Mochos, abóboras e outras figuras “em harmonia” animam o Jardim Botânico de Lisboa

Frágil quer chamar a atenção para “a incomparável beleza e força vital do mundo natural”. Mostra está patente até 30 de Junho de 2024.

Um piquenique que foi abandonado e tomado por formigas Daniel Rocha
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Um piquenique que foi abandonado e tomado por formigas Daniel Rocha

São vários os mochos em cima do tronco seco. Quem costuma visitar o Jardim Botânico de Lisboa conhece bem aquele enorme objecto de madeira, assente na horizontal no meio de um relvado (como se ele próprio fosse uma escultura), que vai servindo de habitat para vidas várias.

Mas agora há mochos em cima do tronco que nos olham, como se estivessem ali desde sempre. Os animais são feitos de cerâmica, expressivos, com penas intrincadas e uma textura viva. Estão totalmente embebidos na atmosfera do jardim, feito de árvores altas e antigas, que nestes dias se carregam da humidade e do frio do início do Inverno.

Só que as criaturas trazem algo novo, uma recordação, um olhar.

A proposta de Frágil, a exposição patente no arboreto do Jardim Botânico, da qual os mochos fazem parte, é “sensibilizar e alertar o público para a incomparável beleza e força vital do mundo natural”, lê-se na apresentação da exposição, no site do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC).

Para isso, há abóboras magníficas, uma cabeça de galo, cactos, um peixe a sair de um lago, um camaleão, um piquenique esquecido tomado por formigas, um sapo, mas também gelados a derreterem-se, laranjas suculentas e figuras humanas que parecem ter formado, séculos atrás, uma irmandade com a natureza, alimentada de húmus e grilos falantes.

Há até um dodó, resgatado da extinção, que nos surpreende enquanto caminhamos numa das alamedas.

Tara Ezeguy Bongard e Sylvain Bongard são a dupla de escultores que produziram as peças e contactaram o Jardim Botânico propondo a exposição. O casal vive em Monchique, no Algarve, e trabalhou com grés cerâmico, cozido a 1300 graus Celsius.

O resultado é uma mistura de Alice no País das Maravilhas com as viagens filosóficas do século XVIII, onde o tempo vai correndo, carregando um sapato com água da chuva, cobrindo com folhas secas as folhas de cerâmica que sustentam castanhas gigantes, deixando o limo escorregar pelo relevo das coisas, como se tudo fosse se entranhando em tudo, entre luz e sombra, vida e morte, num jardim que vai ganhando novas camadas.

“O nome da exposição, Frágil, vem da fragilidade da própria escultura e também da fragilidade do nosso meio ambiente”, explica ao PÚBLICO Sofia Marçal, museóloga e curadora do MUHNAC. “A intenção dos dois escultores é um bocadinho ecológica. Ao mesmo tempo que estão a pôr estas peças de arte, também querem chamar a atenção para o planeta.”

A mostra tem tido sucesso, diz a curadora, “de tal forma que aumentámos o prazo da exposição”, adianta. Frágil está patente desde 6 de Setembro e iria terminar a 4 de Janeiro. Agora, quem quiser poderá visitar o espaço e ver as esculturas até 30 de Junho de 2024, altura em que o Verão já chegou e imprime novas temperaturas, sabores e cheiros àquele espaço.

O MUHNAC conta com outras exposições de arte contemporânea cujas temáticas estão relacionadas com as colecções do museu, explica-nos Sofia Marçal. As esculturas de Frágil integram esse pensamento. “As peças coabitam com o jardim, não transformam, adaptam-se”, diz a curadora. “Foram escolhidas para estarem em harmonia.”

Uma das figuras humanas na exposição <i>Frágil</i> no Jardim Botânico de Lisboa
Uma das figuras humanas na exposição Frágil no Jardim Botânico de Lisboa Daniel Rocha
Uma escultura de um sapo, ao pé do lago, no arboreto do Jardim Botânico
Uma escultura de um sapo, ao pé do lago, no arboreto do Jardim Botânico Daniel Rocha
Logo à entrada do arboreto, os visitantes deparam-se com uma cabeça de um galo
Logo à entrada do arboreto, os visitantes deparam-se com uma cabeça de um galo Daniel Rocha
<i>Homem Botânico</i> é o nome desta escultura
Homem Botânico é o nome desta escultura Daniel Rocha
Laranjas feitas de cerâmica, numa cesta, no meio do jardim
Laranjas feitas de cerâmica, numa cesta, no meio do jardim Daniel Rocha
Os mochos observam os visitantes que se aproximam
Os mochos observam os visitantes que se aproximam Daniel Rocha
Há várias esculturas que estão próximas ou dentro dos lagos no arboreto
Há várias esculturas que estão próximas ou dentro dos lagos no arboreto Daniel Rocha
As figuras humanas parecem fundidas com motivos da natureza
As figuras humanas parecem fundidas com motivos da natureza Daniel Rocha
Uma figura humana dentro de uma capa que faz lembrar uma vagem
Uma figura humana dentro de uma capa que faz lembrar uma vagem Daniel Rocha
Abóboras magníficas tomam conta do chão do jardim
Abóboras magníficas tomam conta do chão do jardim Daniel Rocha
Há várias esculturas de mochos em cima de um grande tronco morto
Há várias esculturas de mochos em cima de um grande tronco morto Daniel Rocha
As esculturas coabitam com o jardim, diz Sofia Marçal, curadora da exposição
As esculturas coabitam com o jardim, diz Sofia Marçal, curadora da exposição Daniel Rocha
Um peixe saindo do lago
Um peixe saindo do lago Daniel Rocha
Três gelados derretem-se junto do lago
Três gelados derretem-se junto do lago Daniel Rocha
<i>Cabeça de Arcimboldo</i> é o nome desta escultura
Cabeça de Arcimboldo é o nome desta escultura Daniel Rocha
Um pormenor das esculturas de <i>Frágil</i>
Um pormenor das esculturas de Frágil Daniel Rocha
As esculturas estão rodeadas das árvores altas do arboreto
As esculturas estão rodeadas das árvores altas do arboreto Daniel Rocha