O Ministério do Mar revelou nesta quarta-feira que "seguiu os protocolos" após a queda, em águas nacionais, de contentores, onde estariam toneladas de pellets de plástico que deram à costa em Espanha, havendo indicação do navio de que não transportava "material perigoso".
"Foram seguidos todos os protocolos de actuação, com mecanismos de alerta automáticos. Avisámos do incidente, não do conteúdo dos contentores, até porque o barco avisou que não transportava material perigoso", explicou à Lusa fonte do ministério da Economia e Mar, a propósito da carga que caiu ao mar a 80 quilómetros de Viana do Castelo, a 8 de Dezembro.
Segundo informações divulgadas pelo governo espanhol, o armador do barco que perdeu contentores em águas portuguesas disse que caíram ao mar mais de mil sacos com cerca de 26,2 toneladas de bolas com cerca de cinco milímetros de diâmetro, usadas para fabricar plásticos e que estão a dar à costa no Norte de Espanha.
O ministério da Economia e Mar revelou nesta quarta-feira que o "incidente aconteceu pelas 4h43 de dia 8 de Dezembro e que, pelas 5h, o barco informou o Centro de Controlo do Mar, pedindo que avisasse as embarcações nas proximidades para os contentores à deriva", dando indicações de que "a carga não era perigosa". Por outro lado, diz o ministério, o navio avisou também o centro de controlo costeiro de Finisterra, na Galiza, Espanha.
"As autoridades portuguesas comunicaram ao CMAR, da Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), que por sua vez submeteu a informação na plataforma da ENSA, a agência de segurança marítima europeia", indicou o ministério. Foram ainda, acrescentou, "feitos contactos entre o director-geral da DGRM com o homólogo espanhol".
Ameaça para ambiente e pesca
Nesta quarta-feira, a Comissão Europeia considerou que as 25 toneladas de minúsculas bolas de plástico que caíram ao mar nas águas portuguesas e estão a dar à costa no norte de Espanha representam uma ameaça para o ambiente e para a pesca.
"As 25 toneladas de pellets de plástico que se espalharam na costa galega ameaçam o ambiente marinho e actividades económicas como a pesca. Estamos desejosos por discutir como podemos ajudar", disse o comissário europeu para o Ambiente, Oceanos e Pesca, Virginijus Sinkevicius, numa publicação na rede social X (antigo Twitter).
As regiões do Norte de Espanha, da Galiza ao País Basco, activaram ou elevaram alertas ambientais por causa das toneladas de bolinhas de plástico. O Ministério Público espanhol anunciou na segunda-feira que abriu uma investigação para apurar eventuais responsabilidades.
Segundo informações fornecidas pelo Ministério do Ambiente de Espanha aos meios de comunicação locais, um cargueiro com bandeira da Libéria perdeu seis dos contentores que transportava em águas portuguesas, a 80 quilómetros de Viana do Castelo. Um desses contentores, segundo o Governo espanhol, que cita o armador do barco, levava mil sacos dessas pequenas bolas brancas usadas na fabricação de plásticos.
Foi no final da semana passada que começaram a chegar à costa espanhola, em quantidade, as bolas de plástico dispersas, fora de sacos, com as organizações ambientais e os jornais locais a falarem em "invasão dos areais" por este material e em "areais pintados de branco". Não sendo biodegradáveis, estas pequenas bolas, com os anos, fragmentam-se em nanopartículas, microplásticos que entram na cadeia alimentar marinha.
Autoridade Marítima Nacional atenta
A Autoridade Marítima Nacional (AMN) disse nesta quarta-feira que está a monitorizar as partículas de plástico que deram à costa em Espanha, tentando antecipar uma eventual deslocação para Portugal, e a preparar um plano de contingência para remover o material.
"A Autoridade Marítima, em colaboração com o Instituto Hidrográfico da Marinha, está a monitorizar a situação dos plásticos que deram à costa na Galiza e a fazer cálculos de deriva para, com base no vento, ondulação e correntes, tentar saber com a maior antecedência possível a probabilidade de chegarem a Portugal", explicou à Lusa o porta-voz da AMN e da Marinha.
Por outro lado, a AMN está a "preparar um plano de contingência, no âmbito do plano Mar Limpo, para remover as partículas de plástico caso cheguem à costa portuguesa".
Esta acção está a ser desenvolvida "com outras entidades, como autarquias e órgãos da Protecção Civil", acrescentou o porta-voz.
"Para já, os cálculos não dão indicação de que os plásticos possam vir para Portugal. Mas isso não quer dizer que a situação não mude, dentro de dias ou horas", explicou. As Capitanias de Viana do Castelo e Caminha, "onde há maior probabilidade de as partículas chegarem", estão com "especial atenção" à costa, afirmou.
O porta-voz referiu também que a AMN "não tem a confirmação" de que os pellets de plástico que estão a aparecer nas praias do Norte de Espanha sejam do barco que, a 8 de Dezembro, perdeu carga "a 40 milhas [cerca de 75 quilómetros] de Viana do Castelo".
"Quando o barco perdeu a carga, não soubemos o que transportava, apenas que caíram seis contentores. Também não temos a confirmação de que o material que apareceu em Espanha seja do mesmo navio", observou.
Quando os contentores caíram ao mar, a ANM emitiu avisos, nomeadamente à navegação.
"Quando um contentor cai na água, 90% fica abaixo da linha de água e é difícil de ver, tanto visualmente como por radar", afirmou.
Depois, a AMN deu "indicações à Capitania de Viana do Castelo para deslocar uma embarcação salva vidas ao local. Mas não, os contentores não foram vistos."