Ventura afirma que listas do Chega vão incluir actuais e antigos deputados do PSD
André Ventura diz que haverá sociais-democratas nas listas do Chega, mas não adianta nomes. Candidatura de Maló de Abreu pelo Chega já foi negada pelo agora deputado não-inscrito.
O presidente do Chega, André Ventura, afirmou esta quinta-feira que as listas de candidatos a deputados do partido contarão com actuais e antigos eleitos pelo PSD, mas recusou confirmar se António Maló de Abreu será um deles. "Há vários nomes, sobretudo ligados ao PSD, naturalmente pela proximidade maior, que estarão nas listas do Chega às próximas legislativas", afirmou, em declarações aos jornalistas no Parlamento, referindo tratarem-se de "actuais e antigos deputados do PSD".
O líder do Chega indicou que alguns actuais e antigos eleitos sociais-democratas poderão mesmo ser cabeças de lista, mas recusou revelar identidades e adiantar mais pormenores. Ventura foi questionado sobre a notícia do Observador que dá conta de que o deputado António Maló de Abreu, que anunciou na quarta-feira a sua desfiliação do PSD, deverá ser candidato pelo Chega nas eleições legislativas de Março, e que entretanto o social-democrata já negou.
"Não me vou referir a nenhum caso em particular. Não vou confirmar isso, mas também não vou desmentir", respondeu Ventura, justificando a sua posição com a realização da VI Convenção Nacional do Chega, que decorre este fim-de-semana em Viana do Castelo e na qual volta a ser candidato à liderança.
O líder do partido de direita radical indicou que, entre os candidatos, haverá também independentes e referiu ainda que pessoas que estiveram ligadas e foram dirigentes da Iniciativa Liberal "integrarão os órgãos nacionais do Chega já neste congresso", que vai decorrer entre sexta-feira e domingo.
De acordo com Ventura, as listas de candidatos a deputados estão a ser fechadas e serão conhecidas durante a próxima semana, mas referiu que na reunião magna "já haverá alguns sinais". Quanto a antigos dirigentes e militantes de outros partidos, Ventura afirmou que foram pessoas que se aproximaram do Chega, recusando que exista "um processo de recrutamento" por parte do seu partido junto de outras forças políticas.
"Não é nenhum ataque à estrutura do PSD, nem a nenhum partido. São pessoas que se aproximaram, com quem tivemos contactos, cujos trabalho parlamentar ou ex-parlamentar apreciámos e chegámos à conclusão que podiam ser mais-valia para o partido", defendeu, afirmando querer que o Chega seja um partido aberto. Ventura disse que "foram estas pessoas que se aproximaram do Chega, e não o contrário", defendendo ser "normal que, havendo movimento do eleitorado, também haja pessoas que por deixarem de se rever nos seus partidos anteriores, se revêem agora mais no Chega".
Período de nojo entre mudança de partidos
Sem se referir a nenhum caso em particular, o líder parlamentar do PS defendeu que deveria haver um "período de nojo" antes de deputados de um partido decidirem integrar uma outra força política, advertindo que, senão, se está a "fragilizar o sistema democrático".
Falando a título pessoal e sem vincular a sua posição nem ao PS nem a outro parlamentar, Eurico Brilhante Dias afirmou que quando alguém se candidata por um partido defende um programa eleitoral. "Aquilo que devemos é, no mínimo, ter um período de nojo antes de assumirmos responsabilidades noutras forças políticas para defender outro programa eleitoral", defendeu. Quando isso não acontece, está a "fragilizar-se o sistema democrático e aquilo que é a representação parlamentar".
"Nunca é normal quando democratas eleitos por forças democráticas passam a figurar em listas que são anti-sistema democrático", declarou, numa referência aos alegados membros do PSD que terão assinalado intenção de se filiar no Chega. Notando que alguns partidos da direita democrática recorrem à mesma linguagem ou propostas para travar a sangria de eleitorado da direita para partidos da direita radical, Brilhante Dias lamenta a "contaminação". "A direita democrática tem de se assumir como democrática e não pode ir atrás do Chega", disse.
PSD não terá candidatos suspeitos ou arguidos
Também em relação às listas de candidatos às legislativas de 10 de Março, o líder do PSD, Luís Montenegro, deu a garantia de que os critérios que o partido definiu serão cumpridos. Em causa está a alegada indicação, pela distrital da Guarda aos órgãos nacionais do partido, do presidente da Câmara de Pinhel, Rui Ventura, acusado de crimes de peculato, como cabeça de lista por aquele círculo eleitoral, e se pode garantir que nas listas do partido não haverá candidatos suspeitos ou arguidos, o Montenegro respondeu que o PSD aprovou "um conjunto de critérios para a selecção e recrutamento dos candidatos à Assembleia da República".
Assegurando que os candidatos "vão preencher esses critérios, mas vão, sobretudo, ser candidatos com uma forte componente política, uma forte componente formativa, profissional", o dirigente adiantou que as listas do PSD vão integrar "pessoas de todas as idades, de todas as condições, de todas as áreas de actividade".
"Vamos ter listas multifacetadas, multidisciplinares, com competência política, técnica, para exercer o mandato na Assembleia da República", destacou, considerando ser isso que "o povo português exige" do PSD.
O PSD vai excluir das suas listas de candidatos a deputados às próximas legislativas quem tenha sido "condenado em primeira instância, pronunciado" ou sobre quem haja "indícios fortes" da prática de crime contra o Estado. Este foi um dos critérios aprovados pela Comissão Política Nacional para a elaboração das listas de candidatos.
Além disso, os candidatos terão de assumir um "compromisso de honra" de que suspenderão o mandato caso se verifique uma destas situações já no exercício de funções "até arquivamento do processo ou até decisão judicial de absolvição, não-pronúncia, ou revogação ou extinção das medidas de coação privativas de liberdade, respectivamente".