Uma viagem aos bastidores criativos da animação do filme Nayola
A longa-metragem de José Miguel Ribeiro chega agora ao espaço digital em edição e-book. Um guia para conhecer o processo criativo desta obra que revisita a história de Angola.
Depois de na última Primavera ter chegado às salas em Portugal, e na sequência de uma carreira que, até ao momento, contabiliza já a presença em meia centena de festivais e a conquista de 19 prémios em países como a Alemanha, Inglaterra, Hungria, Roménia, Brasil e México, a longa-metragem de animação Nayola (2022), de José Miguel Ribeiro, chega agora ao espaço digital em edição e-book.
Desde a primeira semana de Dezembro, Nayola. Uma Viagem pelo Processo Criativo, com autoria de Virgílio Almeida (o argumentista) e José Miguel Ribeiro (o realizador), encontra-se à venda online, em três línguas (português, francês e inglês), na Amazon, na Google Play na Kobo, além de um site criado expressamente pela produtora Praça Filmes para a comercialização da edição.
Até final deste mês, custa 6 euros, cortesia do desconto de lançamento de 40% no seu preço base – 10 euros.
Nayola, o filme – que teve a sua estreia mundial no Festival de Annecy, França, em 2022 –, foi o resultado de uma aventura de nove anos de José Miguel Ribeiro, que, após várias curtas de animação (incluindo a sempre lembrada A Suspeita, Cartoon d’Or em 2000), se aventurou na longa duração. De regresso a África, e depois de Viagem a Cabo Verde (2010) e Estilhaços (2016), o realizador/animador quis “fazer um filme angolano”. Pegou num texto escrito a quatro mãos por José Eduardo Agualusa e Mia Couto e encenou/animou uma história de guerra, escavando as sequelas – tanto da Guerra Colonial como da Guerra Civil que martirizou Angola entre 1975 e 2002 – em três gerações de mulheres de uma mesma família: Lelena (a avó), Nayola (a filha) e Yara (a neta).
José Miguel Ribeiro diz ao PÚBLICO que a ideia de avançar agora com a edição do e-book “surgiu na sequência do percurso que o filme fez por escolas francesas da Bretanha”, por iniciativa do co-produtor Jean-François Bigot (o filme resultou de uma co-produção luso-francesa, mas também com a Bélgica, os Países Baixos e… Angola).
“Fomos percebendo que, nas perguntas que foram surgindo por parte dos alunos e dos professores franceses, havia uma grande curiosidade sobre Angola, cuja história não é tão conhecida lá como cá”, explica o realizador.
Tanto em França, como em Portugal, de resto, a produção de Nayola está a tratar de que o filme entre no cartaz dos respectivos planos nacionais do cinema. “No caso português, já quando do lançamento do filme, promovemos uma sessão online com a presença de Virgílio Almeida, mas também de Mia Couto, de José Eduardo Agualusa e de [rapper] Medusa”, diz José Miguel Ribeiro, manifestando a expectativa de que a sua obra entre, de facto, no Plano Nacional de Cinema. Entretanto, cumprido o tempo da exploração comercial – que mobilizou 3410 espectadores, dando-lhe a 13.ª posição no ranking deste ano, entre meia centena de produções nacionais, segundo as contas do Instituto do Cinema e do Audiovisual –, Nayola continua a fazer o circuito pelas escolas e centros associativos do país, já com dezena e meia de sessões realizadas, e que irão continuar em 2024, acrescenta o realizador.
Com o título Nayola. Uma Viagem pelo Processo Criativo, o novo e-book propõe, ao longo de 12 capítulos e 119 páginas profusamente ilustradas e interactivas, uma efectiva viagem pelo longo processo de idealização e produção do filme. Contém informação histórico-documental sobre as duas guerras consecutivas que durante 40 anos flagelaram a população de Angola; um olhar sobre o país actual, “colonial e ancestral, e sobre a forma como a história, a cultura, os povos, as línguas e os ecossistemas deste país lindíssimo do sul da África foram incorporados no filme, numa narrativa visual e sonora, poética e deslumbrante”, diz o comunicado de divulgação do livro digital.
A edição oferece ainda o conto escrito por José Eduardo Agualusa e a peça de teatro de autoria conjunta deste autor angolano e do moçambicano Mia Couto, seguidos do argumento final. E também entrevistas com as três actrizes (Vitória Soares, Elisângela Rita e Feliciana Guia) que criaram as vozes das três protagonistas do filme, além dos vários elementos que ajudaram à escrita do argumento: memórias, poemas e canções dos actores angolanos.
São ainda acrescentados desenhos, estudos gráficos, testes de cor e de animação, que permitem ter uma ideia do complexo e demorado processo de criação artística desta autêntica viagem à história e ao imaginário de Angola.
Será que esta edição e-book poderá vir a ter o seu correspondente físico? José Miguel Ribeiro diz que tudo depende do interesse e da procura, o mesmo acontecendo com a edição do filme em DVD – algo que já aconteceu em França, este Natal.
Notícia corrigida: o preço base do e-book é 10 euros.