O que é um ataque de pânico?
Um ataque de pânico é um episódio súbito e intenso de medo que desencadeia um conjunto de reações físicas. O que mais caracteriza esta perturbação é a sensação de morte iminente. Também pode definir-se como um ataque de ansiedade, mas a um nível extremo.
Os episódios de pânico surgem de forma súbita e podem acontecer a qualquer pessoa, mesmo a quem não tem nenhum tipo de antecedente. Por vezes, a pessoa não possui um quadro de ansiedade já diagnosticado quando tem o primeiro ataque de pânico.
No entanto, o mais comum é que, no contexto de consulta, o médico se aperceba de que existem situações — como traços de personalidade mais ansiosos e mais obsessivos ou contextos vivenciais de particular stress — que podem estar na base desta perturbação. Estas situações vão germinando e evoluindo, e acabam por resultar numa crise de pânico.
Uma pessoa que tem ataques de pânico é cismática, tem tendência para se preocupar exageradamente com alguns temas menores e foi sentindo ansiedade ao longo da vida, sinal que nunca valorizou. Depois, quando está numa situação de algum stress, acaba por ter um ataque de pânico. Também se pensa que a alteração no funcionamento de algumas zonas do cérebro pode ser relevante para explicar o porquê de esta perturbação surgir.
Os ataques de pânico também podem ocorrer em pessoas com outros transtornos psiquiátricos, como a depressão. Algumas crises surgem em resposta a uma situação específica. Uma pessoa que tem medo de andar de avião pode ter um ataque de pânico ao perceber que terá de o fazer. Outros ataques ocorrem sem, aparentemente, terem um factor desencadeador.
Estas crises começam, geralmente, no final da adolescência ou no início da idade adulta.
Os sintomas de um ataque de pânico
Os ataques de pânico começam sem aviso, subitamente, e podem manifestar-se fisicamente em vários órgãos do nosso organismo. Um batimento cardíaco acelerado , palpitações e hipertensão arterial são os principais sintomas cardiovasculares.
Náuseas, vómitos, diminuição do apetite, diarreia, obstipação ou aumento do trânsito gastrointestinal , dores abdominais, síndrome de intestino irritável, aumento da urgência urinária, alterações do período menstrual ou ao nível do apetite sexual também são sintomas desta perturbação.
Na parte pulmonar, a pessoa sente falta de ar, dispneia ou aceleração da respiração. Nos doentes que têm asma, há uma exacerbação dessa doença.
Também há sinais de um ataque de pânico na pele. Podem surgir urticárias e, para quem já têm um diagnóstico de psoríase, esta doença crónica da pele pode piorar.
Depois, há outros sintomas que se manifestam um pouco por todo o corpo: dores musculares, tensão no pescoço, cefaleias, desmaios, tonturas, sensação de formigueiro (parestesias) ou de vertigem.
Os sintomas podem ir variando de crise para crise. Uns surgem mais nuns doentes do que noutros. Normalmente, todos estes sintomas — os físicos e os psicológicos — já estão presentes nas crises de ansiedade mais ligeiras. Nas situações mais extremas, que são mais intensas, tudo isto é exacerbado e é acompanhado pela sensação de morte iminente.
Todos estes sintomas podem simular os sinais de um enfarte ou de um AVC , por exemplo, e é esta sensação que tanto medo causa às pessoas, que acham mesmo que estão perto da morte.
A frequência e duração dos ataques
Ao longo da vida, podemos ter um ataque de pânico e nunca mais voltar a ter nenhum. No entanto, se passarem a ser mais frequentes, é comum que se entre num círculo vicioso: o medo de ter um ataque de pânico é tão grande que pode tornar-se a origem desta perturbação . Nestes casos, quando o número de crises aumenta, a pessoa começa a pôr em prática mudanças de comportamento para os evitar.
Quando isto acontece, é-se diagnosticado com transtorno de pânico. As mulheres têm maior probabilidade do que os homens de desenvolver transtorno do pânico.
Alguém com este transtorno começa a estar mais atento aos sinais do próprio corpo e a entrar num estado de hiperalerta. Um dia, passa a interpretar erradamente e de uma forma exagerada os pequenos sinais e sintomas do dia-a-dia, como uma tontura ou uma palpitação ocasional.
Associa um determinado sintoma (e, no caso do ataque de pânico, são muitos e variados) à perturbação. Sabe que uma das situações começou com falta de ar, então, sempre que detecta este sintoma, vai achar que é o início de um novo ataque de pânico. Depois, começa-se a gerar ansiedade, a respiração acelera, a transpiração aumenta e acaba por ocorrer uma nova crise.
Quantos mais ataques a pessoa tem, mais vai ter. Há quem chegue a ter mais de uma crise de pânico por dia ou várias por semanas e há quem tenha “apenas” duas a três por mês.
É comum que, nesta fase, a pessoa comece a associar a crise de pânico ao local . Se uma das crises ocorrer enquanto estiver a conduzir, ganha medo de que o mesmo aconteça novamente e deixa de o fazer.
Se uma das crises surgir quando estiver no centro comercial, num restaurante, ou num cinema, não volta a estes espaços — mas, com o tempo, a lista de “sítios proibidos” começa a crescer e a pessoa ganha um medo constante até de sair à rua.
Nestes casos extremos, em que tudo isto lhes tira a qualidade de vida e em que até têm mais de uma crise por dia, acaba por procurar ajuda.
