A sustentabilidade dos bilionários e das empresas é uma farsa

O nosso planeta está a aquecer devido à emissão de gases poluentes para a atmosfera, uma crise climática com efeitos cada vez mais graves. Há ainda uma relação bastante clara entre riqueza e poluição.

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Megafone P3: A sustentabilidade dos bilionários e das empresas é uma farsa EPA/LUIS FORRA
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A corrida ao investimento verde parece estar mais forte do que nunca. Há uns anos víamos as empresas de combustíveis fósseis negarem a existência das alterações climáticas causadas por emissões poluentes.

Hoje, as mesmas empresas fazem enormes campanhas de marketing sobre o tema. As multinacionais BP e TotalEnergies, por exemplo, entre as mais poluentes de sempre, fazem campanhas sobre sustentabilidade.

Um outro caso é a Shell, também entre as principais poluentes, afirma estar a investir em “energia limpa”. Ao mesmo tempo, no Verão passado, a pessoa responsável por coordenar esse investimento verde demitiu-se depois de a empresa ter dado um passo atrás e afirmar que não era um investimento lucrativo.

No fim de contas, uma empresa tem como dever gerar lucro para os seus accionistas e proprietários, essa é a única responsabilidade na direcção do seu investimento.

As empresas portuguesas não são excepção, especialmente a The Navigator Company, empresa de fabrico e comercialização de papel. Quando se entra no site desta empresa somos bombardeados com a palavra sustentabilidade, cores verdes e imagens de florestas.

Qualquer pessoa atenta sabe que este espectáculo foge à realidade. Um retrato realista seria florestas a arder, as cores das nuvens de fumo a escapar de chaminés vermelhas e brancas, e "greenwashing".

Apesar dos seus investimentos verdes, como a mudança de lâmpadas nas suas fábricas, a Navigator não deixa de ser uma das empresas mais poluentes em Portugal.

Lê-se ainda num comunicado recente que a empresa recebeu um contrato de financiamento do Banco Europeu de Investimento (BEI) que fará possível a redução de “24,6% das emissões do Grupo registadas em 2022”.

No entanto, a percentagem de redução das emissões não está a ter em conta o total das emissões. Nem sequer está a utilizar o total de emissões presentes no relatório da própria empresa. E como se o ilusionismo com números não fosse suficiente, os dados do relatório da Navigator estão incompletos.

Sendo assim, quando se utiliza dados independentes relativos a 2021, a redução é cerca de 4,4%, muito longe dos 24,6% anunciados. No mesmo comunicado, em letras pequenas, a Navigator celebra a atribuição de prémios da CPD.

Trata-se de uma organização sem fins lucrativos cujo um dos financiadores é Jeff Bezos, um bilionário que por ano, no seu dia-a-dia, emite quase tanto dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera como a Navigator sozinha.

Para além da sua vida de luxo, a sua empresa Amazon emitiu 71,27 milhões de toneladas de CO2 equivalente só em 2022. Para poder comparar, Portugal emitiu no mesmo ano 59,71 milhões de toneladas de CO2 equivalente.

Os prémios de sustentabilidade perdem credibilidade quando são atribuídos por organizações financiadas por entidades altamente poluentes, este é um dos casos. Tirando os negacionistas da extrema-direita, toda a gente compreende que aquilo que os cientistas e activistas nos têm vindo a avisar é a realidade.

O nosso planeta está a aquecer devido à emissão de gases poluentes para a atmosfera, uma crise climática com efeitos cada vez mais graves. Há ainda uma relação bastante clara entre riqueza e poluição.

Um relatório recente mostra que os 1% mais ricos emitem mais CO2 do que os 66% mais pobres. O relatório diz ainda que iriam ser precisos 1500 anos para que uma pessoa no grupo dos 99% emitisse tanto CO2 como aquilo que um dos bilionários mais ricos emite num ano.

Alguns destes bilionários dizem, no entanto, ser ambientalistas ou sustentáveis, como é o caso de Elon Musk e do já referido Jeff Bezos, duas das pessoas mais ricas do mundo. A sustentabilidade dos bilionários e das grandes empresas é uma farsa.

A ExxonMobil, uma das maiores e mais poluentes multinacionais de gás e óleo, diz ser sustentável. Se até quem mais emite se pode dizer sustentável, é preciso olhar de forma crítica para quando uma empresa o anuncia constantemente.

O investimento verde não resulta, nem vai evitar os fenómenos climáticos extremos que estão a ser cada vez mais frequentes e que estão a provocar mortes e deslocamentos ao redor do globo. Assim como não tem contribuído para reverter a tendência de cidades cada vez mais poluídas com consequências irreversíveis para a saúde.

Só uma sociedade organizada para a solidariedade e justiça pode derrubar as desigualdades de um sistema baseado na perseguição do lucro.

A falta de transparência e a manipulação de informação por parte de empresas como a Navigator, sendo esta uma das mais poluentes do país, só está a adiar a mudança necessária.

Notícia alterada: Em 2022, Portugal emitiu 59,71 milhões de toneladas de CO2 equivalente, não 59,71 toneladas de CO2.

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