Jogadores confirmam propostas de aliciamento para perderem contra o Benfica
Cássio e Marcelo, antigos jogadores do Rio Ave, testemunharam em tribunal em processo que visa César Boaventura. Lionn, o terceiro futebolista rioavista, não compareceu à audiência.
Cássio insiste que César Boaventura o tentou aliciar com 60 mil euros para facilitar no jogo contra o Benfica. O ex-jogador do Rio Ave testemunhou na manhã desta quarta-feira em Matosinhos, no arranque do julgamento contra César Boaventura por suspeitas de corrupção activa. Já Marcelo, outro dos jogadores que garante ter sido abordado por Boaventura, diz ter achado “uma brincadeira” – contrariando, em alguns pontos, o depoimento prestado em 2017 sobre o caso.
Apesar de as versões dos factos serem diferentes, ambos os futebolistas mantêm que foi realizado um encontro em Abril de 2016 e que terá existido mesmo uma proposta de Boaventura para facilitarem no jogo contra o Benfica dessa semana, poucos dias antes das alegadas conversas presenciais.
“Ele ligou e apresentou-se, perguntou se estaria interessado numa proposta de fora. Eu disse-lhe que aquela não era uma boa semana, que tinha jogo [grande]. Ele insistiu e disse que queria falar comigo”, relembra Cássio.
O guarda-redes diz que aceitou uma conversa no carro com César Boaventura, justificando o encontro com o argumento de que estava prestes a acabar contrato com o Rio Ave e tinha curiosidade em saber se existia algum clube com interesse. Terá sido confrontado com uma oferta de 60 mil euros em troca de facilitar o jogo contra o Benfica.
“Ele tinha interesse que o Benfica vencesse o jogo e disse para fazer o que tivesse de fazer [facilitar contra o Benfica]. Eu disse que não, pedi que saísse do carro e ele disse que, se não aceitasse [a oferta], o Marcelo e Lionn aceitavam”, reitera.
Marcelo, por sua vez, diz que considerou a alegada proposta de facilitar contra as “águias” uma “brincadeira” de Boaventura, algo que contraria um depoimento do futebolista prestado em 2017. Nessa altura, perante a Polícia Judiciária, afirmou que rejeitou taxativamente os avanços do empresário.
Questionado por Carlos Melo Alves, advogado de César Boaventura, sobre se foi sugerida alguma maneira de facilitar o jogo, Marcelo disse que não. Contudo, nesse depoimento de 2017, referiu claramente que Boaventura lhe teria sugerido cometer propositadamente falta para grande penalidade.
Lionn, o terceiro jogador ligado ao Rio Ave neste processo, não compareceu esta quarta-feira em tribunal, esperando-se o testemunho do futebolista numa audição futura.
O julgamento deste processo arrancou na manhã desta quarta-feira, em Matosinhos, julgando-se suspeitas de que o empresário César Boaventura terá aliciado os jogadores do Rio Ave Marcelo, Cássio e Lionn, bem como o maritimista Salin, em jogos contra o Benfica na temporada 2015/2016, época em que as “águias” conquistaram o tricampeonato. O Ministério Público (MP) acusou César Boaventura de três crimes de corrupção activa e um crime de corrupção activa na forma tentada.
Este processo não atinge o clube da Luz, visto que as magistradas responsáveis pela acusação consideraram não ter ficado provado que César Boaventura “tenha sido incumbido de qualquer tarefa” pelos dirigentes do Benfica.
César Boaventura é acusado de ter prometido a estes jogadores “contrapartidas patrimoniais ilegítimas” para praticarem actos contrários aos interesses das equipas que estes defendiam em benefício do Benfica.
O Ministério Público (MP) diz que estas abordagens ocorreram dias antes da realização do jogo entre Rio Ave e Benfica, a 24 de Abril, bem como do encontro entre Marítimo e Benfica de 8 de Maio de 2016.
Este é o segundo processo a envolver César Boaventura. O empresário é também arguido na Operação Malapata, acusado pelo Ministério Público de dez crimes.
Notícia actualizada às 16h13: acrescentadas informações relativas à Operação Malapata.