“É uma situação normal: todos os anos ocorrem infecções da gripe”, diz pneumologista
Presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia diz que o que está a acontecer nesta época gripal “é o que acontece em todos os Invernos” e frisa que grupos de risco são os que merecem mais atenção.
A circulação do vírus da gripe está com “tendência crescente”, como dá conta relatório do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) divulgado nesta quinta-feira. Nos serviços de urgência hospitalares assistiu-se, nesta semana, a períodos de espera longos, com doentes a aguardar horas a fio para serem atendidos, sobretudo na região de Lisboa. É uma situação que poderá vir a só aliviar na próxima semana. A época gripal é, neste ano, diferente da de anos anteriores? O médico e presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, António Morais, desdramatiza e sublinha: “Todos os anos há picos de infecção. Todos os anos acontece este fenómeno, e é perfeitamente normal.”
O que está a acontecer na época gripal deste ano? Há motivo para alarme?
O que está a acontecer é o que acontece em todos os Invernos. Em primeiro lugar, há uma situação que é normal, que é de haver picos de infecções respiratórias por vírus que, habitualmente, infectam nesta época, sendo que, neste momento, o que mais se destaca é o vírus da gripe, o influenza.
Todos os anos temos picos de infecção que, obviamente, variam de ano para ano. Há anos em que há uma frequência maior de infecções relativamente a outros. Mas todos os anos acontece este fenómeno, e é perfeitamente normal.
O que não é normal, embora também ocorra todos os anos, é a resposta do sistema de saúde, que não consegue abarcar a afluência que existe nestas situações. Isto é algo que tem acontecido de ano para ano, mas o facto de acontecer de ano para ano não nos pode levar a achar como normal. Existe um problema de organização que tem de ser resolvido e não temos tido essa capacidade.
Quer com isso dizer que, face a este pico de infecções e também à falta de resposta, as próximas semanas não serão mais calmas?
Estes picos da gripe habitualmente duram duas a três semanas. Portanto, é perfeitamente possível que ainda tenhamos mais alguns dias nesta situação. Na época de Inverno é normal ocorrerem situações de infecções respiratórias, nomeadamente víricas, e há vários vírus que nesta época condicionam esta situação, como o vírus sincicial respiratório e outros vírus que estão em circulação.
E em relação à Gripe A? Depois de os últimos Invernos terem sido dominados pela covid-19, considera que estamos agora mais preocupados com a possibilidade de uma pandemia?
Há várias variantes da gripe que vão variando ao longo dos anos e que também vão sendo incluídas nos programas vacinais. A Gripe A é a gripe sazonal, que tem dois tipos de vírus (A e B). Independentemente do vírus, é caracteristicamente sazonal.
Esta questão da pandemia traumatizou muito, foi algo que nos marcou. Mas isto nada tem que ver com uma pandemia, é uma situação normal. Todos os anos ocorrem infecções com o vírus da gripe e existem variações do número de infectados de ano para ano.
A gripe é, em grande parte, uma infecção autolimitada. Isto é, que ocorre entre três e cinco dias e que necessita apenas de medicação sintomática, seja contra a febre ou contra as dores musculares, por exemplo. Além disso, existem os grupos de risco e esses, sim, devem ser objecto da nossa atenção porque, como são as pessoas a partir dos 60 anos ou que têm co-morbilidades, uma situação gripal pode levar à descompensação da doença de base.
Essa descompensação pode criar uma situação clínica instável, que muitas vezes é grave e que exige hospitalização e que também pode colocar a vida destes doentes em risco. É aqui que os hospitais devem ter capacidade para solucionar estas situações, que são as que precisam de hospital e de avaliação.