Morreu o geneticista António Lima de Faria aos 102 anos

Cientista português estava radicado na Suécia há mais de 70 anos. Professor de citogenética molecular resumia o seu trabalho na busca pela ordem – dos cromossomas à evolução.

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António Lima de Faria estava há mais de 70 anos radicado na Suécia Manuel Roberto
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O geneticista português António Lima de Faria morreu aos 102 anos no final do ano passado, a 27 de Dezembro, na Suécia, onde vivia, investigava e dava aulas há mais de 70 anos. Natural de Cantanhede, o trabalho experimental do português fusão de células humanas com células vegetais (de plantas) já em 1977 é um dos legados que fica para a ciência. Tal como fica também a autoria de Evolução sem Selecção (1988), no qual o cientista argumenta que a selecção natural não é o mecanismo fundamental da evolução e defende a “auto-evolução” das espécies – um livro muito criticado e cuja visão se mantém minoritária no campo da biologia evolutiva.

António Lima de Faria, nascido em 1921, morreu em Lund, a cidade sueca que o acolheu durante quase toda a vida. Depois de se licenciar em biologia na Universidade de Lisboa em 1945, mudou-se para a Suécia em 1950, onde começou a dar aulas na Universidade de Lund – onde faria toda a restante carreira académica e onde também se doutorou na área da genética.

O seu trabalho na citogenética molecular, que lida directamente com o estudo dos cromossomas ao nível das moléculas, garantiu-lhe a posição de professor emérito desta área na Universidade de Lund. Dizia ao PÚBLICO, em 2018, que a sua vida se resume à “procura da ordem a todos os níveis”, desde os cromossomas à evolução.

O afastamento de Portugal era claro. Dizia ainda em 2018: “Só volto para um sítio onde posso trabalhar. Não existem os livros, as bibliotecas e os laboratórios que eu preciso para trabalhar em Portugal.” No entanto, era compensado pela dedicação à sua terra, Cantanhede, que o homenageou com a atribuição do seu nome a um agrupamento de escolas em 2014.

Além desse reconhecimento, o geneticista financiava o Prémio Lima de Faria atribuído desde 1991 ao aluno dos concelhos de Cantanhede e Mira com melhor média final do ensino secundário. Em 2019, foram também criadas com a Câmara Municipal de Cantanhede as Bolsas de Inovação Científica Professor Doutor António Lima de Faria, concurso no qual seriam atribuídas duas bolsas – uma por Lima de Faria e outra pelo município – de 1000 euros anuais durante um período de cinco anos.

O município de Cantanhede declarou luto durante três dias após o conhecimento da morte de António Lima de Faria.

Além deste contributo para a promoção da ciência e do mérito académico, também era proprietário de um grande acervo documental, parte do qual já tinha sido doado ao município e ao agrupamento de escolas com o seu nome, e onde se incluem mapas de Portugal do século XVI ou uma colossal enciclopédia em 17 volumes com a descrição de nove mil espécies de aves.

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