Dança de rua, música combativa, teatro indagador: assim começa o 2024 do TBA
Na programação da instituição lisboeta para o primeiro trimestre de 2024 contam-se a estreia nacional das britânicas Figs in Wigs com a “adaptação feminista” de Mulherzinhas e um concerto de Prétu.
Um díptico que junta Vera Mantero e Jonathan Uliel Saldanha, um concerto de Prétu, Dougie Knight com o estilo de dança de rua krump, Alice Azevedo com uma nova criação e o regresso da coreógrafa greco-suíça Alexandra Bachzetsis são alguns dos destaques do Teatro do Bairro Alto (TBA), em Lisboa, para o primeiro trimestre de 2024.
O programa, que foi divulgado esta quinta-feira, começa justamente com o primeiro par de nomes aqui elencados. Entre os dias 12 e 14 de Janeiro, a coreógrafa e bailarina Vera Mantero e o músico e artista visual Jonathan Uliel Saldanha, duas figuras importantes dentro do panorama criativo nacional, apresentam Esplendor e Dismorfia e The Breaking Point, um espectáculo e uma curta-metragem de ficção, respectivamente, em que a dupla explora “o mundo de duas criaturas enigmáticas e assexuadas”, resume o TBA num documento com todo o seu programa para os próximos meses.
The Breaking Point terá no TBA a sua estreia absoluta, enquanto Esplendor e Dismorfia — que nasceu de “uma investigação sobre o que são monstros e metamorfoses corporais”, como explicou Vera Mantero no passado — foi apresentado pela primeira vez em 2019 no Festival de Avignon, em França.
Ainda em Janeiro, destaque para o concerto de Prétu, a mais recente “identidade” do rapper Chullage (dia 19), e para Krump Session (dias 27 e 28), nova versão de uma performance que Dougie Knight apresentou na última edição do festival Iminente. O primeiro álbum que Chullage assinou como Prétu, Xei di Kor, foi lançado no início de Outubro e eleito pelo Ípsilon como o segundo melhor disco de 2023. Movendo-se entre o português e o crioulo cabo-verdiano, e convocando várias linguagens musicais (funaná, batuque, semba, morna, hip-hop…), é um álbum que se ergue, combativamente, contra o racismo, o pensamento colonialista e demais venenos.
Por seu turno, Krump Session, que tem como subtítulo Ocupar o centro e celebrar a sobrevivência colectiva, marca o regresso de Dougie Knight ao TBA, depois de o bailarino, coreógrafo e cantor brasileiro sediado em Lisboa ter integrado, em Junho, o programa do ciclo OU.kupa, dirigido pela bailarina e coreógrafa Piny. Manifestação artística afro-americana nascida na viragem do milénio em bairros de Los Angeles, o krump (ou krumping), entendido como uma derivação do clowning, é “uma dança com uma estrutura ritualística de libertação, aceitação e resistência”, descreve o TBA, que com este espectáculo pretende celebrar “um estilo que, habitualmente, é mantido fora dos espaços institucionais”.
Nos dias 3 e 4 de Fevereiro, apresentam-se pela primeira vez em Portugal as Figs in Wigs, uma companhia britânica de cinco amigas que, entre a extravagância e a sátira, apresentarão Little Wimmin, que descrevem no seu site como a sua “adaptação feminista” do conhecido romance Mulherzinhas, de Louisa May Alcott.
Ainda em Fevereiro, tempo para a estreia absoluta de Se Não és Lésbica, Como é que te Chamas? (21 a 24 de Fevereiro), nova criação da actriz e encenadora Alice Azevedo. “Este espectáculo investiga as palavras que foram descrevendo ou prescrevendo o que eram certas pessoas, comunidades e práticas”, informa a sinopse da peça, que também coloca duas questões retóricas e relacionadas entre si: “Podemos ser de onde somos se não soubermos a história do nosso país? E se não soubermos a história das nossas lésbicas?”
No mês seguinte, entre os dias 6 e 9, a Cão Solteiro e Greg Wohead, actor e criador americano a viver em Portugal e colaborador frequente da companhia portuguesa, apresentam a criação conjunta The Man Who Was a Spoon. Na segunda quinzena do mês, a 22 e 23 de Março, Alexandra Bachzetsis regressa ao TBA para apresentar Notebook, espectáculo em que a coreógrafa e bailarina aborda “temas como a luxúria, a sexualidade, o excesso, a inocência, a dor e a efemeridade sob a forma de notas performativas que se manifestam numa pluralidade de vozes, imagens, corpos e objectos”. O bloco de notas, “companheiro indispensável do processo artístico”, reflecte a sua “afinidade artística” pelo “inacabado em processos de pensamento criativo e performativo."
Além destas propostas, a agenda do teatro para os primeiros três meses de 2024 inclui concertos inseridos no festival Rescaldo, workshops orientados por artistas como Filipa Bossuet ou Paulo Pascoal, uma conversa em torno do tema “fertilizar e nutrir” com convidadas/os de várias áreas (Aoaní Salvaterra, Henda Vieira-Lopes ou o colectivo Mulheres Negras Escurecidas) e uma conferência da geógrafa Kathryn Yusoff, dando-se assim continuidade à programação de discurso que tem ganho cada vez mais espaço no TBA.