Um carvalho com 300 anos morreu, e de um dos seus ramos nasceu um banco

Carvalho-branco centenário, um dos mais antigos de Maryland, nos Estados Unidos, estava a morrer e foi cortado. O artista Colin Vale usou um dos ramos para esculpir um banco, inaugurado neste mês.

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O escultor Colin Vale transformou parte de um carvalho com cerca de 300 anos num banco em Maryland, nos Estados Unidos Bruce Guthrie/DR
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Quando, no início deste ano, um longo galho caiu de uma das árvores mais antigas (e amadas) de Maryland, nos Estados Unidos (EUA), o escultor Colin Vale inspeccionou-o e começou a imaginar como poderia transformá-lo numa escultura.

Baptizado como carvalho Linden, o maior carvalho-branco (Quercus alba) do condado de Montgomery existiu durante cerca de 300 anos em North Bethesda, Maryland, antes de ser serrado em Julho para evitar que se tornasse um perigo para a segurança pública.

Na esperança de preservar a memória da árvore, os funcionários do condado contrataram o artista Colin Vale, que estudou a saúde dos ramos depois de os trabalhadores os terem cortado. Vale passou meses a reflectir sobre como homenagear a árvore.

Depois de seleccionar um ramo com cerca de três metros de comprimento para transformar num banco, decidiu esculpir o lado esquerdo na forma de uma bolota com raízes e folhas de carvalho. O lado direito apresenta uma escultura de um búfalo, um animal que vivia no condado na altura em que a árvore foi plantada.

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O carvalho-branco Linden teve de ser cortado em Julho de 2023 Robb Hill/The Washington Post

Colin Vale inaugurou o banco neste mês de Dezembro num parque de Kensington, no estado de Maryland, a cerca de um quilómetro e meio a norte do local onde se encontrava a árvore. O artista espera que a escultura, a que deu o nome Connected Through Time (“ligado através do tempo”, em português), retrate uma parte da vida do carvalho Linden.

“Tentei colocar-me no lugar da árvore e imaginar o que ela viu nos últimos [300] anos ou mais, disse Colin Vale, de 32 anos.

Uma árvore com 30 metros

Os funcionários do condado de Montgomery estimam que o carvalho Linden nasceu no início dos anos 1700. Com cerca de 30 metros de altura (do chão até ao topo da sua copa), o carvalho Linden detinha desde 1976 o título de o maior carvalho-branco do condado.

No Verão de 2022, a árvore tinha morrido e perdido vários membros. Colter Burkes, guarda-florestal urbano dos Parques de Montgomery, começou a pensar em maneiras de homenagear o carvalho. “Se não fizéssemos nada com ele”, disse Burkes, “poderia ficar esquecido”.

Perto do início deste ano, Burkes contactou Vale, um artista que já havia realizado várias esculturas com motosserra no condado. Colin Vale, que cresceu em Olney, no estado de Maryland, cerca de 16 quilómetros a norte de onde estava a árvore, disse que não sabia muito sobre o carvalho Linden, mas brincou dizendo que talvez já tenha inalado o seu pólen.

Na Primavera, Burkes e Vale examinaram as partes do carvalho Linden que estavam suficientemente saudáveis para serem esculpidas. Vale disse que a madeira da parte de trás da árvore estava podre, mas que havia ramos na parte da frente, alguns dos quais com cerca de seis metros de comprimento, que ainda podiam ser preservados.

Os funcionários dos parques de Montgomery decidiram cortar a árvore em Junho. No mês seguinte, Vale e alguns membros da comunidade observaram os trabalhadores a cortar os ramos, colocando a maior parte deles num triturador de madeira.

“Estou ansioso por fazer algo realmente bonito e duradouro, e talvez até comovente, a partir de um grande pedaço desta árvore, para que ela possa perdurar na memória das pessoas”, disse Vale em Julho.

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O banco esculpido a motosserra por Colin Vale Colter Burkes/Montgomery Parks

Permaneceram no local onde a árvore viveu tanto o tronco, com mais de sete metros de altura, como três placas comemorativas, que haviam sido colocadas em rochas próximas anos antes.

Mudança para Kensington

Os trabalhadores transferiram um ramo de quase três metros de comprimento para uma laje de betão de um parque local, para que Vale o esculpisse. O artista, que estava a terminar uma estátua de madeira noutro local em Kensington, definiu o desenho do banco no início de Outubro.

Esboçou um desenho com um caule que se estendia sobre o banco e desabrochava em duas folhas de carvalho, ao passo em que um segundo caule, representando a raiz principal da árvore, se enrolava na parte inferior.

Em meados de Outubro, Vale começou a cortar o ramo de quase 51 centímetros. Cinco dias por semana, passava entre três a oito horas a cortar a madeira.

Algumas semanas depois de ter iniciado o trabalho, quando o banco já estava quase todo esculpido, Vale começou a usar motosserras mais pequenas para desenhar a bolota, o búfalo, as folhas e os caules das árvores. Concluiu o projecto a 4 de Dezembro e espalhou um óleo sobre o banco para tratar a madeira.

No dia 7 de Dezembro, dezenas de pessoas juntaram-se à volta do banco, que estava coberto por uma lona vermelha. Vale levantou a lona enquanto os membros da comunidade aplaudiam a visão do banco acabado. O escultor disse que o banco provavelmente durará cerca de duas décadas antes que a madeira comece a apodrecer.

No início deste mês, Colin Vale visitou o banco e viu um homem e uma criança a inspeccionar as esculturas. A criança correu para se sentar no assento em forma de folha na parte de trás do banco – uma cena que ainda hoje faz o escultor sorrir.