Promessa de voos suborbitais nos Açores adiada para o próximo ano

Os voos suborbitais a partir de Santa Maria decorrerão no primeiro semestre de 2024. No próximo ano, há também duas missões de reentrada no espaço preparadas para os Açores, diz Ricardo Conde.

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A operacionalização do centro tecnológico espacial começará em 2024, na ilha de Santa Maria Paulo Pimenta
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Já não será este ano que os primeiros voos suborbitais serão lançados a partir da ilha de Santa Maria, nos Açores. Apesar da expectativa criada por Elvira Fortunato, ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, a demora na revisão da lei do espaço (cujo diploma foi aprovado na semana passada) e alguns constrangimentos tecnológicos adiam esse primeiro lançamento a partir dos Açores para o próximo ano – mais concretamente, durante os primeiros seis meses de 2024.

“Vamos fazê-los [voos suborbitais] durante o primeiro ou o segundo trimestre de 2024”, confirma Ricardo Conde ao PÚBLICO. É um dos primeiros passos para a elevação de Santa Maria como zona de lançamento de pequenos foguetões.

Os voos suborbitais podem ultrapassar a linha de Kármán (a 100 quilómetros de altitude), convencionada como o limite entre a atmosfera terrestre e o espaço, mas não entram em órbita – motivando o regresso à atmosfera minutos depois, como acontece nos voos comerciais de Richard Branson e Jeff Bezos. Nos voos orbitais, o foguetão cruza este limite de Kármán a uma velocidade suficientemente elevada para permanecer em órbita no espaço.

Em Agosto, há apenas quatro meses, Ricardo Conde afirmava estar “convencido de que este ano” sairiam os primeiros voos suborbitais de Santa Maria, em declarações ao Expresso. Uma promessa partilhada pela ministra da tutela no aniversário do lançamento do PoSat-1, o único satélite português enviado para o espaço: “Esperemos que seja uma realidade no final deste ano”, afirmava Elvira Fortunato.

“O retorno do espaço ao nó de Santa Maria vai ser feito já em 2024”, adianta o presidente da Agência Espacial Portuguesa. “Estão já preparadas duas missões de reentrada para 2024. Vamos assinar brevemente os acordos.” O aumento das missões ao espaço que incluem o regresso de equipamento a Terra, sobretudo com os testes em curso do foguetão reutilizável da SpaceX (o Super Heavy), dá força a este interesse em mostrar o porto espacial de Santa Maria como capaz de receber missões de pequena e média escala – já que os grandes lançadores, como o Ariane 6, continuarão a passar pelo centro espacial da Guiana Francesa.

Ricardo Conde quer que Santa Maria evolua para um ponto de acesso e retorno do espaço. Para isso, há obras a caminho: “Estamos na fase de projecto para a construção do centro tecnológico espacial de Santa Maria, uma infra-estrutura com hangares e capacidade para ser um ponto de aterragem para veículos de retorno e também apta a manusear a carga útil que regressa do espaço”, diz. A construção começará, aponta, no início de 2024, de modo a receber as tais duas missões de reentrada – cuja identidade não revelou. “Queremos construir um ponto de referência para a Europa ter uma área onde pode fazer o retorno espacial.”

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior não respondeu às questões enviadas pelo PÚBLICO.

Para lá das duas missões de reentrada prometidas para 2024, há ainda o veículo Space Rider, criado como o primeiro sistema europeu de transporte para o espaço reutilizável. Este veículo será lançado com um foguetão Vega-C, que tem tido dificuldades em voltar ao espaço depois de uma falha no lançamento há um ano. A previsão mais recente para o lançamento do Space Rider já data de 2025. Para o porto espacial de Santa Maria, este não é um projecto qualquer. “Vamos tirar proveito da oportunidade de participarmos no veículo Space Rider que será lançado da Guiana Francesa, mas ainda não sabemos se aterrará na Guiana Francesa ou em Santa Maria. Há uma grande probabilidade que seja em Santa Maria”, defende Ricardo Conde.

Já em 2018 se avançava que o Space Rider aterraria nos Açores. Nessa altura, o secretário regional do Mar, Ciência e Tecnologia dos Açores, Gui Menezes, apontava para o segundo semestre de 2021. No entanto, o retorno desse veículo europeu não deverá acontecer antes de 2025 – e falta confirmar se será em Portugal.

Além dos voos suborbitais e de ser um ponto de retorno do espaço, Ricardo Conde admite que quer operadores espaciais a fixarem-se em Santa Maria, através de acordos “puramente comerciais” para voos orbitais e que não dependam de apoios estatais ou regionais. “É importante termos uma palavra na Europa através do nosso porto espacial, dando casa a estes pequenos lançadores”, refere, acrescentando que há uma grande indefinição sobre a rentabilidade económica, nomeadamente por falta de exemplos anteriores de empresas espaciais a lançar na Europa com um intuito meramente comercial.

“Há dúvidas das empresas não só sobre a maturidade dos foguetões como da viabilidade comercial. É tudo novo e veremos se as empresas estarão preparadas para isto”, remata.

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