Dez anos da morte de Joan Fontaine, uma musa de Alfred Hitchcock

Fontaine não é a actriz que mais associamos a Hitchcock. No entanto, foi a única a ser nomeada por dois filmes realizados por Hitchcock e a ganhar o Óscar de Melhor Actriz por um deles.

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Megafone P3: 10 Anos da Morte de Joan Fontaine, uma musa de Alfred Hitchcock IMDB/DR
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Last night I dreamt I went to Manderley again”. Esta foi a deixa mais famosa que Joan Fontaine, actriz de aspecto requintado e frágil, falecida a 15 de Dezembro de 2013 (há 10 anos), alguma vez disse. É logo a primeira fala daquele que é o filme mais famoso da sua carreira, o melodrama gótico Rebecca (1940), de Alfred Hitchcock, um dos filmes de prateleira de quase todos os cinéfilos.

Fontaine não é a actriz que mais associamos a Hitchcock (mais facilmente pensamos em Grace Kelly e Ingrid Bergman). No entanto, foi a única a ser nomeada por dois filmes dirigidos por Hitchcock e a ganhar, por um deles, o Óscar de Melhor Actriz.

No ano em que foi nomeada por Rebecca, as candidatas ao Óscar de melhor actriz eram Katharine Hepburn, Bette Davis, Martha Scott e Ginger Rogers que, injustamente, foi a vencedora (Davis merecia o prémio pela angústia e devassidão que conseguiu projectar em A Carta).

Fontaine não venceu esse ano, mas ganhou pelo filme seguinte, Suspeita (1941), também realizado por Hitchcock. Toda a gente elogia Rebecca, mas Suspeita é entretenimento de primeira linha. Apesar do final decepcionante e forçado, conta com uma narrativa envolvente e uma fotografia interessante que espelha a agonia da protagonista.

Ainda assim, há quem diga que ganhou o Óscar com este filme para compensar o facto de o ter perdido por Rebecca. A meu ver, nem uma nem outra me parecem interpretações fantásticas, embora em Rebecca a sua actuação se destaque mais, transmitindo uma deliciosa vulnerabilidade que a iria caracterizar para o resto da sua carreira. Creio que o seu melhor trabalho (e também um dos seus preferidos) foi no filme romântico De Amor também se Morre (1943).

Mas a carreira de Fontaine não foi longa, nem abundante em grandes títulos. Tendo iniciado a sua carreira em 1935, não foi até 1940 que se tornou uma estrela. Depois de alguns filmes importantes, a meio da década de 1940 a sua carreira já não tinha grande força e não voltaria a ser a mesma. Vale destacar, desta fase, Carta de uma Desconhecida (1948), um filme pouco apreciado na altura do seu lançamento, mas que actualmente é elogiadíssimo pela crítica. É, de facto, um grande filme e as primeiras cenas, em que Fontaine faz de adolescente, são de uma sensibilidade arrebatadora.

Da sua carreira vale ainda destacar Alma Rebelde (1943), baseado no magnífico romance de Charlotte Brontë, Jane Eyre, que conta, aliás, uma história semelhante a Rebecca, ao ter em comum uma tenebrosa mansão e uma personagem de aparência simplória que faz um caminho de autoconhecimento.

Fontaine é irmã da grande actriz Olivia de Havilland, 15 meses mais velha, sendo histórica a rivalidade entre as duas. De Havilland foi a maior actriz de entre as duas e tem uma filmografia mais admirável. Porém, Fontaine trabalhou com realizadores mais conceituados: Hitchcock, Max Ophüls e Billy Wilder (se bem que o filme com este realizador, A Valsa do Imperador, é uma das suas obras menores e Fontaine é desadequada para a comédia).

Fontaine morreu antes da irmã, com 96 anos. Numa ocasião disse: "Casei-me primeiro, ganhei o Óscar antes de Olivia e, se morrer primeiro, ela ficará sem dúvida furiosa porque eu também terei vencido nisso!". E assim foi.

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