A diáspora religiosa da ayahuasca

A Igreja do Santo Daime e a União do Vegetal nasceram na Amazónia, mas expandiram-se internacionalmente e há vários anos que se encontram em Portugal.

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As religiões ayahuasqueiras expandiram-se na década de 1980 da Amazónia para os centros urbanos do Brasil e do mundo Giulio Paletta/Education Images/Universal Images Group/Getty Images
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Para perceber o ritual místico da ayahuasca é preciso recuar ao xamanismo indígena amazónico. No caso brasileiro, o seu uso xamânico como ligação aos espíritos da floresta expandiu-se como tradição religiosa urbana no século XX.

Três correntes espirituais, associadas a seringueiros negros e a descendentes de escravos oriundos de outros estados do Brasil, nasceram do cruzamento entre a cultura indígena e a aceitação destes como discípulos do xamanismo: o Santo Daime nasceu em 1930 em Rio Branco, no Acre, a Barquinha em 1945, também na região de Rio Branco, fruto de uma dissidência da primeira, e a terceira, a União do Vegetal, em 1961, na Rondônia.

O “mestre” Irineu construiu uma cosmologia, datas e cânticos para a primeira, que reúne elementos afroindígenas, curandeirismo amazónico, catolicismo ou espiritismo. O “mestre Daniel, amigo e discípulo de Irineu, inspirou-se na Umbanda, uma religião afro-brasileira, para criar cerimónias e cosmologias próprias. O baiano José Gabriel da Costa criou a terceira, a mais organizada de todas, que dá pelo nome de Centro Espírita Beneficente Unidade do Vegetal ou simplesmente União do Vegetal. Gabriel Costa também chegou a ser preso por tráfico de droga, em 1967 (a bebida deixou, na década de 80, de ser considerada uma droga proibida no Brasil).

As duas primeiras expandiram-se internacionalmente e há vários anos que se encontram em Portugal. A última delas existe em todos os estados brasileiros e em países como EUA, Espanha, Suíça, Países Baixos, Austrália ou Itália.

A socióloga brasileira Paulina Valamiel Lopes nota que estas correntes expandiram-se, na década de 1980, “da Amazónia para os centros urbanos do Brasil e do mundo”, num movimento mais amplo de diáspora das religiões brasileiras.

“No caso específico das religiões ayahuasqueiras, estas têm atendido a um mercado religioso marcado pela busca da autenticidade e das alternativas de cura advindas do Sul global.” Valamiel Lopes, que tem estudado o Santo Daime em Portugal, diz que as igrejas ayahuasqueiras têm semelhanças entre si, mas salienta as diferenças, seja do ponto de vista cerimonial, dos seus hinos ou cosmologia, seja do ponto de vista do género, indumentária ou da organização hierarquia.

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