Conselhos a um aspirante a jornalista

Resposta ao artigo de opinião Resumo das primeiras semanas de rede Unir: “fora de serviço”, de Ari Ferreira.

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Nelson Garrido

Ser “entusiasta de transportes públicos” é um excelente princípio, mas, como se percebe, não implica ser especialista nos mesmos. Ser “aspirante a jornalista” é um objectivo de vida louvável, mas, como se constata, não garante apreço pela verdade dos factos.

Vem isto a propósito do artigo “Resumo das primeiras semanas de rede UNIR: ‘fora de serviço’”, assinado por Ari Ferreira, no P3. À boleia do tema, o autor faz críticas destemperadas à STCP e ao Município do Porto.

Ora, seria de esperar de um “entusiasta de transportes públicos” maior conhecimento dos ditos e de um “aspirante a jornalista” maior rigor nos factos, maior consistência nas observações e maior veracidade nas opiniões. Nada disto acontece, o que nos deixa apreensivos quanto à sua futura carreira de jornalista, profissão que exige, mesmo em artigos de opinião, o mínimo de respeito pela factualidade.

Mas vamos, então, a factos. Com a entrada em funcionamento da rede UNIR, o sistema de transporte interurbano entrou de facto em rotura, cuja competência é da Área Metropolitana do Porto e nada tem que ver com o Município do Porto ou a STCP. Mas tal aconteceu porque os operadores privados não cumpriram com a oferta contratualizada.

Um exemplo disso é a linha V94, entre São Martinho do Campo e o Porto, cuja operação era garantida por uma parceria de exploração entre a Valpi e a STCP. Com a implementação da rede UNIR, a oferta contratualizada para esta linha não tem sido cumprida. E este incumprimento tornou necessário um reforço dos serviços da STCP, alocando mais recursos naquele corredor, bem como nos de São Roque da Lameira ou do Freixo.

Os 48 novos autocarros 100% eléctricos da STCP, que entram em circulação no primeiro trimestre de 2024, vão aumentar a capacidade operacional da empresa, permitindo o reforço das linhas existentes e a criação de uma nova ligação entre o Terminal Intermodal de Campanhã (TIC) e o Pólo Intermodal da Asprela. No entanto, é importante sublinhar que não compete à STCP a assunção de responsabilidades da rede UNIR no que concerne à operação da rede intermunicipal.

Reconhecendo tratar-se de um trabalho exigente e árduo, compete somente à AMP fazer respeitar os contratos celebrados com as empresas privadas, exigindo o cumprimento da oferta da UNIR e a disponibilização da informação ao público, essenciais no planeamento de qualquer viagem.

O Município do Porto fez o seu trabalho de casa. Construiu e melhorou as condições dos terminais e interfaces e, em articulação com a STCP, tem participado activamente na definição da oferta de transporte público rodoviário, na criação de novas linhas e no aumento de capacidade do sistema.

Recorde-se que o Município está comprometido com o combate às alterações climáticas, de tal forma que antecipou a neutralidade carbónica na cidade para 2030. Ora, a descarbonização dos transportes é fundamental para atingir tão ambicioso objectivo, uma vez que o sector representa cerca de 40% do total de emissões no Porto.

A aposta na mobilidade sustentável e colectiva, a reorganização de todo o sistema de transportes públicos e a promoção do cidadão multimodal são prioridades assumidas pelo Município do Porto. Para o efeito, e determinado na melhoria da eficiência de todo o sistema, o Município reestruturou a oferta e as redes de transportes. Fê-lo através da construção e implementação de terminais rodoviários e interfaces, que permitem uma articulação, em rede, de todos os serviços e modos de transporte. A liderar este conjunto de investimentos encontra-se o TIC, cuja entrada em funcionamento permitiu retirar aproximadamente mil autocarros por dia do centro da cidade.

Nas infra-estruturas existentes na cidade do Porto está assegurada a devida conexão entre o sistema de transporte urbano – rede da STCP e Metro do Porto – e os sistemas de transportes intermunicipais, inter-regionais e nacionais referentes a viagens de médio e longo curso, como são os casos dos comboios urbanos ou das empresas de transporte público rodoviário privado da AMP, que operam com a marca UNIR.

Em corredores comuns, fora do Porto, quer a STCP quer a UNIR exploram em regime de concorrência. Neste pressuposto, cabe à STCP proporcionar aos passageiros um serviço directo entre o centro e os principais pólos geradores de viagens na periferia.

Como se vê, a mobilidade na AMP e na cidade do Porto assume uma complexidade que não é compatível com achismos de entusiastas dos transportes e, muito menos, com falhas de rigor factual de aspirantes a jornalistas.

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