Os irmãos Leite e os vinhos de homenagem à Madrinha fundadora
Quando pensavam já na reforma, Mário e José Leite herdaram de Margarida Vasconcelos, a quem chamavam “madrinha”, a Adega dos Leões - e os seus distintos tintos da casta vinhão.
Margarida Vasconcelos faleceu no passado mês de Abril e acabou, assim, por faltar à celebração do seu centésimo aniversário, que Mário e José Leite há muito preparavam em conjunto com a Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto. Mas a celebração cumpriu-se à mesma neste dia 6 de Dezembro, agora em formato de homenagem à Madrinha, a fundadora, mentora e dinamizadora da Adega dos Leões e dos seus distintos tintos da casta vinhão.
“Aqui a terra sempre foi de vinhos. Desde há séculos que se faziam vinhos na propriedade, mas foi ela que reestruturou a vinha, que apostou no vinhão, construiu e equipou a adega. E até contratou um enólogo [Jorge Sousa Pinto] para melhorar os vinhos. Mas só o deixou entrar na adega depois de lhe garantir que em circunstância alguma recorreria qualquer produto químico na elaboração dos vinhos”, contam os dois herdeiros de Margarida Vasconcelos que agora comandam os destinos da Adega dos Leões.
É em Cavez, debruçados sobre o Tâmega, que estão os cerca de 3,5 hectares das duas vinhas, a de Trofa e a de Salgueiró, que dão origem às cerca de 30 mil garrafas da produção anual.
“É da cuba do canto, que faz sempre o melhor vinho, que sai o Madrinha, um vinho de homenagem que só é engarrafado quando é mesmo bom”, explicam os sucessores, enquanto se esforçam no enquadramento com a imagem da Madrinha escolhida para a homenagem projectada nas cubas da adega.
Uma novela minhota
É uma autêntica novela minhota a história da Madrinha e da propriedade. De facto, nem os dois irmãos descendem de Margarida de Vasconcelos nem ela foi a sua madrinha. Mário e José são os filhos do caseiro, que foi depois também motorista e feitor das propriedades de Mário de Vasconcelos, o pai solteiro que haveria de deixar em testamento metade das suas propriedades à filha “ilegítima”, como ao tempo oficialmente se designava.
“Mário de Vasconcelos é que era o nosso padrinho, mas como ela era a filha sempre a tratámos por madrinha. Foi com o nosso pai e com ela que sempre acompanhámos a produção e os trabalhos na quinta, e, como não tinha descendentes, acabou por nos fazer herdeiros”, contam o professor Mário Leite e o chefe de serviços José Leite, que se tornaram também produtores de vinho quando olhavam já para a idade da reforma.
Este artigo foi publicado na edição n.º 12 da revista Singular.
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