EUA e Reino Unido bombardeiam posições dos houthis no Iémen

Marinha e aviação anglo-americana, com apoio do Canadá, Austrália, Países Baixos e Bahrein, respondem a ataques no Mar Vermelho. Sunak refere “acção limitada”, Biden não descarta “medidas adicionais”.

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Houthis dizem que ataques no Iémen "não ficarão impunes ou sem resposta" Reuters, Joana Bourgard
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O Reino Unido e os Estados Unidos lançaram ataques aéreos, esta noite de quinta-feira, contra posições dos houthis no Iémen. Fonte iemenita disse à Reuters estar em curso um ataque "inimigo" à capital Sanaa. Há relatos de explosões também nas cidades de Hodeidah, Saada e Dhamar. A Associated Press indica que a operação militar envolve caças-bombardeiros e mísseis Tomahawk disparados a partir de navios de guerra, incluindo submarinos. A BBC diz que a Força Aérea britânica operou a partir da base de Akrotiri, no Chipre.

"Hoje, às minhas ordens, as forças militares norte-americanas - juntamente com o Reino Unido e com o apoio da Austrália, Bahrain, Canadá e os Países Baixos - lançaram com sucesso ataques contra vários alvos no Iémen utilizados pelos rebeldes para ameaçar a liberdade de navegação numa das vias marítimas mais vitais do mundo", declarou o Presidente norte-americano, Joe Biden, num comunicado divulgado pela Casa Branca.

Durante a madrugada, era divulgado um segundo comunicado conjunto dos governos destes países e também da Dinamarca, Alemanha, Nova Zelândia e Coreia do Sul a apoiar a acção militar.

"Estes ataques são uma resposta aos ataques sem precedentes dos houthis contra navios internacionais no Mar Vermelho - incluindo o uso de mísseis balísticos anti-navais pela primeira vez na história. Estes ataques colocaram em perigo militares norte-americanos, marinheiros civis e os nossos parceiros, prejudicaram o comércio e ameaçaram a liberdade de navegação. Mais de 50 países foram afectados em 27 ataques à navegação comercial internacional", acrescentou Biden, que sublinhou "o maior ataque até à data", a 9 de Janeiro, que visou cinco navios de guerra norte-americanos.

O Presidente dos EUA referiu ainda a aprovação, na quarta-feira, de uma resolução pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas a exigir o fim dos ataques das forças houthis contra cargueiros comerciais. "Não hesitarei em executar medidas adicionais para proteger o nosso povo e a livre circulação internacional de bens", acrescentou.

O Irão alertou que os ataques dos Estados Unidos e Reino Unido contra os rebeldes Huthis no Iémen, em retaliação pelas ofensivas contra navios no mar Vermelho, podem agravar a instabilidade no Médio Oriente. “Estes ataques arbitrários não terão outro resultado senão alimentar a insegurança e a instabilidade na região”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano.

Naser Kanani condenou duramente os bombardeamentos como uma “ação arbitrária, uma clara violação da soberania e integridade territorial do Iémen e uma violação do direito internacional”.

A acção era esperada depois de, horas antes, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, ter reunido de emergência os seus ministros para discutir uma possível intervenção.

"O Reino Unido irá sempre lutar pela liberdade de navegação e pela livre circulação de bens. Tomámos por isso uma acção limitada, necessária e proporcional", declarou mais tarde Sunak. "Isto não pode continuar", disse sobre os ataques dos houthis contra a navegação comercial.

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Numa primeira reacção no Iémen, o vice-chefe da diplomacia houthi, Hussein al-Izzi, advertiu num canal de televisão do movimento que Estados Unidos e Reino Unido vão "pagar um preço elevado" por uma "agressão descarada", noticia a BBC.

Crise no Mar Vermelho após ofensiva israelita em Gaza

Os houthis do Iémen, apoiados pelo Irão, aumentaram nas últimas semanas os ataques a navios no Mar Vermelho em protesto contra a invasão de Gaza por Israel, na sequência dos ataques do Hamas de 7 de Outubro. Registaram-se desde Novembro mais de 20 ataques com mísseis e com drones contra navios comerciais.

Várias companhias de navegação suspenderam entretanto as suas operações na região, desviando os seus navios cargueiros para a rota do Cabo, contornando África para ligar Ásia e Europa, e evitando o Estreito de Áden e, consequentemente, a passagem pelo canal do Suez.

Pelo Mar Vermelho passava, até há semanas, cerca de 30% do transporte mundial marítimo de contentores e 12% de todo o comércio global. É também por aquela rota que passa grande parte do crude e dos produtos petrolíferos do Médio Oriente rumo à Europa e à América do Norte. A perturbação do tráfego marítimo na região, e a consequente subida dos preços do transporte, tem consequências económicas globais.

Os houthis são um clã xiita e um grupo armado do Norte do Iémen, em conflito com o governo central desde 2004. Em 2014, o movimento conquistou a capital Sanaa. No ano seguinte, a vizinha Arábia Saudita envolveu-se directamente no conflito, liderando uma coligação regional contra o grupo, por seu turno apoiado financeira e militarmente pelo Irão - país xiita que disputa com os sauditas, sunitas, a hegemonia no Médio Oriente (pese embora uma recente reaproximação). O Iémen, que já era o país mais pobre da região, é desde então palco da mais grave crise humanitária das últimas décadas.

Em Outubro, os houthis entraram em cena noutro conflito no Médio Oriente - o que opõe Israel e Hamas em Gaza. Inicialmente, através do lançamento de mísseis e de drones contra o Sul de Israel. A partir de Novembro, com o ataque a navios no Mar Vermelho. O movimento alega ter como alvo apenas navios israelitas ou de países aliados, mas têm sido atingidos cargueiros de nações sem qualquer relação com o conflito em curso.

Para além do apoio aos palestinianos, os houthis sinalizam também desta forma a sua sintonia com o Irão e com o chamado "eixo de resistência" que inclui outros actores regionais aliados com Teerão, como a Síria e o Hezbollah. Ao mesmo tempo, o movimento segue uma agenda doméstica própria de legitimação no Iémen e de aumento de pressão negocial sobre a Arábia Saudita, com que mantém conversações desde Abril de 2023 em vista ao fim da guerra. Com Lusa