Alvaro, primeiro ciclone de 2024, deixa Madagáscar em estado de sítio

Tempestade tropical severa Alvaro formou-se no Canal de Moçambique no final de 2023 e vai dissipar-se no mar largo, no Índico. Fez mais de 400 feridos em Madagáscar, inundando cidades.

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Imagem de satélite da tempestade tropilcal divulgada pelo Copérnico, programa europeu de monitorização do clima União Europeia, Copernico Sentinel-3

Alvaro, o primeiro ciclone do ano no Índico formou-se no fim do ano de 2023 no Canal de Moçambique e atravessou Madagáscar nos primeiros dias de 2024, depois de ter entrado em terra em Morombe, na costa sudoeste da ilha. Ventos fortes e chuvas intensas causaram inundações e estragos em vários locais e fizeram pelo menos 421 feridos, segundo a agência noticiosa Xinhua.

Esta imagem, obtida por um dos satélites Sentinel 3 do programa europeu de monitorização do clima Copérnico no dia 1 de Janeiro, cujos dados são abertos à comunidade científica, mostra a tempestade quando estava ainda no Canal de Moçambique, antes de atravessar Madagáscar. Nesse dia, as rajadas de vento chegaram à velocidade de 140 km/hora, e a velocidade sustentada andou pelos 100 km/hora, segundo o serviço AccuWeather.

"Houve inundações na cidade, e depois uma maré de tempestade. A água entrou na maior parte das casas de Morombe, e o vento soprava com muita força! O telhado de uma escola voou", disse Sylvain Laha, director do gabinete de gestão dos riscos e catástrofes para a região de Atsimo-Andrefana, citado pela rádio francesa RFI.

As zonas mais baixas são difíceis de socorrer quando há tempestades deste tipo a atingir esta região do oeste de Madagáscar. "No caso de Tulear e de Morombe, quando chove, é muito difícil retirar a população e escoar a água para o mar. É preciso usar bombas eléctricas para retirar as águas estagnadas. Temos quatro a funcionar e vão chegar mais", disse também à RFI o presidente da câmara de Tulear, Lydore Solondraza.

Não são conhecidos, até ao momento, mortos ou desaparecidos, frisa a Xinhua, citando dados oficiais. Mas ficaram inundados 200 hectares de arrozais e tombaram postes de electricidade em muitos locais, interrompendo o fornecimento de energia.

Devido ao seu perfil climático e situação geográfica, Madagáscar enfrenta um risco de catástrofes e um ciclo de urgências humanitárias, em que ciclones como o Alvaro ou ainda mais fortes provocam cheias que causam enormes estragos às infra-estruturas e produção agrícola. O Sul, de clima muito seco, enfrenta uma das maiores secas de sempre, que tem provocado danos terríveis nas colheitas e, por extensão, na nutrição humana.

Em 2021, as Nações Unidas classificaram a ilha no Índico como “o primeiro país onde se passa fome devido às alterações climáticas”. Porém, outros especialistas que analisaram os dados pluviométricos, ou conhecem a realidade local, argumentam que esta explicação não é suficiente. A pobreza extrema da população e a pandemia de covid, por exemplo, são factores que contribuíram fortemente para criar uma enorme crise de insegurança alimentar e humanitária no sul de Madagáscar.

O Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique tem em vigor um alerta vermelho para os distritos da Beira e Nhamatanda, por causa da tempestade tropical severa (o mesmo que ciclone) Alvaro, embora considere não “constituir perigo para a parte continental” do país. No entanto, a região do canal de Moçambique continuará afectada por ventos e chuvas fortes, bem como por trovoadas severas.

Durante esta terça-feira, a tempestade tropical atravessa o interior de Madagáscar e enfraqueceu (rajadas máximas de 75 km/hora, segundo o AccuWeather). Desloca-se no sentido Leste, para regressar ao Índico, saindo por essa costa inflectindo numa direcção sudeste, o que a afastará da ilha de Reunião. Espera-se que a tempestade se dissipe até dia 4, quinta-feira.