Global Media, uma má notícia a terminar o ano

As empresas de comunicação social não são iguais às que fabricam “móveis ou sapatos”, ao contrário do que dizia há três anos um líder partidário.

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É uma situação sinistra aquela que se vive actualmente num dos mais importantes grupos de comunicação social do país, o da Global Media, que detém os títulos do Diário de Notícias, Jornal de Notícias, TSF, O Jogo e o Açoriano Oriental (o mais antigo jornal em Portugal, fundado em 1835). De um dia para o outro, 530 trabalhadores ficaram a saber que os accionistas não têm dinheiro para pagar os salários de Dezembro e que não sabem quando o poderão fazer.

O anúncio foi feito não só de supetão, como ocorre pouco mais de um mês após uma recomposição accionista do grupo, em que o novo CEO da Global Media, José Paulo Fafe (que representa o accionista principal, o World Opportunity Fund), se desdobrou em declarações sobre o reforço das redacções, um maior investimento e as melhores condições para o exercício do jornalismo.

Nos últimos dias, porém, assistiu-se ao contrário do anunciado: incumprimento do pagamento de salários a trabalhadores, demissão de direcções editoriais, anúncio de despedimento colectivo e troca pública de acusações entre accionistas (Marco Galinha e WOF) sobre a actual situação da empresa, o que agudiza ainda mais o clima de instabilidade insustentável que se vive.

Nos últimos 30 anos, Portugal assistiu ao fecho de uma série de empresas de comunicação social, fazendo dos títulos que ainda existem uma espécie de resistentes. O país, por exemplo, tem hoje apenas quatro jornais diários generalistas de âmbito nacional, sendo que dois, JN e DN, pertencem à Global Media.

O papel do jornalismo, crucial para um país democrático, é cada vez mais essencial nos dias de hoje perante os desafios e ameaças aos mais básicos direitos humanos, à liberdade de expressão e ao pluralismo que grassam até mesmo na Europa.

As empresas de comunicação social não são iguais às que fabricam “móveis ou sapatos", ao contrário do que dizia há três anos um líder partidário. Todo o país deve, pois, olhar com preocupação para o que, de repente, se está a passar na Global Media.

A nova presidente da ERC, Helena Sousa, já foi ao Parlamento garantir estar a acompanhar de perto a situação na Global Media, mas ainda não foi possível averiguar, por exemplo, a identidade dos proprietários do fundo WOF, como determina a lei da transparência aprovada em 2015 com muito boas intenções, mas com poucos efeitos práticos, ou avaliar as condições em que o empresário Marco Galinha fez a venda ao WOF.

O ano termina com um terramoto na comunicação social e, tal como nos terramotos literais, há sempre vítimas directas e indirectas. As directas são os 530 trabalhadores, as indirectas somos todos nós enquanto sociedade.

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