10 mitos sobre as alterações climáticas desmascarados

A desinformação sobre o clima está em todo o lado. Este guia ajuda-nos a reconhecer e refutar os principais mitos e repor a verdade. Os cientistas não estão de acordo? O clima está sempre a mudar?

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A maioria dos mitos sobre as alterações climáticas tem sido perpetuada pelas empresas de combustíveis fósseis e pelos seus aliados políticos Getty images
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Os cientistas de todo o mundo concordam que as alterações climáticas são reais, estão a acontecer agora e são causadas pela queima de combustíveis fósseis. No entanto, há muitos mitos que persistem sobre as alterações climáticas.

A maioria dos mitos sobre as alterações climáticas tem sido perpetuada pelas empresas de combustíveis fósseis, pelos seus aliados políticos e por outros com interesses no status quo. Durante décadas, gastaram milhões de dólares em publicidade, "estudos" de grupos de reflexão e lobbies para confundir o público, os decisores políticos e também a imprensa e, assim, impedir a acção climática.

Isto levou alguns jornalistas a suavizar a sua cobertura - por exemplo, não relacionando as alterações climáticas com condições meteorológicas extremas - deixando o público mal informado. Este guia ajuda a reconhecer e saber como refutar estes mitos.

MITO 1: Os cientistas não estão de acordo sobre as alterações climáticas

FACTO: Mais de 99% dos cientistas do clima concordam que a actividade humana está a sobreaquecer o planeta.

EXPLICAÇÃO: Poucas ou nenhumas questões científicas foram tão estudadas e debatidas como as alterações climáticas. O consenso científico é esmagador e duradouro. Kate Marvel, uma cientista climática da agência espacial norte-americana (NASA, na sigla em inglês), afirma: "Estamos mais certos de que os gases com efeito de estufa estão a causar as alterações climáticas do que estamos certos de que fumar causa cancro." Os cientistas concordam, na sua esmagadora maioria, que a queima de petróleo, carvão e gás está a sobreaquecer o planeta. O consenso científico é peremptório quanto ao facto de a queima de combustíveis fósseis estar a fazer subir perigosamente o termómetro global.

MITO 2: As alterações climáticas são um embuste político

FACTO: As leis da física não se importam com ideologias políticas. As alterações climáticas causadas pelo homem são um facto científico, como concluíram praticamente todas as instituições científicas do planeta.

EXPLICAÇÃO: Os líderes políticos de todo o espectro ideológico, desde o autarca de Miami, Francis Suarez, à direita, até ao Senador dos Estados Unidos (EUA), Bernie Sanders, à esquerda, têm apoiado acções para evitar a catástrofe climática. Os governos nacionais, estaduais e locais de vários quadrantes políticos em todo o mundo estão a tomar essas medidas. O consenso científico é esmagador quanto ao facto de a queima de combustíveis fósseis estar a sobreaquecer perigosamente o planeta

MITO 3: Não é possível saber que os seres humanos estão a causar alterações climáticas

FACTO: Podemos, e sabemos. A temperatura global e os níveis de CO2 na atmosfera têm aumentado a par e passo desde que os seres humanos começaram a queimar grandes quantidades de carvão e outros combustíveis fósseis durante a Revolução Industrial. (Fonte: NASA)

EXPLICAÇÃO: A NASA, a NOAA, o Serviço Meteorológico do Reino Unido, o Serviço Meteorológico do Japão e o Centro Europeu de Previsão do Tempo a Médio Prazo são apenas algumas das principais instituições científicas que compilaram estes registos de temperatura e CO2. Os cientistas sabem, sem qualquer margem para dúvida, através do estudo de dados antigos de temperatura e CO2, que a actividade humana é o motor das alterações climáticas.

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Painéis solares ganham terreno ao lado de uma refinaria em Richmond, na Califórnia

MITO 4: O clima está sempre a mudar, hoje não é diferente

FACTO: É verdade que o clima da Terra já mudou antes. Mas nunca tão rapidamente como agora, devido aos 250 anos de queima de combustíveis fósseis.

EXPLICAÇÃO: A actual taxa de libertação de carbono induzida pelo homem é "sem precedentes nos últimos 66 milhões de anos", segundo um estudo da revista científica Nature de 2016. Os cientistas concordam que o clima nunca mudou tão rapidamente na história da humanidade e que essas mudanças são o resultado da queima de combustíveis fósseis, o que ameaça seriamente o bem-estar humano.

MITO 5: Não há nada que possamos fazer em relação às alterações climáticas, por isso, porquê darmo-nos ao trabalho

FACTO: Os cientistas têm declarado repetidamente que a humanidade já dispõe das ferramentas e tecnologias necessárias para travar as alterações climáticas e evitar os seus piores impactos. O Relatório de Síntese do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) classifica as cinco abordagens principais que podem limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius.

