Por que razão as pessoas rejeitam a ideia da psicologia como ciência?

É uma questão pertinente, porque o contributo da ciência psicológica para a sociedade só se efetiva se as pessoas a aceitarem como uma ciência.

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Nuvem de palavras associadas a psicologia DR
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“Pareces ser estudante. Universitário?”, diz o taxista. “Quase mestre em psicologia!”, responde-lhe o estudante. “Os clientes contam-nos tudo. Claro que aprendo umas coisas. Aqui ao volante, também sou em parte psicólogo.” Eis o fado do estudante de (e dos profissionais em) psicologia: cursar uma área da qual os outros, sem educação para o efeito, se sentem conhecedores. Ora, esta crença expressa pelos outros é dotada, também ela, de psicologia. O que acham as pessoas da psicologia?

As pessoas consideram a psicologia mais fácil do que outras ciências (naturais e sociais); em particular, têm uma preferência expressa pelas neurociências enquanto modelo de ciência do comportamento. Por versar sobre pessoas, as respostas da psicologia são comparadas com a experiência que elas têm dos fenómenos psicológicos. Se se alinham, a psicologia é rejeitada por apenas decalcar o senso comum. Se contrastam, é rejeitada por não dar sentido a esta experiência. Mas o que acham as pessoas que a psicologia explica?

Tomemos como exemplos “apaixonar-se” e “reconhecer uma face”. Facilmente intuímos o segundo como mais explicável pela psicologia. Isto deve-se à intensidade da experiência subjetiva destes fenómenos. As pessoas rejeitam explicações para fenómenos psicológicos associados a introspeção e experiências subjetivas intensas, e mais quando acham que apenas quem a sente é capaz de a compreender.

O meu projeto doutoral aprofunda o porquê do ceticismo dirigido à psicologia e formas de o combater. É uma questão pertinente, porque o contributo da ciência psicológica para a sociedade só se efetiva se as pessoas a aceitarem como uma ciência.

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O investigador Francisco Cruz DR

Não há nada tão intenso como aquilo que sentimos em cada momento. Se as pessoas rejeitam explicações para experiências subjetivas fortes, aquilo que sentem numa dada altura deve ser ainda menos explicável – pois têm acesso direto à experiência nesse momento. Ao medirmos e/ou induzirmos experiências psicológicas e questionarmos imediatamente as pessoas quanto à sua explicabilidade, podemos testar esta hipótese.

Depois, interessa perceber se isso tem consequência práticas – por exemplo, na utilização que as pessoas fazem de informação científica. Se as pessoas acham que algo não é cientificamente explicável, ignoram a informação com esse teor. Se pedirmos às pessoas para tomarem decisões quando diferentes fontes – científicas versus não científicas – sugerem respostas diferentes, elas utilizam menos a informação científica quando a decisão versa sobre psicologia (em comparação com outras ciências).

Por fim, interessa-nos moldar estas tendências. Se parte da rejeição de explicações psicológicas vem da crença de que a experiência pessoal é única, podemos confrontar as pessoas com evidência de que as suas experiências são semelhantes às dos outros. Ao eliminar esta ilusão de unicidade, esta intervenção deve aumentar a aceitação de explicações científicas para esses fenómenos.

Que acham de tudo isto? Afinal, não têm também todos um pouco de psicólogo?

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Aluno de doutoramento da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, aluno visitante do Departamento de Psicologia da Universidade de Princeton (Estados Unidos)

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