoje por isso. Mas um rio sim, a sua água como uma refugiada, onde for apanhada a ser explorada até à última gota, sem liberdade de movimentos. Por isto, vemos rios a sofrer a violência de morrer na fronteira e, em seguida, a ter de renascer, afluente a afluente, e recomeçar a meio do caminho do seu curso.
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