Directores demissionários da Global Media temem a destruição do grupo

Responsáveis pela informação de quatro órgãos de comunicação do grupo que se demitiram foram ao Parlamento relatar as dificuldades por que estão a passar.

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Os directores demissionários relataram no Parlamento as dificuldades por que estão a passar LUSA/FILIPE AMORIM

Os directores demissionários do Jornal de Notícias (JN), O Jogo, TSF e Dinheiro Vivo (DV), todos do Global Media Group (GMG), manifestaram nesta quarta-feira no Parlamento preocupações sobre o futuro do grupo, admitindo mesmo que a estratégia que está a ser levada a cabo pela administração possa levar à extinção de alguns dos títulos.

Ouvidos na Comissão Parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, por requerimento do PCP, Inês Cardoso, directora do JN, afirmou mesmo que o grupo, que pretende despedir entre 150 e 200 trabalhadores e que tem ordenados em atraso, apresentou “medidas [que] representam a morte” do jornal.

Os colaboradores sem contrato do JN, tal como os dos outros órgãos de comunicação social do GMG, têm cerca de dois meses de remunerações em atraso e Inês Cardoso falou da sua importância para o jornal, mostrando um mapa com a rede de correspondentes em todos os distritos do país para salientar o seu papel fundamental.

Após as perguntas dos deputados, a directora do jornal com sede no Porto disse, tal como todos os outros directores, não saber o que é o fundo que há três meses se tornou o maior accionista do grupo, onde foram aplicados os 11 milhões de euros que a GMG diz ter feito, nem qual é, de uma forma geral, o seu plano de reestruturação.

De uma coisa não tem dúvidas: “A desvalorização dos títulos que está a ser feita e o corte de custos está a ter como consequência imediata a perda de receitas.”

Inês Cardoso acusou ainda o actual administrador do grupo, José Paulo Fafe, de “divulgar números incorrectos” sobre as vendas do jornal, quando afirmou recentemente que o JN vende 11 mil exemplares em banca por dia. A directora afirmou que os números mais recentes de que teve conhecimento são de vendas de 19.327 exemplares. “É discurso de ataque directo e desvalorização do título que não compreendo”, acrescentou.

“O JN tem resultados positivos consistentes ao longo dos anos”, disse, indicando que até ao fim de Outubro o título tinha um EBITA (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) positivo de 1,97 milhões de euros.

Já Rosália Amorim, directora da TSF, afirmou que a estratégia que está a ser levada a cabo pelos accionistas “está a pôr em causa o jornalismo como o conhecemos e a liberdade”.

A responsável pela informação da rádio revelou que, quando aceitou ocupar o cargo a 2 de Outubro do ano passado, lhe foi garantido um investimento financeiro na rádio e a contratação de dez jornalistas e que, algumas semanas depois, já estavam “a falar em cortes”.

“Se não for feito um investimento, o futuro da rádio está muito comprometido e não será a TSF que é hoje”, salientou.

Vítor Santos, director de O Jogo, revelou que o jornal tem 48 pessoas nos quadros e “que trabalham mais de dez horas por dia”. Acrescentou ainda que o não pagamento das remunerações aos colaboradores externos “já está a ter consequências negativas e a obrigar os restantes jornalistas a trabalharem ainda mais”.

“É impossível aceitar que sejamos menos, já trabalhamos muito. É muito difícil pedir mais a quem dá tanto”, acrescentou.

Por fim, Bruno Mateus, director do Dinheiro Vivo, afirmou que a sua equipa tem 11 pessoas e revelou que “foi cortado todo o investimento previsto”. “O corte de investimento leva a que as nossas marcas tenham um futuro muito condicionado”, referiu.

Nesta quinta-feira, está prevista a audição de Domingos Andrade, ex-director da TSF e ex-administrador do grupo. Os partidos queriam também ouvir o administrador, José Paulo Fafe, e o accionista Marco Galinha, mas estes recusaram-se a estar presentes.

Os trabalhadores da GMG anunciaram no final da semana passada uma greve que envolve todos os órgãos de comunicação social do grupo: JN, DN, TSF, Dinheiro Vivo, O Jogo, bem como as empresas existentes na Região Autónoma da Madeira (DN Madeira) e dos Açores (Açoriano Oriental/Rádio Comercial dos Açores).

O pré-aviso de greve dos trabalhadores foi feito em simultâneo com os pré-avisos de greve do Sindicato dos Jornalistas e do Sindicato dos trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente Norte — Site Norte.

Neste momento, o GMG tem em atraso os pagamentos do subsídio de Natal e o mês de Dezembro. Tem ainda em atraso de cerca de dois meses aos colaboradores externos. Os responsáveis do grupo anunciaram recentemente que pretendem rescindir contrato com 150 a 200 trabalhadores.

Nesta quarta-feira o Parlamento aprovou por unanimidade os requerimentos do PCP e BE para a audição com carácter de urgência da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e da Autoridade para as Condições de Trabalho sobre o desrespeito pelos trabalhadores do GMG.

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