Agricultores alemães bloqueiam estradas em protesto contra cortes nos subsídios

Governo teme aproveitamento dos protestos pela extrema-direita. Em Berlim, dezenas de tractores bloquearam a avenida principal que dá acesso à porta de Brandeburgo.

Letônia
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Agricultores alemães bloquearam as estradas LEONHARD SIMON
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Paralisação chegou às Portas da Bradenburgo, em Berlim FILIP SINGER
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O partido da oposição AfD apoia o protesto dos agricultores ANNA SZILAGYI
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Agricultores reclamam contra o fim progressivo dos subsídios agrícolas LEONHARD SIMON
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Protestos vão durar toda a semana e Governo teme que sejam aproveitados pela extrema-direita ANNA SZILAGYI
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Já foram feitas alterações ao orçamento, mas agricultores dizem que não é suficiente LEONHARD SIMON

Os agricultores alemães bloquearam várias estradas com tractores nesta segunda-feira, dando início a uma semana de protestos contra os planos de eliminação progressiva dos subsídios agrícolas com uma acção a nível nacional que o Governo teme que possa ser aproveitada pela extrema-direita.

Filas de tractores e camiões, alguns adornados com faixas de protesto onde se lia “Não há cerveja sem agricultores” e cartazes do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), ocuparam as estradas alemãs sob temperaturas negativas ainda antes do amanhecer. Em Berlim, dezenas de tractores bloquearam a avenida principal que dá acesso à porta de Brandeburgo.

O vice-chanceler Robert Habeck, dos Verdes, cujo regresso de férias, na semana passada, foi perturbado por agricultores furiosos que tentaram invadir o ferry em que se encontrava, avisou numa mensagem de vídeo que o direito de protesto dos agricultores poderia ser explorado por grupos marginais.

“Estão a circular mensagens com fantasias de golpe de Estado, estão a formar-se grupos extremistas e estão a ser exibidos abertamente símbolos étnico-nacionalistas”, disse Habeck.

A polícia informou que as estradas e auto-estradas foram bloqueadas em vários locais do país, incluindo vários postos fronteiriços com França, causando engarrafamentos durante a hora de ponta da manhã.

Os agricultores afirmam que os planos do Governo para acabar com dois benefícios fiscais – que actualmente lhes permitem poupar cerca de 900 milhões de euros por ano –​ os levarão à falência.

O Governo de coligação foi forçado a encontrar milhares de milhões de euros de poupanças no seu orçamento para 2024, depois de uma decisão do tribunal em Novembro ter invalidado os seus anteriores planos de despesa.

Mas os agricultores argumentam que o ónus destes cortes foi injustamente posto sobre eles e prometeram bloquear as principais rotas de tráfego e logística durante uma semana.

Uma sondagem realizada pela estação pública de televisão n-tv revelou um forte apoio público aos protestos, com 91% dos inquiridos a considerarem-nos justificados.

A reacção dos agricultores na semana passada levou a coligação liderada pelo chanceler Olaf Scholz a fazer alterações inesperadas ao orçamento, incluindo uma alteração dos planos de corte dos subsídios à agricultura.

Em vez de acabar abruptamente com a isenção fiscal dos agricultores sobre o gasóleo agrícola, o subsídio será reduzido em 40% este ano, em 30% em 2025 e terminará a partir de 2026.

Os agricultores afirmam que esta medida não é suficiente, mas um porta-voz do Governo disse nesta segunda-feira que o executivo não está a considerar quaisquer outras alterações.

“No final, um governo tem de decidir e tem de liderar o caminho, e isso nem sempre pode ser do agrado de todos”, disse o porta-voz.

O partido da oposição AfD, que espera obter grandes ganhos numa série de eleições este ano em estados federados, apoia o protesto dos agricultores.

“O Governo alemão está a esquecer as muitas e difíceis consequências da sua política de desindustrialização”, afirmou um porta-voz da AfD num comunicado.

No entanto, o presidente da associação alemã de agricultores DBV manifestou a sua preocupação com a possibilidade de os activistas de extrema-direita explorarem os protestos para os seus próprios fins.

A AfD foi fundada como um partido antieuro, na sequência da crise da dívida europeia, para um partido anti-imigração e, com a coligação do Governo actual a juntar três partidos, a AfD tornou-se uma grande força da oposição.

De acordo com a sondagem semanal do INSA, o partido está actualmente com 23% das intenções de voto, confortavelmente à frente dos sociais-democratas de Scholz e dos seus dois parceiros de coligação, os Verdes e o Partido Liberal Democrata (FDP). A oposição conservadora democrata-cristã tem 31% de apoio.