Ataques no mar Vermelho fazem soar alarmes de disrupção da oferta e preços do petróleo disparam

Os preços do petróleo estão a disparar quase 4%, numa altura em que as maiores transportadoras estão a evitar uma das principais rotas globais de fornecimento, devido a ataques no mar Vermelho.

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O petróleo está a aproximar-se da fasquia dos 80 dólares por barril EPA/SASCHA STEINBACH
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Os preços do petróleo estão a subir nos mercados internacionais, depois de algumas das maiores transportadoras marítimas e petrolíferas terem decidido interromper a circulação de navios no mar Vermelho, devido aos ataques levados a cabo por militantes houthis, do Iémen, naquela que é uma das principais rotas globais de fornecimento de matérias-primas. Os receios em torno de possíveis disrupções na oferta estão a levar o petróleo para valores próximos dos 80 dólares por barril.

Na origem deste movimento nos mercados internacionais estão os ataques reivindicados por rebeldes houthis do Iémen – xiitas apoiados pelo Irão que controlam parte do país e que lutam contra o Governo reconhecido internacionalmente – a navios na rota de Bab al-Mandab, no mar Vermelho. Ainda esta segunda-feira, o grupo declarou que lançou um ataque com drones sobre um navio de carga de mercadorias, o último de uma série de mísseis e drones que têm sido lançados nesta região e que os houthis justificam como uma resposta aos ataques de Israel a Gaza.

Perante este cenário, várias empresas de transporte marítimo – incluindo a MSC, a Maersk e a Hapag-Lloyd – têm procurado rotas alternativas ao largo de África, evitando o Canal do Suez, uma estratégia que está a fazer aumentar custos e implica atrasos na entrega de encomendas, que deverão começar a sentir-se nas próximas semanas. Cerca de 15% do transporte marítimo de mercadorias passa pelo Canal do Suez.

Já esta segunda-feira, também a petrolífera BP anunciou uma pausa temporária nas rotas do mar Vermelho, uma decisão que está a ser vista pelos investidores como um sinal de que este evento, que até agora afectara maioritariamente o transporte de mercadorias, poderá chegar ao sector energético.

É neste contexto que, por esta altura, o barril de Brent, negociado em Londres e que serve de referência para o mercado europeu, está a disparar mais de 3,8% e a negociar em torno de 79,5 dólares, aproximando-se da fasquia dos 80 dólares por barril, pela primeira vez neste mês de Dezembro, em que a tendência tem sido de queda dos preços. Também o West Texas Intermediate (WTI), negociado em Nova Iorque, está a valorizar-se mais de 3,8% e é negociado nos 74,2 dólares por barril.

Para já, os efeitos destes ataques são incertos, até porque os Estados Unidos deverão intervir em breve. O secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, esteve esta segunda-feira em Israel, onde afirmou que os EUA estão “a liderar uma força multinacional no mar Vermelho para apoiar o princípio da liberdade de navegação”, sem dar mais detalhes.

“Estes ataques são perigosos e violam o direito internacional”, disse Austin, e, “sendo um problema internacional, merecem uma resposta internacional”, disse Austin, apontando ainda o dedo a Teerão: “O apoio iraniano aos ataques dos houthis a embarcações comerciais tem de parar.”

Mesmo sem uma coligação formal, há navios internacionais na área que têm levado a cabo patrulhas ou frustrado ataques, como o foi o caso de um navio francês que abateu um drone houthi na semana passada. Do ponto de vista de Israel, no entanto, isto está longe de ser suficiente, com uma análise no Haaretz a lamentar que não haja “uma resposta adequada à ameaça” provocada pelo grupo iemenita.

Mas mesmo se esta coligação for concretizada rapidamente, os analistas prevêem que, no melhor dos cenários, haverá, pelo menos, atrasos na entrega de mercadorias durante o mês de Dezembro. “Isto irá, pelo menos, levar a atrasos no final de Dezembro, com efeitos em Janeiro e, provavelmente, em Fevereiro, uma vez que a próxima ronda de encomendas também será atrasada”, comenta um analista do ING em declarações à Reuters.

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