A duração temporal de um ataque de pânico é sempre variável de pessoa para pessoa. Tendencialmente, uma crise de pânico é curta e dura menos de quinze minutos porque o organismo não aguenta estar naquele estado de ansiedade durante muito tempo.
No entanto, na perspectiva da pessoa, as crises podem demorar mais de meia hora ou até mesmo uma eternidade, ainda que, na realidade, isto não seja verdade. A sensação de perigo iminente é tão avassaladora que perde a noção do tempo e acredita que o ataque de pânico dura o dobro ou triplo do tempo do que efetivamente durou.
Ter ataques de pânico causa sequelas?
Ter ataques de pânico não causa nenhuma sequela a médio e longo prazo . No entanto, dependendo da frequência desta perturbação, as crises têm um grande impacto na qualidade de vida das pessoas.
Infelizmente, não existe um método seguro para evitar os ataques de pânico, mas há alguns passos que podem ser seguidos para os controlar. Se estiver nesta situação, o primeiro passo é procurar um local tranquilo onde se sinta seguro para eliminar o excesso de estímulos externos. Depois, deve procurar concentrar-se em si próprio e na sua respiração. Pode experimentar relaxar os músculos, caminhar lentamente e tentar abrandar o fluxo de pensamentos, concentrando-se num objectivo ou contando até dez para se conseguir distrair.
É possível tratar ataques de pânico?
O tratamento dos transtornos de pânico passa por duas questões essenciais. A primeira é a medicação, e a segunda, a mais importante, é a abordagem psicoterapêutica . A terapia cognitiva ou comportamental deve ser feita em paralelo para conseguir uma remissão total do quadro e, depois, retirar a medicação aos poucos.
No fundo, esta abordagem passa por explicar à pessoa o que é uma crise de pânico e demonstrar que ninguém morre desta perturbação; que os sintomas podem fazer parecer que está prestes a morrer, mas que não correspondem à realidade. Explicar o que é que está na base das crises, analisar o estilo de vida da pessoa e os traços de personalidade que podem ter de ser trabalhados do ponto de vista mais cognitivo.
Depois, aos poucos, a pessoa é incentivada a frequentar os locais “proibidos” para perceber que ir ao cinema, por exemplo, não significa que terá uma nova crise. A partir daí, vai ganhando mais liberdade e chega a um ponto em que se sente outra vez com o nível de confiança que tinha.
Um terço dos adultos manifesta sinais de ataques de pânico
A perturbação de pânico é apenas uma das várias perturbações de ansiedade que existem. Outros exemplos são a agorafobia sem perturbação de pânico, perturbação da ansiedade generalizada, perturbação pós-stress traumático, fobia social, perturbação obsessivo-compulsiva, fobias específicas e perturbação de ansiedade de separação.
Sabe-se que os ataques de pânico são comuns. Anualmente, mais de um terço dos adultos em todo o mundo manifesta sinais de ataques de pânico. As mulheres são duas a três vezes mais propensas a este distúrbio do que os homens. O pânico patológico, por sua vez, é mais raro e diagnostica-se em menos de 1% da população.
Nenhum estudo se debruçou especificamente sobre os ataques ou perturbação de pânico, portanto é difícil perceber a dimensão do problema em Portugal. No entanto, podemos retirar algumas pistas do relatório divulgado em 2019 pelo Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza, intitulado A Saúde Mental em Portugal: Um Breve Retrato Epidemiológico e Social .
Prevalência de perturbações mentais e de uso de substâncias em Portugal
Em Portugal, as doenças mentais constituíam, em 2019, o quarto principal tipo de patologia em termos de Carga Global de Doenças, sendo a prevalência destas patologias a mais elevada entre os países da União Europeia (19,3%). Se acrescentarmos a esta análise os transtornos relacionados com o consumo de álcool e drogas, a prevalência de doenças mentais sobe para os 23,2%, sendo as perturbações de ansiedade e depressão as patologias mais comuns.
Embora os transtornos de ansiedade sejam o tipo mais prevalente em praticamente todos os grupos etários, é a depressão que surge como a condição mais incapacitante e penalizadora no que remete aos anos de vida perdidos.
Prevalência de perturbações mentais e de uso de substâncias por grupo etário na população portuguesa
Défice de atenção
Défice de atenção/hiperactividade
Deficiência intelectual
Deficiência intelectual de desenvolvimento idiopática
Quando analisamos a prevalência das diferentes perturbações mentais em grupos etários diferentes, os transtornos de ansiedade e a depressão voltam a destacar-se, com maior incidência a partir da população com dez ou mais anos, seguidos das perturbações associadas ao uso de substâncias. Com uma prevalência superior a 10% na faixa etária dos 10 aos 29 anos, que decresce até cerca de 8% nas faixas etárias mais elevadas, os transtornos de ansiedade constituem a principal fatia das patologias observadas na população portuguesa.
Embora a ocorrência dos transtornos de ansiedade seja marginal nos primeiros anos de vida (menos de 1% até aos 4 anos), a prevalência destas patologias tende a destacar-se logo entre 5 e 9 anos, afectando cerca de 5% da população neste grupo etário.
Perturbações do foro mental mais prevalentes por sexo
Transtornos ansiedade
Depressão
Transtornos por uso de substâncias
Doença bipolar
Défice de atenção/hiperactividade
Outras pertubações
Se, por um lado, os transtornos de ansiedade (11%) e os transtornos depressivos (7%) são as perturbações mais prevalentes entre as mulheres, nos homens os transtornos causados por uso de substâncias (7%) e ansiedade (7%) são as patologias mais comuns.
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