CES 2024: Las Vegas torna-se epicentro da febre de IA e do ChatGPT
A capital dos casinos vai-se transformar na capital da IA e dos chatbots, com gigantes tecnológicas e startups de todo o mundo a viajar até à CES para mostrar o que se faz com a tecnologia do ChatGPT.
A febre com o ChatGPT não vai baixar em 2024. Nas primeiras semanas do ano, deve mesmo subir. Las Vegas, nos EUA, será o principal ponto de contágio: bicicletas parcialmente pilotadas pelo ChatGPT e robôs que usam o chatbot da OpenAI para combater a solidão vão encher a cidade norte-americana para a edição de 2024 do Consumer Electronics Show (CES).
Faltam dias para a Vegas voltar a acolher o grande festival de electrónica de consumo dos EUA, que dá pistas sobre as inovações que devem chegar ao mercado, mas já se sabe que a inteligência artificial (IA) será o foco deste ano. Mais concretamente a IA generativa, a tecnologia por detrás do ChatGPT que põe programas informáticos a conversar com humanos para produzir conteúdo original.
Um ano após a OpenAI ter demonstrado o potencial da tecnologia com o seu chatbot, os fabricantes de produtos electrónicos querem vender dispositivos que tirem partido desta inovação e os fabricantes de semicondutores (chips) querem mostrar que têm as bases necessárias. Ao todo, são esperadas mais de 130 mil pessoas – engenheiros, empresários, políticos, jornalistas – na CES para conhecer as novidades de gigantes tecnológicas e startups de todo o mundo. “ChatGPT” e “IA generativa” são palavras comuns nos convites para apresentações das empresas.
Para já, sabe-se que a alemã Urtopia vai levar a Fusion, uma bicicleta eléctrica que vem com o chatbot da OpenAI integrado para pedir direcções mais facilmente e obter informação sem tirar os olhos da estrada; a francesa Blue Frog Robotics apresenta uma nova versão do Buddy, um robô criado para entreter crianças e combater a solidão que vem com o chatbot da OpenAI integrado para proporcionar conversas mais detalhadas ou educativas; e o conglomerado industrial sul-coreano Doosan destaca que terá um bartender robótico capaz de misturar bebidas com base no humor das pessoas – a informação sobre novas técnicas de energias verdes das empresas do grupo passam para segundo plano.
A Microsoft, que é uma das grandes investidoras na OpenAI, vai apresentar um novo formato de teclado para o sistema operativo Windows que tem uma tecla para o Copilot, a versão do ChatGPT da empresa que ajuda a resumir documentos e a planear projectos e reuniões. A Amazon e a BMW já aludiram a uma parceria, a ser anunciada durante a CES, que envolve usar técnicas de IA da empresa norte-americana nos carros da fabricante alemã.
Os analistas de tecnologia não estranham o foco. "Os consumidores adoram o ChatGPT”, contextualiza Jay Goldberg, director executivo da empresa de consultoria D2D Advisory, em declarações à agência Reuters. O problema, nota Goldberg, é que o benefício de ter um chatbot com IA generativa num produto ainda não é claro. “É por isso que todos vão falar sobre o assunto — porque todos estão a lutar pela utilidade para o consumidor”, destaca.
(Antigo) palco de inovações
A CES é um dos melhores palcos do mundo para esta demonstração tecnológica. A funcionar desde 1967, a feira já foi palco para a apresentação de muitas tecnologias que se tornaram vulgares em casas de todo o mundo. O leitor de cassetes, o protótipo da primeira consola da Nintendo, e o formato DVD são alguns exemplos. Há vários anos, porém, que não é apresentado um produto que mude o paradigma tecnológico.
Uma coisa é certa: por ora, a IA generativa dos chatbots é a protagonista da CES 2024. “[A] IA é o tema mais quente da tecnologia, e isso vai estar presente em todo o recinto da CES 2024”, confirmou Gary Shapiro, o presidente da CTA, a associação responsável pela CES, numa publicação nas redes sociais. Os próprios cartazes publicitários usados para a edição de 2024 da feira foram criados com o Midjourney, um programa de IA generativa que produz imagens a partir de pedidos de humanos.
Somam-se painéis e debates sobre o impacto dos novos programas de IA no emprego, no retalho, no sector alimentar, na saúde e, claro, na criatividade humana. Por exemplo, sistemas que juntam reconhecimento facial, reconhecimento de voz e IA generativa para acelerar o trabalho de médicos em todo o mundo.
De fora dos debates, fica quase só a OpenAI. Apesar de ser um dos temas quentes da feira, a empresa do ChatGPT optou por não marcar presença, juntando-se à Apple que não participa formalmente na CES desde 1992. Ainda assim, a empresa de Sam Altman não deverá notar falta de publicidade.
Com 12 pavilhões e mais de 185 mil metros quadrados, a feira também vai ter espaço para novos formatos de ecrãs, carros, produtos de realidade aumentada e serviços de inteligência artificial que não se manifestam através de chatbots. Gigantes da tecnologia como a LG, a Samsung, a Google, a Hyundai, a Sony e a Intel terão pequenos palcos e espaços onde apresentam as novidades para 2024.
O PÚBLICO vai viajar até Las Vegas para seguir essas e outras novidades na cimeira que decorre entre 9 e 12 de Janeiro.