Cinco pessoas foram mortas em Moçambique devido a desinformação sobre a difusão de cólera
Vítimas mortais eram acusadas por populares de difundir casos de cólera. A doença transmite-se, sobretudo, por contacto com água ou alimentos contaminados por fezes de pessoas infectadas.
Pelo menos cinco pessoas foram mortas em Moçambique em actos de violência causada por uma onda de desinformação sobre a cólera. Segundo a imprensa moçambicana, 26 pessoas terão ficado feridas nesse contexto.
As vítimas são, segundo a agência Lusa, maioritariamente líderes locais e profissionais de saúde que terão sido, alegadamente, acusados de provocarem a difusão de casos de cólera no distrito de Chiure, na província de Cabo Delgado.
Citado pela Rádio Moçambique, Bernardino Rafael, comandante-geral da Polícia moçambicana, pediu à população de vários distritos nas províncias de Cabo Delgado, Nampula e Zambézia “para parar de atacar a liderança comunitária, alegadamente porque eles é que propagam a cólera”.
A cólera é uma doença que se transmite, normalmente, quando uma pessoa consome água ou alimentos contaminados por fezes de alguém infectado. Segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças norte-americano, a doença difunde-se mais facilmente em áreas com falta de condições sanitárias e de tratamento de água. “É improvável que a doença se transmita directamente entre pessoas. Desta forma, contacto casual com uma pessoa infectada não é um factor de risco para ficar doente”, explica a entidade norte-americana.
Os sintomas tendem a ser leves, mas a doença assintomática. Em alguns casos, caso o tratamento seja tardio, podem surgir sintomas como diarreia, vómitos e dores musculares. Sem tratamento, pode ser mortal.
Segundo a Lusa, o ministro do Interior de Moçambique anunciou a detenção de pelo menos 16 pessoas entre Maio e Novembro na província de Sofala.
A 19 de Dezembro, a Rádio Moçambique já tinha noticiado a destruição de nove casas de construção precária em Nampula, nas quais viviam líderes comunitários e outros indivíduos, também acusados de difundirem a doença na cidade.
Não é a primeira vez que a desinformação sobre a cólera provocam violência em Moçambique. Em 2010, sete pessoas morreram num motim provocado por outro boato de que profissionais de saúde estariam a difundir cólera.
Desde Setembro de 2023, quando começou o actual surto de cólera, já houve, segundo a Lusa, cerca de 40 mil casos da doença e pelo menos 153 mortos.
Na Índia, em 2018 várias pessoas morreram, linchadas por multidões em fúria, depois de campanhas de desinformação terem acusado as vítimas de estarem a raptar e a violar crianças. A empresa dona do WhatsApp, a Meta, onde estas campanhas foram feitas, teve de intervir publicamente, pagando publicidade em vários jornais alertando para os riscos da desinformação.