Cinco pessoas foram mortas em Moçambique devido a desinformação sobre a difusão de cólera

Vítimas mortais eram acusadas por populares de difundir casos de cólera. A doença transmite-se, sobretudo, por contacto com água ou alimentos contaminados por fezes de pessoas infectadas.

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Centro de tratamento de cólera montado depois da passagem do ciclone Idai em Moçambique, em 2019 Reuters/MIKE HUTCHINGS (Arquivo)
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Pelo menos cinco pessoas foram mortas em Moçambique em actos de violência causada por uma onda de desinformação sobre a cólera. Segundo a imprensa moçambicana, 26 pessoas terão ficado feridas nesse contexto.

As vítimas são, segundo a agência Lusa, maioritariamente líderes locais e profissionais de saúde que terão sido, alegadamente, acusados de provocarem a difusão de casos de cólera no distrito de Chiure, na província de Cabo Delgado.

Citado pela Rádio Moçambique, Bernardino Rafael, comandante-geral da Polícia moçambicana, pediu à população de vários distritos nas províncias de Cabo Delgado, Nampula e Zambézia “para parar de atacar a liderança comunitária, alegadamente porque eles é que propagam a cólera”.

A cólera é uma doença que se transmite, normalmente, quando uma pessoa consome água ou alimentos contaminados por fezes de alguém infectado. Segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças norte-americano, a doença difunde-se mais facilmente em áreas com falta de condições sanitárias e de tratamento de água. “É improvável que a doença se transmita directamente entre pessoas. Desta forma, contacto casual com uma pessoa infectada não é um factor de risco para ficar doente”, explica a entidade norte-americana.

Os sintomas tendem a ser leves, mas a doença assintomática. Em alguns casos, caso o tratamento seja tardio, podem surgir sintomas como diarreia, vómitos e dores musculares. Sem tratamento, pode ser mortal.

Segundo a Lusa, o ministro do Interior de Moçambique anunciou a detenção de pelo menos 16 pessoas entre Maio e Novembro na província de Sofala.

A 19 de Dezembro, a Rádio Moçambique já tinha noticiado a destruição de nove casas de construção precária em Nampula, nas quais viviam líderes comunitários e outros indivíduos, também acusados de difundirem a doença na cidade.

Não é a primeira vez que a desinformação sobre a cólera provocam violência em Moçambique. Em 2010, sete pessoas morreram num motim provocado por outro boato de que profissionais de saúde estariam a difundir cólera.

Desde Setembro de 2023, quando começou o actual surto de cólera, já houve, segundo a Lusa, cerca de 40 mil casos da doença e pelo menos 153 mortos.

Na Índia, em 2018 várias pessoas morreram, linchadas por multidões em fúria, depois de campanhas de desinformação terem acusado as vítimas de estarem a raptar e a violar crianças. A empresa dona do WhatsApp, a Meta, onde estas campanhas foram feitas, teve de intervir publicamente, pagando publicidade em vários jornais alertando para os riscos da desinformação.

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