A vida sem sentido
Gritou de dor ou de raiva ou de niilismo ou de absurdo existencialista, dizendo que não fazia sentido, a vida não tinha sentido, contrariando desse modo o tal filósofo que achava que sim.
Numa noite pouco luarenta, a São pôde finalmente encontrar-se com o Urso no lugar da serra onde aquele se escondia da polícia, num pequeno lagar abandonado, junto a um poço e a uma figueira que cobria a ruína. Dois dias antes, enquanto regava a horta, a São havia encontrado num vaso de salsa um bilhete escrito com a tortuosa letra do Urso, uma palavra apenas, mas o suficiente para o Severo saber a que se referia, quando a São lho mostrou: era onde em tempos escondia material para contrabando. Ao meu Carlitos ninguém o apanha, disse ele, leva-lhe pão e chouriço, filha, que deve estar precisado, leva-lhe um cobertor, eu não posso ir que as montanhas não gostam de cadeiras de rodas, leva-lhe cigarros.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.