Noruega torna-se o primeiro país a aprovar a extracção mineira nos fundos marinhos

Noruega aprovou a exploração de metais preciosos no fundo do mar Árctico. Estas matérias são utilizadas em algumas tecnologias verdes, mas os ambientalistas temem efeitos no ecossistema marinho.

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Ambientalistas temem os efeitos nefastos nos ecossistemas marinhos da exploração mineira do fundo do mar EPA/Javad Parsa
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O Parlamento norueguês votou na terça-feira a favor da autorização da exploração mineira no fundo do mar Árctico, em conformidade com um acordo alcançado entre o Governo e os principais partidos da oposição no mês passado, ultrapassando as objecções dos defensores do ambiente.

A decisão surge no momento em que a Noruega espera tornar-se o primeiro país a concretizar a exploração mineira em águas profundas à escala comercial e a garantir minerais essenciais e postos de trabalho, apesar das preocupações com o impacto ambiental e dos apelos internacionais a uma moratória.

A proposta foi votada favoravelmente por 80% do Parlamento norueguês, que aprovou assim a exploração no fundo do mar de metais preciosos. Esse tipo de matérias tem sido cada vez mais procurada na área das tecnologias verdes, mas a comunidade científica tem alertado que a exploração no fundo do mar pode ter efeitos nefastos para a vida marinha.

Ainda não existe um calendário definido para o início da exploração, embora o plano seja atribuir às empresas direitos exclusivos de exploração e potencial extracção em áreas específicas após um processo de candidatura. Sabe-se, no entanto, que a área em causa será de 280 mil quilómetros quadrados e que contém lítio, cobalto, níquel e escândio.

O processo será modelado de acordo com o estabelecido para a exploração de petróleo e gás da Noruega, enquanto questões como a tributação serão debatidas numa fase posterior, disse um responsável político à Reuters. "Vamos agora ver se isto pode ser feito de uma forma sustentável e foi esse o passo que demos agora", disse o ministro da Energia, Terje Aasland, ao Parlamento.

A possibilidade de explorar o fundo marinho em busca destes minérios surgiu depois de, no ano passado, um estudo norueguês ter revelado que a plataforma continental do país tinha uma quantidade "substancial" desses metais, recordou a CNN Internacional.

"Um dia vergonhoso"

A versão alterada da proposta do Governo, que foi debatida na terça-feira, estabelece requisitos mais rigorosos em matéria de levantamento ambiental durante a fase de exploração do que o inicialmente previsto. As empresas poderão solicitar licenças para explorar as regiões em causa, que ainda podem vir a aumentar, aponta o The Guardian: um acordo sobre a mineração em águas internacionais pode surgir até ao fim deste ano.

A Greenpeace, uma das maiores organizações não-governamentais de defesa do ambiente, disse que a terça-feira passada se tornou "um dia vergonhoso" para a Noruega, com o país a " posicionar-se como líder oceânica e ao mesmo tempo dar luz verde à destruição dos oceanos nas águas do Árctico", considerou Frode Pleym, líder do escritório da Greenpeace na Noruega.

Outra das maiores organizações de defesa da natureza, a WWF, disse manter um "pequeno vislumbre de esperança" na sustentabilidade do projecto pelo facto de as licenças de extracção dependeram de aprovação parlamentar. As palavras são de Kaja Lønne Fjærtoft, o líder político da iniciativa "No Deep Seabed Mining", da WWF.

A Fundação para a Justiça Ambiental considerou que não havia necessidade de explorar os minérios no mar profundo porque, de acordo com um estudo apresentado pela instituição, a aposta na economia circular, reciclagem e novas tecnologias poderia reduzir em 58% a procura por esses minerais.

"O argumento para destruir o mar profundo em busca de cobalto e níquel não resiste a um exame minucioso e os legisladores noruegueses devem reconhecer isso​​", disse Steve Trent, director executivo e fundador da fundação​, citado pelo The Guardian.

A dependência de uma aprovação parlamentar não constava na proposta original para a exploração mineira do fundo marinho norueguês, mas foi acrescentada após uma pressão internacional — inclusivamente do Reino Unido e da União Europeia — para regular o recurso a este tipo de actividade. O Parlamento norueguês assegurou que iria gerir as propostas de extracção com cautela.