Ministro pede cautela na generalização de casos como o da morte de idosa no hospital de Penafiel

“Devo dizer que, em muitos casos, depois de investigadas todas as circunstâncias, a história é bastante diversa de uma descrição simplista”, advertiu Pizarro.

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Manuel Pizarro sublinha que "tem de se ver cada caso em concreto" Matilde Fieschi (arquivo)
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O ministro da Saúde pediu esta quarta-feira que não se façam generalizações sobre casos como o que sucedeu na urgência do Hospital Padre Américo, em Penafiel (distrito do Porto), em que uma mulher com cerca de 80 anos morreu ao início da noite enquanto aguardava para ser observada. “Cada vez que há um caso desses que é reportado, o hospital, e quando é necessário também a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS), conduz uma investigação para procurar saber o que aconteceu e conseguir tirar conclusões”, sublinhou Manuel Pizarro.

Devo dizer que, em muitos casos, depois de investigadas todas as circunstâncias, a história é bastante diversa de uma descrição simplista, o que não quer dizer que não haja casos onde temos obrigação de tirar conclusões onde devemos melhorar o atendimento”, completou ainda o governante, que falava aos jornalistas à margem da cerimónia oficial de recepção aos novos médicos internos e farmacêuticos residentes, que decorreu esta manhã em Coimbra.

Em causa está a “situação caótica” que o serviço de urgência do hospital de Penafiel enfrenta, com dezenas de doentes, e que poderá ter contribuído para a morte de uma idosa nesta terça-feira, conforme disse fonte da Ordem dos Enfermeiros à agência Lusa. “A situação é caótica porque o hospital não tem capacidade com este pico de pandemia de gripe”, disse à Lusa Miguel Vasconcelos, presidente do Conselho Directivo Regional Norte da Ordem dos Enfermeiros.

Os corredores da urgência, acrescentou, estão cheios de macas dos bombeiros com doentes, porque não há espaço para tantas situações de urgência que estão a chegar ao hospital. Miguel Vasconcelos confirmou que na terça-feira, cerca das 20h, morreu uma idosa com pulseira laranja que aguardava há cerca de uma hora, numa maca dos bombeiros, para ser observada pela equipa clínica daquele hospital.

O Hospital Padre Américo activou o plano de contingência, com reforço das equipas de profissionais de saúde, mas o problema maior neste momento, acentuou, é a falta de capacidade física das instalações para atender e internar os doentes. Trata-se de uma situação crónica, por ser demasiado pequeno para a região que serve (cerca de meio milhão de pessoas), mas que se agrava quando ocorrem estes picos, sinalizou.

O responsável contou ainda que, nas últimas horas, cerca de uma dezena de ambulâncias têm permanecido em espera no hospital, situação que foi confirmada por comandantes de várias corporações de bombeiros da região. As equipas não têm capacidade e os profissionais acabam por entrar em exaustão, lamentou Miguel Vasconcelos.

A Lusa contactou a administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, ao qual pertence o Hospital Padre Américo, para obter informações sobre a situação da urgência e sobre as circunstâncias da morte da idosa, mas até ao momento não obteve resposta, estando igualmente a aguardar a resposta da IGAS sobre a eventual abertura de um inquérito a este caso da morte da mulher.

Ministro pede que se olhe a todas as circunstâncias em casos pontuais

De acordo com os dados do portal do SNS, às 10h50, o tempo de espera no hospital Padre Américo para doentes triados como muito urgente (pulseira laranja) era de 50 minutos, estando àquela hora dois doentes em espera. Existiam ainda oito doentes urgentes (pulseira amarela), com um tempo de espera médio de 52 minutos.

Questionado pelos jornalistas sobre o impacto da pressão nos serviços de urgência com as possíveis mortes ocorridas em macas dos hospitais enquanto um doente aguarda observação médica, Manuel Pizarro disse que em todos os casos pontuais têm de ser vistas quais são as suas circunstâncias. Não podemos presumir, a partir apenas dessa descrição, que houve um mau atendimento ou um mau tratamento. Tem de se ver cada caso em concreto.

Pizarro não deixou de sublinhar o esforço de milhares de profissionais que todos os dias dão o seu melhor para atender os portugueses. Não tenho nenhuma dúvida de que, globalmente, os portugueses são muito bem atendidos no Serviço Nacional de Saúde, incluindo na urgência. Claro que em alguns casos com esperas que são excessivas que tem que ver com um afluxo muito grande que não permite que as pessoas sejam atendidas mais rapidamente. Mas a verdade é que as pessoas são atendidas, acrescentou o ministro.

O tempo médio de espera para doentes urgentes era de 15 horas e 46 minutos às 10h desta quarta-feira no Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), onde 45 pessoas aguardavam atendimento, segundo os dados do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Os dados referem-se ao tempo médio de espera para atendimento nas últimas duas horas e o número de doentes apresentado é o das pessoas que se encontram actualmente a aguardar atendimento, após triagem.

Ainda de acordo com os dados do portal do SNS, consultados pela Lusa, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, o tempo de espera para doentes triados como urgentes (pulseira amarela) era de oito horas e 30 minutos, estando àquela hora 21 doentes em espera. Existiam ainda 28 doentes menos urgentes (pulseira verde), com um tempo de espera médio de 13 horas e 22 minutos. Ainda na região de Lisboa, no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, o tempo de espera era de 12 horas e cinco minutos, estando 48 pessoas triadas como urgentes.

Confrontado pelos jornalistas com o número elevado de horas de espera para uma observação médica, Manuel Pizarro disse que está a fazer-se um esforço muito grande para atender os portugueses. E recordou o investimento nos cuidados de saúde primários feito tanto no período de véspera e de Natal assim como da passagem de ano, em que cerca de 190 centros de saúde estiveram abertos em horário complementar.

Além disso, o ministro da Saúde voltou a alertar para que só recorram às urgências dos hospitais as pessoas que estão gravemente doentes e que precisam da urgência e que, antes de recorrerem, à urgência estabeleçam um contacto conforme a situação em que se encontrem, ou com a emergência pré-hospitalar (112) ou com a linha SNS 24. Pizarro adiantou que, desde 26 de Dezembro até esta sexta-feira, foram feitas mais de 62 mil chamadas para esta última, um “aumento muito significativo de contactos”.