PP sondou apoio de Puigdemont à investidura de Feijóo

O principal partido da direita espanhola denunciou o PSOE por negociar com o ex-presidente catalão, um “fugitivo da justiça”, mas terá explorado um possível apoio antes dos socialistas.

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Com a amnistia, Puigdemont poderá deixar Bruxelas e regressar à Catalunha NACHO DOCE/Reuters

Os últimos meses da política espanhola foram dominados pela amnistia negociada entre Pedro Sánchez e os partidos independentistas catalães e pelos ataques permanentes do Partido Popular ao acordo que permitiu aos socialistas continuarem no poder. Para o maior partido da direita, só falar com o ex-presidente catalão Carles Puigdemont já era uma “desonra” e uma “traição” à Constituição. Mas, segundo revela nesta quarta-feira o jornal La Vanguardia, o PP também falou com responsáveis do Junts per Catalunya para “sondar” um possível apoio à investidura de Alberto Nuñez Feijóo.

Nos debates de investidura — o primeiro, que Feijóo perdeu, e o segundo, que Sánchez venceu — o líder do PP fez questão de se referir sempre a Puigdemont, o ex-presidente catalão e o político que mais beneficiou da amnistia, depois de ter saído de Espanha para evitar ser detido e julgado na sequência do referendo ilegal de 2017. Aceitar ou não os votos dos deputados de Puigdemont, disse Feijóo, era uma questão de “integridade”.

“Repito, tenho ao meu alcance os votos para ser presidente do governo. Mas não aceito o preço”, disse Feijóo quando pediu o apoio do Congresso para formar governo, em Setembro. “[Carles] Puigdemont [líder do partido Junts] quer um presidente aliado no seu empenho pessoal e partidarista. Tanto lhe faz se é do PP ou do PSOE. Aos dois ofereceu exactamente o mesmo. Assim, a única diferença só pode estar na integridade dos candidatos possíveis", justificou.

As eleições foram em Julho e logo em Agosto, antes de o PSOE ter começado a negociar com os soberanistas, Daniel Sirena, deputado do PP no parlamento catalão e ex-líder do partido na região autonómica, reuniu-se com Albert Batet, presidente do grupo parlamentar do Junts, e com Josep Rius, num hotel de Barcelona.

Batet e Rius são “ambos do círculo de máxima confiança de Puigdemont”, recorda o diário, acrescentando que no encontro esteve ainda Xavier Domínguez, assessor de comunicação eleitoral.

Sirena já admitira ter falado com ambos, mas informalmente e em actos públicos. Agora, admite a reunião num hotel, mas “assegura que não explorou nenhum pacto”, escreve o La Vanguardia. “Não negociei nada, só ouvi. Não voltei a falar com eles”, afirma.

O dirigente explica que as reivindicações do partido catalão eram inaceitáveis. “Era impossível aceitar. Não pediam a ampliação do aeroporto [de Barcelona], melhorias nas Rodalies [sistema ferroviário] ou um melhor financiamento. Só amnistia e referendo. Saí da reunião consciente de que era impossível negociar com o Junts”, disse à rádio catalã RAC 1, deixando escapar que terá sido Domínguez a promover o e encontro. “O Xavier Domínguez disse-me ‘vamos tomar um café’ e eu fui. Eu reúno-me com toda a gente”, afirmou ainda, assegurando que Feijóo só foi informado depois.

Sirera disse ainda que tomou “uma água” e que considerou o encontro como uma simples reunião de café.

Os socialistas pedem ao PP que esclareça os seus eleitores sobre estes contactos: “Apelo ao PP que conte aos seus eleitores, e que torne público, quantas reuniões teve com o Junts e o que é que falou nessas reuniões”, afirmou a ministra da Inclusão, Segurança Social e Migrações, Elma Saiz.

Feijóo “não pode passar a vida a insultar e a acusar toda a gente, enquanto aprova reuniões com Junts de que somos informados pela imprensa”, afirma um responsável do PSOE citado pelo jornal El País. “Que o diga com clareza: Junts, o partido liderado por Carles Puigdemont, é um interlocutor válido para o PP”, acrescentou. “Menos lições e praticar mais aquilo que prega.”

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