Exposição
Mochos, abóboras e outras figuras “em harmonia” animam o Jardim Botânico de Lisboa
Frágil quer chamar a atenção para “a incomparável beleza e força vital do mundo natural”. Mostra está patente até 30 de Junho de 2024.
São vários os mochos em cima do tronco seco. Quem costuma visitar o Jardim Botânico de Lisboa conhece bem aquele enorme objecto de madeira, assente na horizontal no meio de um relvado (como se ele próprio fosse uma escultura), que vai servindo de habitat para vidas várias.
Mas agora há mochos em cima do tronco que nos olham, como se estivessem ali desde sempre. Os animais são feitos de cerâmica, expressivos, com penas intrincadas e uma textura viva. Estão totalmente embebidos na atmosfera do jardim, feito de árvores altas e antigas, que nestes dias se carregam da humidade e do frio do início do Inverno.
Só que as criaturas trazem algo novo, uma recordação, um olhar.
A proposta de Frágil, a exposição patente no arboreto do Jardim Botânico, da qual os mochos fazem parte, é “sensibilizar e alertar o público para a incomparável beleza e força vital do mundo natural”, lê-se na apresentação da exposição, no site do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC).
Para isso, há abóboras magníficas, uma cabeça de galo, cactos, um peixe a sair de um lago, um camaleão, um piquenique esquecido tomado por formigas, um sapo, mas também gelados a derreterem-se, laranjas suculentas e figuras humanas que parecem ter formado, séculos atrás, uma irmandade com a natureza, alimentada de húmus e grilos falantes.
Há até um dodó, resgatado da extinção, que nos surpreende enquanto caminhamos numa das alamedas.
Tara Ezeguy Bongard e Sylvain Bongard são a dupla de escultores que produziram as peças e contactaram o Jardim Botânico propondo a exposição. O casal vive em Monchique, no Algarve, e trabalhou com grés cerâmico, cozido a 1300 graus Celsius.
O resultado é uma mistura de Alice no País das Maravilhas com as viagens filosóficas do século XVIII, onde o tempo vai correndo, carregando um sapato com água da chuva, cobrindo com folhas secas as folhas de cerâmica que sustentam castanhas gigantes, deixando o limo escorregar pelo relevo das coisas, como se tudo fosse se entranhando em tudo, entre luz e sombra, vida e morte, num jardim que vai ganhando novas camadas.
“O nome da exposição, Frágil, vem da fragilidade da própria escultura e também da fragilidade do nosso meio ambiente”, explica ao PÚBLICO Sofia Marçal, museóloga e curadora do MUHNAC. “A intenção dos dois escultores é um bocadinho ecológica. Ao mesmo tempo que estão a pôr estas peças de arte, também querem chamar a atenção para o planeta.”
A mostra tem tido sucesso, diz a curadora, “de tal forma que aumentámos o prazo da exposição”, adianta. Frágil está patente desde 6 de Setembro e iria terminar a 4 de Janeiro. Agora, quem quiser poderá visitar o espaço e ver as esculturas até 30 de Junho de 2024, altura em que o Verão já chegou e imprime novas temperaturas, sabores e cheiros àquele espaço.
O MUHNAC conta com outras exposições de arte contemporânea cujas temáticas estão relacionadas com as colecções do museu, explica-nos Sofia Marçal. As esculturas de Frágil integram esse pensamento. “As peças coabitam com o jardim, não transformam, adaptam-se”, diz a curadora. “Foram escolhidas para estarem em harmonia.”