Global Media sem dinheiro para pagar salários de Dezembro

Responsáveis pelo grupo que detém o Diário de Notícias, Jornal de Notícias, O Jogo e TSF dizem que a situação é “extremamente grave”.

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Os trabalhadores do JN fizeram greve no início do mês contra o anunciado despedimento colectivo LUSA/FERNANDO VELUDO
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A comissão executiva do Global Media Group (GMG) comunicou nesta quinta-feira aos trabalhadores não existirem “à data de hoje condições que permitam o pagamento dos salários deste mês”.

Em comunicado interno, os responsáveis pelo grupo que detém o Diário de Notícias (DN), Jornal de Notícias, O Jogo e TSF, entre outros, diz ter desenvolvido esforços “ao longo das últimas semanas no sentido de assegurar em tempo útil o processamento dos salários referentes ao mês de Dezembro”, mas não ter conseguido reunir a verba necessária para o fazer.

“Tal como foi comunicado aos directores editoriais numa reunião mantida na manhã de hoje, a situação financeira do GMG é extremamente grave, em particular após o inesperado recuo do Estado português no negócio já concluído para a aquisição das participações que o grupo possui na agência Lusa”, é escrito no comunicado.

A comissão executiva justifica ainda o atraso com a “injustificada suspensão da utilização de uma conta caucionada existente no Banco Atlântico Europa há cerca de seis anos, bem como de todo o aproveitamento político-partidário que, em época pré-eleitoral, tem sido feito em redor do grupo”.

“Neste momento, a comissão executiva não pode adiantar nem se [pode] comprometer com qualquer data para o pagamento dos salários de Dezembro, podendo unicamente garantir estar a fazer todos os esforços para que o atraso desse pagamento seja o menor possível”, acrescenta.

Os responsáveis pela GMG dizem estar cientes “das graves dificuldades que uma situação deste tipo acarreta junto dos trabalhadores e do óbvio sentimento de revolta que o não-pagamento de salários obviamente gera”, mas apelam, “em nome do futuro do grupo, à compreensão possível por parte de todos os funcionários, solicitando-lhes o empenho possível durante este período”.

“A comissão executiva está a adoptar um conjunto de medidas que garantam a sobrevivência e a normalização de procedimentos para que, a partir de Janeiro, [se] possam salvaguardar a viabilização e a salvação das diferentes marcas e do próprio Global Media – um processo que só terá êxito se contar com a participação e o esforço de todos”, conclui.

Os trabalhadores do grupo revelaram no início desta semana que a campanha de angariação de fundos para apoiar os colaboradores do grupo sem contrato, que ainda não receberam os pagamentos referentes ao mês de Outubro, tinha reunido cerca de dez mil euros.

Reuniões e plenários

Os representantes dos trabalhadores reuniram-se nesta quinta-feira com a CGTP. Um deles disse ao PÚBLICO que o ambiente nas redacções dos diversos órgãos de comunicação social “é péssimo”.

Depois do comunicado desta quinta-feira, o DN marcou um plenário para esta sexta-feira, “simbolicamente no dia do 159.º aniversário do jornal". Sobre as rescisões que já tenham sido feitas não têm informações.

Já as redacções do Jornal de Notícias e d'O Jogo reuniram-se ainda nesta quinta-feira em plenário para responder ao anúncio de não pagamento dos salários de Dezembro. Os jornalistas do jornal desportivo denunciam que à quebra dos compromissos financeiros da empresa soma-se um "clima irrespirável e de intimidação" e criticam José Paulo Fafe, presidente da comissão executiva da Global Media.

"Que benefícios económicos e reputacionais trouxe para o grupo a constante descredibilização em praça pública dos títulos do GMG?", questionam, condenando ainda a recusa do administrador em responder perante a Assembleia da República sobre a situação no grupo. "A vida das pessoas não é arma de arremesso político e o interesse e preocupações unânimes dos partidos com assento parlamentar apenas relevam a importância do jornalismo e a gravidade da situação no GMG", lê-se na acta do plenário d'O Jogo.

Os jornalistas do JN, por seu turno, sublinham os "prejuízos operacionais e a degradação dos conteúdos decorrentes da falta de pagamento aos colaboradores, que deixam a descoberto extensas faixas de território, e aos fornecedores de serviços essenciais ao funcionamento de uma redacção (agências noticiosas e suportes digitais, por exemplo) e da actuação da comissão executiva", que acusam de ter gerado "danos reputacionais" ao grupo através de várias intervenções públicas nas últimas semanas.

Na rádio, a comissão de trabalhadores da TSF enviou esta quinta-feira "uma pergunta simples" à administração: "Como é que sugerem que os trabalhadores sobrevivam?". No comunicado, os jornalistas lembram ainda as várias questões que continuam sem resposta dos responsáveis pelo GMG: sobre o futuro da TSF, a sua nova direcção, o negócio da aquisição das participações do grupo na agência Lusa, a situação financeira da empresa ou a recusa do CEO José Paulo Fafe em responder perante a Assembleia da República.

A redacção da TSF esteve também reunida em plenário esta quarta-feira, 27 de Dezembro, tendo decidido por unanimidade "recomendar aos trabalhadores a suspensão dos trabalhos extra que fazem para a TSF, caso estes não sejam pagos até 15 de Janeiro".

Os responsáveis pelo grupo vão começar a ser ouvidos no Parlamento na próxima semana. José Paulo Fafe já fez saber que não vai estar presente.

O GMG anunciou recentemente que pretende rescindir contratos com cerca de 150 trabalhadores.

Notícia actualizada às 23h40 para acrescentar informação do comunicado da comissão de trabalhadores da TSF à administração.

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