Amazon vai despedir “várias centenas” de trabalhadores na Prime Video e na MGM
Mudança da maré no sector do entretenimento começou já em 2023 com dezenas de milhares de pessoas a perderem o emprego, em vários grupos.
A Amazon vai despedir “várias centenas” de trabalhadores nas suas áreas relacionadas com o cinema e o audiovisual, mais precisamente na Prime Video e na Amazon MGM Studios — o gigante do comércio online comprou os clássicos estúdios MGM entre 2021 e 2022. A decisão vem engrossar a vaga de despedimentos que afecta o sector nos Estados Unidos, à medida que a concorrência entre serviços e os custos de produção aumentam e a bolha de investimento criada nos últimos anos começa a perder gás.
Os funcionários do grupo souberam da “decisão difícil” da administração na manhã desta quarta-feira (hora local) através de um memorando enviado por email pelo presidente da empresa para a área do entretenimento, Mike Hopkins. “A nossa indústria continua a evoluir rapidamente e é importante que demos prioridade aos nossos investimentos para o sucesso a longo prazo do nosso negócio”, lê-se no email, reproduzido por vários órgãos de informação norte-americanos.
“No último ano, analisámos todos os aspectos do nosso negócio procurando melhorar a nossa capacidade de criar cada vez mais filmes e programas de televisão inovadores e desporto ao vivo de uma forma personalizada e fácil de usar”, prossegue Hopkins. “Em resultado disso, identificámos oportunidades de reduzir ou descontinuar investimentos em certas áreas, ao mesmo tempo que aumentamos o nosso investimento e o nosso foco nos conteúdos relacionados com os produtos de maior impacto.”
Os trabalhadores incluídos neste despedimento, que estão espalhados por vários países, serão informados a partir desta quarta-feira. No Brasil, por exemplo, a Folha de São Paulo contabiliza já dez pessoas despedidas na Amazon Studios Brasil, incluindo os responsáveis pelas áreas da comédia ou das séries. No memorando, Mike Hopkins lamenta ter de dispensar “'amazonianos' talentosos”.
Entre 2022 e 2023, foram despedidas da Amazon entre 18 mil e 27 mil pessoas, conforme as contas das revistas Variety e Hollywood Reporter ou do canal CNBC, e no ano passado houve também alguns cortes orçamentais nas divisões agora afectadas. Na terça-feira, foi anunciada a supressão de 500 postos de trabalho na plataforma de livestreaming Twitch, que pertence à Amazon.
A Amazon Prime Video é um dos principais operadores do streaming mundial, embora o seu número de subscritores esteja opacificado pela inclusão da plataforma no serviço mais geral Amazon Prime (que permite, entre outras coisas, entregas mais rápidas de produtos). Nos últimos anos, o seu investimento na produção original e na expansão do negócio envolveu cifras impressionantes, como os 7,7 mil milhões de euros gastos na aquisição da MGM (detentora dos filmes de James Bond ou da saga Rocky), e a criação da série mais cara de sempre, a prequela de O Senhor dos Anéis, cujo orçamento está estimado em cerca de 500 milhões de euros.
Com as greves dos argumentistas e dos actores que paralisaram a produção no ano passado e a mudança nas estratégias de negócio das plataformas de streaming — mais focadas em mostrar lucros aos accionistas e às bolsas e menos focadas no número de assinantes e no prestígio —, os cortes têm sido uma constante no sector. Da Warner e da HBO ao Spotify, milhares de pessoas perderam já os seus empregos com a contracção da indústria do entretenimento.
O ano de 2024 começa com este sinal da Amazon; dentro de duas semanas, a Netflix apresentará os seus resultados finais de 2023 aos investidores. Muitos analistas e especialistas estimam que este será um ano de fusões e de concentração de marcas e serviços em grandes grupos, com grande especulação sobre o futuro da Paramount, por exemplo, e sua potencial venda a outro gigante do meio.
Notícia corrigida às 8h51 de 11 de Janeiro: o orçamento da série Os Anéis do Poder ronda os 500 milhões de euros e não meio milhão de euros