EXPLICAÇÃO: Os seres humanos vão ter de viver com as temperaturas mais quentes de hoje durante muitos anos, mas ainda podemos limitar drasticamente os danos futuros, se tomarmos medidas firmes agora. As soluções para o clima são abundantes, de senso comum e, muitas vezes, economicamente superiores às práticas actuais. Muitos governos e empresas já estão a implementar soluções de energia verde, trânsito de massas, resiliência costeira e agricultura inteligente em termos climáticos. O Projeto Drawdown também tem uma longa lista de soluções específicas para reduzir as emissões.

MITO 6: Não podemos viver sem petróleo

FACTO: As sociedades modernas não podem deixar o petróleo de um dia para o outro, mas a queda dos custos e a rápida expansão da energia solar, eólica e de outras fontes de energia renováveis mostram que podemos deixar os combustíveis fósseis para trás, se quisermos.

EXPLICAÇÃO: A noção de que uma economia saudável e um ambiente saudável não podem andar juntos é um mito pernicioso que as empresas de combustíveis fósseis e outros interesses especiais há muito promovem. A economia actual ainda depende em grande parte do petróleo, mas em muitos casos, a energia solar e outras fontes de energia renováveis custam agora menos do que os combustíveis fósseis.

MITO 7: E a China? Os outros países são piores

FACTO: Os EUA emitiram mais gases com efeito de estufa do que qualquer outro país na história. A China ultrapassou recentemente os EUA como o maior emissor anual. Mas o que importa na atmosfera são as emissões cumulativas e não as anuais, o que torna os EUA os maiores responsáveis pelas alterações climáticas.

EXPLICAÇÃO: As alterações climáticas são, por definição, um desafio global. Só pode ser enfrentado se todos os países, e especialmente os maiores emissores como os EUA e a China, eliminarem rapidamente os combustíveis fósseis. Embora as emissões anuais dos EUA tenham diminuído ligeiramente nos últimos anos, os EUA continuam a ser o maior poluidor climático da história, seguidos pela China.

MITO 8: Um aumento da temperatura de 1,5 graus Celsius não é nada de especial

FACTO: Actualmente, as temperaturas globais estão cerca de 1,2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. Este aumento já intensificou as condições climatéricas extremas registadas em todo o mundo. Os impactos intensificar-se-ão quanto mais nos aproximarmos dos 1,5 graus Celsius.

EXPLICAÇÃO: Uma diferença de temperatura de 1,2 graus Celsius não parece muito para o cidadão comum. Mas o sistema climático não funciona assim. Veja-se os impactos devastadores que já se fazem sentir em todo o mundo depois de "apenas" 1,2 graus Celsius de aumento da temperatura. Dois graus de aumento da temperatura podem parecer triviais, mas os cientistas afirmam que mesmo os actuais 1,2 graus Celsius de aumento estão a provocar o clima extremo que aflige agora grande parte do planeta.

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A crise climática tende a tornar mais frequentes e intensos os fenómenos climáticos extremos, tais como as inundações recentes em Cairns, Queensland, na Austrália BRIAN CASSEY/Lusa

MITO 9: Os seres humanos, as plantas e os animais podem adaptar-se às alterações climáticas

FACTO: A adaptação tem sido uma característica das espécies bem-sucedidas há centenas de milhões de anos. Mas há limites rigorosos quanto à rapidez - e à extensão - com que as pessoas, as plantas e os animais se podem adaptar.

EXPLICAÇÃO: O rápido aumento das temperaturas actuais e a alteração dos padrões de precipitação já estão a dificultar a adaptação de muitas espécies. Um relatório de 2019 da Plataforma Intergovernamental Científica e Política sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos alertou para o facto de um milhão de espécies animais e vegetais estarem em risco de extinção, graças às alterações climáticas e à destruição de habitats. A adaptação é imperativa na era das alterações climáticas, mas só pode ajudar até certo ponto se não deixarmos de aquecer demasiado o planeta.

MITO 10: Ninguém se preocupa com as alterações climáticas

FACTO: As pessoas em todo o mundo estão cada vez mais preocupadas com as alterações climáticas e querem saber como as travar.

EXPLICAÇÃO: O Programa de Comunicação sobre Mudanças Climáticas de Yale descobriu que 66% dos americanos estão "um pouco preocupados" ou "muito preocupados" com as mudanças climáticas. Um inquérito do Pew Research Center de 2021, realizado em 16 países, concluiu que 72% das pessoas estão "um pouco" ou "muito" preocupadas com a possibilidade de as alterações climáticas as prejudicarem pessoalmente.

Além disso, o Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo concluiu que a maioria das pessoas nos EUA - especialmente as pessoas com menos de 40 anos - quer mais notícias sobre a mudança do clima. Cada vez mais dados de inquéritos indicam que a maioria das pessoas se preocupa com as alterações climáticas e, sobretudo, quer saber como resolvê-las.

Este texto faz parte da iniciativa Covering Climate Now, uma colaboração jornalística global que inclui o PÚBLICO/Azul e que pretende reforçar a cobertura da história do clima.