Noruega torna-se o primeiro país a aprovar a extracção mineira nos fundos marinhos

Noruega aprovou a exploração de metais preciosos no fundo do mar Árctico. Estas matérias são utilizadas em algumas tecnologias verdes, mas os ambientalistas temem efeitos no ecossistema marinho.

Foto
Ambientalistas temem os efeitos nefastos nos ecossistemas marinhos da exploração mineira do fundo do mar EPA/Javad Parsa
Ouça este artigo
00:00
03:31

O Parlamento norueguês votou na terça-feira a favor da autorização da exploração mineira no fundo do mar Árctico, em conformidade com um acordo alcançado entre o Governo e os principais partidos da oposição no mês passado, ultrapassando as objecções dos defensores do ambiente.

A decisão surge no momento em que a Noruega espera tornar-se o primeiro país a concretizar a exploração mineira em águas profundas à escala comercial e a garantir minerais essenciais e postos de trabalho, apesar das preocupações com o impacto ambiental e dos apelos internacionais a uma moratória.

A proposta foi votada favoravelmente por 80% do Parlamento norueguês, que aprovou assim a exploração no fundo do mar de metais preciosos. Esse tipo de matérias tem sido cada vez mais procurada na área das tecnologias verdes, mas a comunidade científica tem alertado que a exploração no fundo do mar pode ter efeitos nefastos para a vida marinha.

Ainda não existe um calendário definido para o início da exploração, embora o plano seja atribuir às empresas direitos exclusivos de exploração e potencial extracção em áreas específicas após um processo de candidatura. Sabe-se, no entanto, que a área em causa será de 280 mil quilómetros quadrados e que contém lítio, cobalto, níquel e escândio.

O processo será modelado de acordo com o estabelecido para a exploração de petróleo e gás da Noruega, enquanto questões como a tributação serão debatidas numa fase posterior, disse um responsável político à Reuters. "Vamos agora ver se isto pode ser feito de uma forma sustentável e foi esse o passo que demos agora", disse o ministro da Energia, Terje Aasland, ao Parlamento.

A possibilidade de explorar o fundo marinho em busca destes minérios surgiu depois de, no ano passado, um estudo norueguês ter revelado que a plataforma continental do país tinha uma quantidade "substancial" desses metais, recordou a CNN Internacional.

"Um dia vergonhoso"

A versão alterada da proposta do Governo, que foi debatida na terça-feira, estabelece requisitos mais rigorosos em matéria de levantamento ambiental durante a fase de exploração do que o inicialmente previsto. As empresas poderão solicitar licenças para explorar as regiões em causa, que ainda podem vir a aumentar, aponta o The Guardian: um acordo sobre a mineração em águas internacionais pode surgir até ao fim deste ano.

A Greenpeace, uma das maiores organizações não-governamentais de defesa do ambiente, disse que a terça-feira passada se tornou "um dia vergonhoso" para a Noruega, com o país a " posicionar-se como líder oceânica e ao mesmo tempo dar luz verde à destruição dos oceanos nas águas do Árctico", considerou Frode Pleym, líder do escritório da Greenpeace na Noruega.

Outra das maiores organizações de defesa da natureza, a WWF, disse manter um "pequeno vislumbre de esperança" na sustentabilidade do projecto pelo facto de as licenças de extracção dependeram de aprovação parlamentar. As palavras são de Kaja Lønne Fjærtoft, o líder político da iniciativa "No Deep Seabed Mining", da WWF.

A Fundação para a Justiça Ambiental considerou que não havia necessidade de explorar os minérios no mar profundo porque, de acordo com um estudo apresentado pela instituição, a aposta na economia circular, reciclagem e novas tecnologias poderia reduzir em 58% a procura por esses minerais.

"O argumento para destruir o mar profundo em busca de cobalto e níquel não resiste a um exame minucioso e os legisladores noruegueses devem reconhecer isso​​", disse Steve Trent, director executivo e fundador da fundação​, citado pelo The Guardian.

A dependência de uma aprovação parlamentar não constava na proposta original para a exploração mineira do fundo marinho norueguês, mas foi acrescentada após uma pressão internacional — inclusivamente do Reino Unido e da União Europeia — para regular o recurso a este tipo de actividade. O Parlamento norueguês assegurou que iria gerir as propostas de extracção com cautela.