Maló de Abreu, ex-dirigente de Rui Rio, deixa PSD e passa a deputado não inscrito
Ex-membro da comissão política nacional de Rui Rio alega discordar da estratégia e da organização do partido, bem como da bancada parlamentar.
O até aqui deputado do PSD António de Maló de Abreu vai deixar o partido após 40 anos de militância e passará à qualidade de não inscrito no pouco que resta da legislatura. O antigo membro da comissão política liderada por Rui Rio transmitiu as suas decisões ao secretário-geral do PSD e ao líder parlamentar, revelando que são motivadas por discordâncias em torno da estratégia e da organização do partido, bem como do grupo parlamentar.
“É com profunda tristeza, mas com sentido de responsabilidade e ancorado nas minhas convicções que vos dou conhecimento que comuniquei hoje [quarta-feira] ao senhor secretário-geral do PSD o meu pedido de demissão do partido (suspensão definitiva da qualidade de militante), após mais de 40 anos de filiação e militância”, refere o antigo membro da direcção de Rui Rio, numa mensagem enviada aos deputados noticiada pela Lusa e a que o PÚBLICO também teve acesso.
Sem explicar na mensagem essas razões, António Maló de Abreu disse já ter transmitido a mesma informação ao presidente da Assembleia da República, numa mensagem enviada na véspera do último plenário da XV legislatura, que se prolongará até à posse dos deputados eleitos nas legislativas de 10 de Março.
Na mensagem, o deputado disse que a decisão foi tomada por si próprio. Fê-lo “sem ouvir quem quer que seja na solidão interior a que os momentos importantes e as situações de ruptura na nossa vida e percurso pessoal exigem”.
Só mais tarde, numa nota escrita enviada à Lusa, o parlamentar, eleito pelo círculo Fora da Europa em 2022, revelou as suas razões. “Fundamentalmente e verdadeiramente importante, não me revejo, de todo, na estratégia e na forma de se organizar o partido e de agir da sua direcção. E não me revejo nas suas propostas em áreas sensíveis da governação.”
“Assim como não me revejo na organização da direcção do grupo parlamentar do PSD e na sua inacção relativamente, nomeadamente, às comunidades portuguesas – a quem devo justificações, por ter sido por elas eleito”, acrescenta.
Como “o único deputado eleito pela diáspora portuguesa”, o parlamentar lamentou nunca ter sido convocado para participar em qualquer reunião do secretariado das comunidades portuguesas do partido, apesar de o integrar por ser eleito pelos círculos da emigração, como determinava um regulamento interno aprovado pela anterior direcção liderada por Rui Rio em 2018.
Maló de Abreu só deverá sentar-se como deputado não inscrito no hemiciclo por um dia, já que não haverá mais sessões plenárias até à dissolução do Parlamento, prevista para segunda-feira, funcionando a partir daí a comissão permanente, da qual o deputado não faz parte.
O deputado, que foi eleito por Coimbra em 2019, era muito próximo de Rui Rio. Actualmente, presidia à Comissão Parlamentar de Saúde. Ainda na manhã desta quarta-feira, Maló de Abreu conduziu os trabalhos na audição do ministro da Saúde, Manuel Pizarro, não tendo revelado qualquer informação aos deputados do PSD sobre a sua intenção de deixar o partido ou a bancada.
“Sei bem que esta minha decisão pode comprometer o relacionamento com todos vós. Sei bem que tão drástica decisão pode ser incompreendida ou mal interpretada. Sei bem que nada será como dantes. Mas é a vida – e é da minha vida nunca abdicar dos meus valores e princípios. Nem entregar a outros decisões que só a mim me cabem por muito fracturantes e dolorosas que sejam”, lê-se na carta enviada aos seus colegas.
O anúncio das duas decisões foi feito a cinco dias da aprovação em conselho nacional das listas de deputados do PSD para as próximas legislativas.
Notícia actualizada às 19h41 com nota do deputado sobre os motivos para as suas decisões.