Depois da droga, cartéis do México traficam Internet

Habitantes do estado de Michoacán estão a ser obrigados a pagar a narcotraficantes para aceder à Internet, sob ameaça de morte. Grupos criminosos estão a expandir a sua área de actividade.

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O negócio em Michoacán, no centro do México, mostrava-se lucrativo. Por mês, a facturação podia chegar aos 135 mil euros Reuters/UESLEI MARCELINO

No México, o tráfico já não se fica pela droga e inclui agora a Internet. Tudo começa com o roubo de alguns equipamentos, destinados à instalação ilegal de antenas de Internet (a imprensa local chama-lhes “narcoantenas”) e prossegue com a "venda" do acesso à rede a uma população aterrorizada.

De acordo com o Ministério Público do país, um cartel de narcotraficantes no estado de Michoacán, no centro do México, coagiu cerca de 5000 pessoas, sob ameaça de morte, a pagar pelos seus serviços de acesso à Internet. Apesar dessas ameaças, não há registo de mortes. O Ministério Público não identifica o cartel pelo nome, dado que o caso está sob investigação, mas a imprensa local designa-o como "Los Viagras". Segundo a agência Associated Press, uma pessoa já foi detida no âmbito deste caso.

Com uma mensalidade compreendida entre os 400 e os 500 pesos (equivalentes a 21,5 e 27 euros, sensivelmente), um preço considerado caro para o custo de vida local, o negócio mostrava-se lucrativo para os narcotraficantes. Por mês, a facturação podia chegar aos 135 mil euros.

A relação dos cartéis mexicanos com serviços ilegais de acesso à Internet não é de hoje. Há muito que o roubo e controlo de antenas de telecomunicações serve para criar redes de comunicação interna dos grupos criminosos, fora do controlo das autoridades. A novidade aqui está no seu uso para extorquir a comunidade, considera Falko Ernst, analista da ONG Crisis Group, citado pela Associated Press.

Segundo Ersnt, cerca de 200 dos grupos criminosos armados em actividade no México já não se concentram exclusivamente no tráfico de droga, procurando monopolizar “outros serviços e mercados legais”.

“Tornou-se uma espécie de jogo completo. Já não é específico de nenhum bem ou mercado em particular”, completa o analista. “Trata-se de manter o território através da violência.”

Os novos esquemas criminosos incluem a cobrança de taxas ilegais sobre os alimentos e produtos importados e a entrada dos grupos em negócios agrícolas como o do abacate e da lima, bem como no sector mineiro.

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